8 de janeiro: “Não há perdão para quem atenta contra a democracia”, diz Lula

Presidente discursou durante ato realizado no Salão Negro do Congresso Nacional para marcar um ano dos ataques às sedes dos Três Poderes da República
Foto: Adriano Machado/Reuters

Da Redação, com informações da CNN

O ato, denominado “Democracia Inabalada, foi realizado com a presença de autoridades dos Três Poderes, na tarde desta segunda-feira, 8, dia que marca um ano da invasão dos prédios do Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto, em Brasília. Em seu discurso, o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), destacou que o perdão aos invasores soaria como impunidade e salvo-conduto para novos atos terroristas.

“Todos aqueles que financiaram, planejaram e executaram a tentativa de golpe devem ser exemplarmente punidos. Não há perdão para quem atenta contra a democracia, contra seu país e contra seu próprio povo”, afirmou Lula

Lula agradeceu aos brasileiros e brasileiras que “se colocaram acima das divergências” para dizer “um eloquente não ao fascismo”.

“Porque somente a democracia, a divergência, podem coexistir com a paz”, explicou.

De acordo com o presidente, a democracia foi salva, mas nunca está salva, precisando ser construída e cuidada todos os dias. “A democracia é imperfeita, porque somos humanos – e, portanto, imperfeitos. Mas temos, todas e todos, o dever de unir esforços para aperfeiçoá-la.”

Importância da justiça social – O presidente Lula ressaltou que a fome é inimiga da democracia e não haverá democracia plena enquanto persistirem as desigualdades, seja de renda, raça, gênero, orientação sexual, acesso à saúde, educação e demais serviços públicos.

“Uma criança sem acesso à educação não aprenderá o significado da palavra democracia. Um pai ou uma mãe de família no semáforo, empunhando um cartaz escrito ‘Me ajudem pelo amor de Deus’, tampouco saberá o que é democracia”, declarou.

Agradecimento – O chefe do Executivo fez um agradecimento especial à Política Legislativa — responsável pelo Congresso Nacional — por sua atuação durante os atos criminosos de 8 de janeiro de 2023. Segundo Lula, “mesmo em minoria, se recusaram a admitir o golpe” e arriscaram suas vidas para cumprir o dever que tinham.

“Eu disse ao presidente Pacheco que um dia eu gostaria de vir aqui pessoalmente cumprimentar as polícias do Senado pelo ato de coragem e responsabilidade que tiveram naquele fatídico dia de 8 de janeiro”, citou.

Segundo Lula, se a tentativa de golpe fosse bem sucedida, muito mais que vidraças, móveis, obras de arte e objetos históricos teriam sido roubados e destruídos. “A vontade soberana do povo brasileiro, expressa nas urnas, teria sido roubada e a democracia teria sido destruída. A essa altura, o Brasil estaria mergulhado num caos econômico e social. O combate à fome e as desigualdades teriam voltado à estaca zero”, expressou.

“Nosso país estaria novamente isolado do mundo e a Amazônia reduzida a cinzas para a boiada e o garimpo ilegal passarem”, continuou.

Várias outras autoridades discursaram durante o evento

No evento “Democracia Inabalada” estiveram presentes autoridades de outros Poderes, como: Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado; Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF); Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE); e a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT).

A rede CNN destacou trechos dos discursos. Veja abaixo

Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF):

“O fortalecimento da democracia não permite confundir paz com impunidade ou esquecimento”, disse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

“Hoje também é o momento de reafirmar para o presente, que somos um único país. Somos um único povo. E, que a paz e a união de todos os brasileiros e brasileiras, devem estar no centro das prioridades dos Três Poderes e de todas as instituições. Mas, o fortalecimento da democracia não permite confundirmos paz e união com apaziguamento e esquecimento.”

“A impunidade não representa paz nem união. Todos, absolutamente todos, que compactuaram com a quebra da democracia e a tentativa de instalação de um Estado de exceção, serão devidamente investigados, processados e responsabilizados na medida de suas culpabilidades”, prosseguiu Moraes, que também fez uma contundente defesa da necessidade de regulamentação das redes sociais, classificando a desinformação nesse meio como “o maior instrumento de poder e corrosão da democracia”.

Rodrigo Pacheco, presidente do Senado e do Congresso Nacional:

Em sua fala, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), associou os conceitos de liberdade e democracia.

“Ulysses Guimarães concluiu: ‘A Constituição durará com a democracia e só com a democracia sobrevivem para o povo a dignidade, a liberdade e a justiça’”, lembrou.

“O ser humano somente pode ser livre quando há democracia, e a democracia somente existe quando se respeita o processo eleitoral. Desqualificar e desacreditar o processo eleitoral não ofende apenas as instituições republicanas ou a Justiça Eleitoral, ofende também, de uma maneira ainda mais grave, o povo brasileiro”, continuou.

Pacheco afirmou ainda que, passado um ano desde que a Esplanada dos Ministérios foi invadida, as grades que protegem o Congresso serão removidas.

“É chegada a hora, em 8 de janeiro de 2024, um ano após esta tragédia democrática do Brasil, abrir o Congresso Nacional para o povo brasileiro. Retirar essas grades que circundam o Congresso Nacional para que todos tenham a compreensão de que esta Casa é a casa deles, é a casa do povo, é a casa de representantes eleitos, onde as decisões devem ser tomadas para o rumo do Brasil”, declarou.

Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF):

O 8 de janeiro de 2023 deve representar o início de “um recomeço” no Brasil, disse o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso.

“Ninguém tem o monopólio do patriotismo, ninguém tem o monopólio do amor ao Brasil.”

O ministro relatou, ao longo de sua fala, uma das histórias que mais o abalou dentre todas que envolvem os ataques: “Após marretadas na parede muitos dos invasores se ajoelhavam no chão e rezavam fervorosamente. De onde, Deus do céu, poderá ter saído essa combinação implausível de religiosidade com ódio, violência e desrespeito?”, indagou. Em sua visão, há um “desencontro espiritual” em cenas como essa.

Para Barroso a depredação da sede dos Três Poderes não foi isolada, mas sim um ato “meticulosamente preparado”, mas que mesmo assim a destruição física dos prédios “não foi capaz de abalar o que cada um dos poderes simboliza”.

Fátima Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte:

A governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT) defendeu, nesta segunda-feira (8), a “devida punição aos que ousaram tentar destruir a democracia”.

“Com coragem e lucidez, é necessário afirmar, sim: sem anistia.”

A governadora se somou aos que se colocam contra a anistia e complementou: “não se trata de sentimento de vingança, nem revanchismo, é antes de tudo um ato pedagógico. Os que atentaram contra nossa democracia cometeram um crime e precisam responder pelos seus atos”.

A governadora foi a única chefe de uma unidade federativa a discursar, uma vez que é suplente de Ibaneis Rocha (MDB) no Fórum de Governadores. Rocha está em férias no exterior e, por isso, não compareceu à cerimônia.

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