135 anos de Boa Vista: desafios e potencial de uma capital amazônica

Com localização estratégica, riqueza cultural e forte presença migratória, a capital de Roraima busca equilibrar desenvolvimento econômico, inclusão social e sustentabilidade urbana em meio a desafios estruturais persistentes
Foto: PMBV

Boa Vista, capital do estado de Roraima, é uma cidade que carrega em sua formação traços únicos no contexto amazônico e nacional. Fundada em 1890 e sendo a única capital brasileira totalmente ao norte da linha do Equador, o município abriga mais de 413 mil habitantes, segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), concentrando mais de 65% da população do Estado. Seu traçado urbanístico central, com ruas em formato radial e inspiração francesa, é herança do plano elaborado pelo engenheiro Darcy Aleixo no século XX, que ainda molda parte de sua identidade visual.

Contudo, a imagem de uma capital planejada contrasta com o cenário atual de expansão urbana desordenada, desigualdade socioespacial, desafios de infraestrutura e pressões sobre os serviços públicos. Boa Vista cresceu aceleradamente nas últimas décadas, especialmente a partir de 2016, com o fluxo migratório intenso proveniente da Venezuela. Isso provocou um salto populacional, tensionando as estruturas da cidade, mas também abrindo novas oportunidades econômicas em áreas como comércio, turismo, agronegócio e economia criativa.

Hoje, a capital roraimense se vê diante de um desafio: como crescer com planejamento, garantir qualidade de vida, respeitar o meio ambiente e integrar a diversidade que compõe sua população? A resposta passa por políticas públicas robustas, reestruturação da legislação urbanística, valorização do capital cultural e econômico local e um olhar sustentável para o futuro.

Dinamismo econômico

Boa Vista, como capital do estado mais dependente da União em termos fiscais, ainda sustenta sua economia com forte presença do setor público. De acordo com o Relatório de Gestão Fiscal do Tesouro Nacional, de 2024, aproximadamente 60% das receitas do estado de Roraima têm origem em transferências federais, o que repercute diretamente na economia da capital. A administração pública, direta e indireta, responde por quase metade dos empregos formais do município, moldando não apenas o perfil ocupacional da população, mas também sua vulnerabilidade diante de mudanças nas políticas federais.

Contudo, a cidade tem dado sinais claros de busca por alternativas econômicas sustentáveis e autônomas. Localizada estrategicamente entre duas fronteiras — Venezuela e Guiana —, Boa Vista se encontra no centro de uma rota internacional de comércio e integração, o que favorece o escoamento de produtos, a circulação de pessoas e a inserção em cadeias produtivas mais amplas. A professora Ingrid Cardoso, do Departamento de Economia da Universidade Federal de Roraima (UFRR), observa:

“A cidade de Boa Vista, assim como o estado de Roraima, depende de grande parte da sua economia do setor público, e os repasses federais são essenciais nesse sentido. Apesar disso, vejo que há potencial para o desenvolvimento de outras atividades, especialmente pela proximidade com Venezuela e Guiana e o acesso que temos com ambos os países”.

Dados disponíveis no Portal da Transparência da Prefeitura Municipal mostram que, em 2024, Boa Vista recebeu quase R$ 2,4 bilhões em repasses federais, considerando tanto transferências diretas para a prefeitura quanto benefícios sociais pagos a cidadãos, como Bolsa Família, Auxílio Gás e Farmácia Popular. O Produto Interno Bruto (PIB) da cidade é de cerca de R$ 13,5 bilhões, segundo o IBGE, representando quase 75% do total da riqueza de Roraima. Já seu o PIB per capita fica em R$ 30,9 mil.

Segundo informações da Federação do Comércio de Roraima (Fecomércio-RR), baseadas em dados da Secretaria de Planejamento e Orçamento de Roraima (Seplan-RR), o setor de comércio representa cerca de 44% PIB de Boa Vista, sendo o motor da economia local ao lado dos serviços, que concentram mais de 70% das empresas registradas. A indústria de transformação, ainda incipiente, começa a ganhar espaço com o surgimento de pequenas agroindústrias ligadas à cadeia do agronegócio, especialmente em segmentos como beneficiamento de grãos, panificação, laticínios e produção de óleos vegetais.

Um dos reflexos desse dinamismo está na balança comercial: em abril de 2025, as exportações de Roraima totalizaram US$ 6,8 milhões, com alimentos processados, soja, margarina, extrato de malte e carnes liderando a pauta de exportação. Venezuela e Guiana responderam por 98,3% do destino dessas mercadorias. Boa Vista, como principal centro logístico, concentra grande parte dos serviços envolvidos nesse processo, desde o transporte até o armazenamento e a prestação de serviços portuários e alfandegários.

“O agronegócio já é uma realidade cujo potencial tem apresentado transformações econômicas para a região. As atividades oriundas dos benefícios da Área de Livre Comércio (ALC) existente em Boa Vista também são reais. E, por fim, o turismo cultural vinculado às tradições dos povos originários também tem força. Assim, temos potencial para as três áreas econômicas: agrícola, industrial e serviços”, avalia Ingrid Cardoso.

A ALC de Boa Vista, instituída pelo Decreto nº 6.614, de 23 de outubro de 2008, que regulamentou a Lei nº 8.256, de 25 de novembro de 1991, oferece incentivos fiscais para importação e comercialização de mercadorias, e tem potencial para se tornar um polo de integração com a América Latina. Apesar disso, seu aproveitamento ainda é limitado por gargalos logísticos, burocráticos e pela baixa industrialização local.

Além da agroindústria e do comércio transfronteiriço, o turismo surge como um vetor estratégico de diversificação. Boa Vista é porta de entrada para o Monte Roraima, a Serra do Tepequém e o Parque Nacional do Viruá — todos com potencial para o ecoturismo e o turismo de base comunitária. O fortalecimento do turismo de experiência, que valoriza a gastronomia local, o artesanato indígena e a produção audiovisual, vem sendo apoiado por iniciativas do Sebrae Roraima, como destaca Emerson Baú, superintendente da instituição:

“Boa Vista possui grande potencial em vários segmentos. Estamos trabalhando o fortalecimento de agroindústrias, serviços especializados e o turismo de experiência. A economia criativa, especialmente nas áreas da gastronomia, do artesanato e do audiovisual, tem crescido com apoio de redes colaborativas e capacitações”.

O ambiente de negócios local tem evoluído. Boa Vista foi uma das primeiras capitais brasileiras a aderir ao programa “Cidade Empreendedora”, promovido pelo Sebrae em parceria com a prefeitura, com foco em desburocratização, digitalização de serviços e estímulo à cultura empreendedora. O município lidera, em Roraima, o ranking de liberdade econômica e simplificação de processos para abertura de empresas, o que favorece a formalização de pequenos negócios, embora a informalidade ainda persista em larga escala.

A diversificação econômica, em último plano, também pode se dar por meio da inovação tecnológica e do fortalecimento do ecossistema digital. Em 2024, a cidade registrou aumento no número de startups voltadas para soluções em energia solar, logística, educação e e-commerce, muitas delas incubadas em parceria com a UFRR, o Instituto Federal de Roraima (IFRR) e o SebraeLab. A cidade conta com um ambiente favorável à implantação de novos polos tecnológicos, especialmente voltados à Amazônia Legal, bioeconomia e softwares com interface regional.

Boa Vista vive, portanto, um momento de transição: de uma economia centrada no setor público para uma matriz mais ampla, conectada com os mercados vizinhos, sustentada por novos arranjos produtivos e aberta à inovação. O desafio é transformar as oportunidades em políticas públicas eficazes de fomento, planejamento estratégico de longo prazo e formação de mão de obra qualificada para sustentar esse novo ciclo de crescimento.

Migração, informalidade e empreendedorismo

A informalidade é uma das características mais marcantes do mercado de trabalho em Boa Vista. De acordo com levantamento do IBGE, mais de 60% da população economicamente ativa da capital atua sem registro formal, um índice que está entre os mais altos do país. Esse cenário reflete não apenas entraves estruturais históricos, como alta carga tributária, dificuldades de acesso ao crédito e baixa qualificação, mas também transformações recentes provocadas pelo fenômeno migratório que redefiniu o perfil populacional e econômico da cidade.

Desde 2016, Boa Vista tornou-se o principal destino de venezuelanos que cruzam a fronteira em busca de refúgio e melhores condições de vida. Estima-se que mais de 53 mil imigrantes residam atualmente na capital, segundo dados da Operação Acolhida e do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur). Essa chegada massiva de pessoas impactou fortemente a dinâmica do trabalho, tanto formal quanto informal.

A professora Ingrid Cardoso aponta que a informalidade em Boa Vista é agravada por múltiplos fatores, mas ganha contornos específicos no contexto migratório. “A força de trabalho informal é reflexo de políticas tributárias excessivas e da ausência de transparência no processo de formalização. Especificamente em Boa Vista, a transitoriedade dos trabalhadores imigrantes e a baixa qualificação profissional contribuem para esse cenário”, afirmou.

Segundo estudo publicado pelo Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), em 2019, mais da metade dos trabalhadores venezuelanos em Boa Vista atuavam de forma informal, com forte presença nos setores do comércio ambulante, serviços domésticos, construção civil e alimentação. Muitos enfrentam barreiras linguísticas, dificuldade de reconhecimento de diplomas e ausência de redes de apoio, o que os empurra para ocupações de baixa remuneração e alta rotatividade.

Ainda assim, o impacto da migração no tecido econômico local não pode ser visto apenas sob a ótica da precarização. A ampliação do mercado consumidor, a diversificação da mão de obra e o surgimento de novos perfis de empreendedores representam efeitos colaterais positivos desse processo. A presença de migrantes contribuiu para dinamizar o pequeno comércio, impulsionar o setor de serviços e até mesmo estimular novos hábitos de consumo na cidade.

Emerson Baú destaca que esse movimento exigiu novas estratégias de apoio ao empreendedorismo local. “A presença de imigrantes ampliou o consumo em diversos segmentos e melhorou a oferta de mão de obra. Mas também elevou o número de empreendedores informais, pressionando a economia local. Atuamos com capacitações e programas de inclusão produtiva para enfrentar esse quadro”, informou.

O Sebrae Roraima vem desenvolvendo diversas ações de apoio aos migrantes e à população em situação de vulnerabilidade, como o programa Empretec para Refugiados, oficinas de formalização em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), e o Sebrae Delas, voltado ao empreendedorismo feminino, que atende brasileiras e venezuelanas. A instituição também lidera o projeto Educação Empreendedora, voltado para jovens da rede pública e migrantes, com foco na autonomia econômica e na geração de renda.

Parcerias com a Prefeitura de Boa Vista, o Governo do Estado, instituições como Acnur, Organização Internacional para as Migrações (OIM) e universidades públicas têm garantido uma rede mínima de apoio à formação e inserção produtiva de migrantes. O programa “Cidade Empreendedora”, desenvolvido em cooperação com o Sebrae, também tem buscado desburocratizar processos de abertura de negócios, simplificar tributos e fomentar o microcrédito produtivo.

Apesar disso, a concorrência entre negócios informais e pequenos empreendedores formais ainda é uma preocupação constante. O próprio Sebrae aponta que o excesso de informalidade compromete a sustentabilidade da economia local, reduz a arrecadação fiscal e cria um ambiente de competição desleal, especialmente para micro e pequenas empresas que operam com todas as obrigações legais.

Do ponto de vista social, os desafios são ainda mais profundos. A informalidade não garante acesso a direitos básicos, como previdência, seguro-desemprego ou licença médica. Isso significa que milhares de pessoas vivem em um limbo legal e social, à margem de políticas públicas permanentes e com alto grau de vulnerabilidade. Para as mulheres imigrantes, por exemplo, esse cenário se agrava ainda mais: muitas atuam em serviços informais de cuidado ou alimentação, sem nenhuma rede de proteção e enfrentando múltiplas formas de discriminação.

Apesar disso, há experiências positivas. Mercados temporários, feiras multiculturais e empreendimentos liderados por venezuelanos já fazem parte do cotidiano urbano de Boa Vista. Restaurantes com culinária andina, barbearias e pequenos comércios surgem em bairros como Calungá, 31 de Março e Liberdade, onde a presença migrante é mais expressiva. Isso reforça a importância de políticas públicas que valorizem a economia cultural e promovam a formalização com sensibilidade intercultural.

Desafios ao ordenamento urbano e à equidade territorial

Embora Boa Vista seja reconhecida como uma das poucas capitais brasileiras concebidas com planejamento urbanístico, o ideal modernista do ordenamento racionalizado cedeu lugar, ao longo das décadas, a um processo de crescimento descontrolado e mal articulado. O traçado radial projetado pelo engenheiro Darcy Aleixo, na década de 1940, ainda estrutura o centro histórico da cidade, mas não foi suficiente para conter o avanço periférico, marcado pela expansão horizontal, ocupações em áreas ambientalmente frágeis e aumento da desigualdade territorial.

A ausência de um planejamento urbano efetivo nas últimas décadas, somada à especulação imobiliária e à falta de instrumentos regulatórios modernos, contribuiu para a formação de bairros afastados, com baixa densidade populacional, infraestrutura precária e alto custo de manutenção urbana. O fenômeno, segundo especialistas, compromete a sustentabilidade da cidade e aprofunda a segregação socioespacial.

“O traço do planejador foi determinante no início. Mas ao longo das décadas houve uma ocupação induzida, muitas vezes liderada por interesses privados. As áreas que sofrem maior pressão hoje são aquelas com lagoas e sistemas hídricos, ocupadas tanto por moradores de baixa renda quanto por grupos empresariais”, alerta a professora Cláudia Nascimento, do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFRR.

Essa expansão se concentra especialmente na zona oeste da cidade, onde conjuntos habitacionais e loteamentos surgiram sobre áreas de várzea e lagoas temporárias, ambientes ecologicamente sensíveis e, muitas vezes, alagáveis. Um estudo de 2016, elaborado por Araújo Júnior, geógrafo e professor da UFRR, mostra que grande parte do território de Boa Vista está dentro de áreas suscetíveis a inundações, devido à sua ocupação sobre regiões de lavrado e sistemas lacustres. Os alagamentos de 2012, por exemplo, revelaram os riscos dessa urbanização dissociada das características ambientais do território.

“Boa Vista foi desenhada, mas não planejada com continuidade. O plano de Darcy Aleixo moldou o centro, mas faltaram instrumentos regulatórios para impedir a expansão horizontal. A cidade cresceu para as bordas, mesmo com muitos terrenos ociosos no centro. Isso encarece a manutenção da infraestrutura e favorece a especulação imobiliária”, aponta o professor.

De fato, o relatório de diagnóstico do novo Plano Diretor revela que Boa Vista tem mais de 600 mil metros quadrados de áreas vazias na região central, o que poderia acomodar até 96 mil pessoas, caso fossem adotados modelos de adensamento urbano sustentável. No entanto, a legislação vigente, defasada desde 2011, favoreceu a expansão horizontal em vez da verticalização racional e equitativa. A cidade conta hoje com apenas 72 habitantes por hectare, um dos índices de densidade mais baixos entre as capitais brasileiras.

Essa dinâmica compromete não apenas o acesso à moradia em regiões centrais, mas também o próprio direito à cidade. A criação de bairros majoritariamente residenciais em áreas periféricas, desconectados de serviços, empregos e lazer, impõe longos deslocamentos e reforça a exclusão territorial. Os bairros da zona leste, como Caçari e Paraviana, concentram renda, infraestrutura urbana e atenção do poder público, enquanto a zona oeste sofre com manutenção irregular, ausência de equipamentos culturais e degradação ambiental.

“A segregação em Boa Vista não é apenas resultado da migração. Ela é estrutural e econômica. A associação entre periferia e migrante é um discurso perigoso. Temos migrantes em toda a cidade, inclusive empreendendo e fortalecendo a economia. A exclusão territorial é resultado de políticas públicas que não garantem acesso igualitário aos espaços urbanos”, afirma Cláudia.

O professor Rui corrobora. “A cidade sofre com urbanização extensiva, tanto em áreas de maior como de menor renda. Isso aumenta o custo da manutenção da cidade e reduz o acesso das pessoas ao direito à moradia digna”.

O caso do Conjunto Pérola, na zona oeste, é emblemático. O projeto habitacional do Minha Casa Minha Vida recebeu famílias removidas da região do antigo “Beiral”, no bairro Calungá, onde hoje está o Parque do Rio Branco. A transferência, embora legalmente justificada, gerou discussões sobre gentrificação urbana e invisibilização da população mais pobre nos espaços centrais da cidade.

A reformulação do Plano Diretor, atualmente travada na Câmara Municipal, foi elaborada com apoio do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam) e prevê diretrizes para limitar a expansão urbana, estimular o adensamento sustentável, proteger áreas ambientais e incentivar a multifuncionalidade dos bairros. Apesar disso, enfrenta resistência política e pressões do mercado imobiliário.

“Boa Vista precisa abrir espaço para verticalização sustentável e inclusiva, não só para a classe média alta. É preciso limitar a zona de expansão urbana, aproveitar as áreas centrais ociosas e pensar em instrumentos que permitam que o crescimento da cidade aconteça com justiça espacial”, defende Rui Rosário.

Além disso, a política habitacional segue aquém das necessidades. Segundo dados de 2023 do Ministério das Cidades, Boa Vista possui o segundo maior déficit habitacional proporcional do Brasil, com milhares de famílias vivendo em situação de coabitação forçada, aluguel excessivo ou áreas irregulares.

Educação, inclusão e diversidade

Boa Vista tem se consolidado como referência em educação pública na região Norte do país, alcançando indicadores expressivos de desempenho. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a rede municipal de ensino obteve nota 6,6 no Ideb dos anos iniciais do ensino fundamental, resultado superior à média nacional (5,8) e entre os melhores da Amazônia Legal. Com mais de 109 mil alunos matriculados nas redes pública e privada, a capital concentra a maior parte do contingente estudantil de Roraima e carrega o peso de uma missão ampliada nos últimos anos: educar em meio a uma diversidade crescente de línguas, culturas e histórias de vida.

Desde 2016, milhares de crianças e adolescentes venezuelanos chegaram à capital acompanhando suas famílias, ou, em muitos casos, sozinhos. A Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC) estima que, atualmente, mais de 4 mil estudantes migrantes estejam matriculados na rede municipal, representando quase 10% do total de alunos. O fenômeno impôs uma reconfiguração no perfil das salas de aula, exigindo novas estratégias pedagógicas e adaptações institucionais.

“Tivemos que repensar a prática docente, pois muitos estudantes vêm de contextos linguísticos e culturais diversos. Ainda faltam materiais adaptados e formação continuada”, afirma a professora Catarina Padilha, que atua em uma escola da zona oeste da capital.

Para dar conta dessa nova realidade, a Prefeitura de Boa Vista realizou, entre 2013 e 2023, a construção de 32 novas unidades escolares, incluindo Centros de Educação Infantil (Casas Mãe), escolas Proinfância e escolas de tempo integral. Também reformou 52 unidades escolares, ampliando a capacidade da rede em mais de 16 mil novas vagas, segundo dados da SMEC e do Portal da Transparência. O investimento total em infraestrutura educacional nos últimos anos superou R$ 34 milhões.

Além da ampliação da rede física, o município vem promovendo capacitações específicas para docentes que atuam com crianças migrantes, indígenas e em situação de vulnerabilidade. Oficinas de formação intercultural, noções básicas de espanhol e dinâmicas de acolhimento têm sido incorporadas aos programas de desenvolvimento profissional, embora ainda de forma pontual e com limitações operacionais.

Um dos principais entraves relatados por professores e coordenadores pedagógicos é a barreira linguística. Muitas crianças venezuelanas ingressam na escola sem falar português, o que dificulta o acompanhamento do currículo, o relacionamento com colegas e a participação nas atividades escolares. Em alguns casos, há também lacunas educacionais herdadas do processo migratório, com alunos que ficaram fora da escola por anos.

A ausência de professores bilíngues e materiais didáticos específicos ainda limita o processo de aprendizagem. Embora algumas escolas contem com intérpretes ou mediadores culturais — muitas vezes voluntários ou vinculados a organizações como o Acnur e a OIM — não há uma política municipal estruturada de educação bilíngue ou de educação intercultural, o que impacta a permanência e o desempenho desses estudantes.

Apesar desses desafios, há experiências exitosas. Escolas como a Escola Municipal Laucides Inácio de Oliveira, no bairro Nova Cidade, criaram espaços de convivência intercultural, com atividades que valorizam a cultura, a música e os saberes tradicionais dos países de origem dos alunos. A celebração do Dia do Migrante, oficinas de culinária e rodas de conversa sobre identidade cultural são algumas das práticas que têm contribuído para a inclusão e o fortalecimento da autoestima desses estudantes.

Outro fator que merece destaque é o impacto da presença migrante na formação de novas lideranças estudantis e no enriquecimento da vida escolar. Na escola, alunos venezuelanos já atuam como representantes de turma, organizadores de eventos culturais e monitores de leitura, muitas vezes auxiliando colegas brasileiros a aprender palavras em espanhol. Essa troca tem contribuído para a construção de um ambiente mais plural, empático e cooperativo.
No entanto, especialistas alertam que a permanência dos bons indicadores educacionais dependerá da capacidade do município em responder de forma sistêmica à diversidade em sala de aula. Para a pesquisadora Márcia Galvão, que estuda políticas educacionais e migração na Amazônia, o risco é o esgotamento da rede pública diante da demanda crescente:

“A rede municipal de Boa Vista tem feito um esforço notável, mas é preciso uma política intersetorial, com apoio federal, formação continuada dos professores, materiais didáticos adequados e estrutura para atender às especificidades linguísticas e culturais dos alunos migrantes”, pontuou.

Além da população migrante, Boa Vista também abriga uma diversidade de povos indígenas, muitos deles em processo de migração interna do interior do estado para a capital. Crianças das etnias Macuxi, Wapichana, Yanomami, Ingarikó e Taurepang frequentam escolas públicas urbanas, reforçando a necessidade de uma pedagogia que valorize o conhecimento tradicional e promova o respeito às culturas originárias.

Por Amanda Gabriele, estagiária sob a supervisão de Francisco Gomes MTB (2238/AM).


Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548

Warning: Invalid argument supplied for foreach() in /home/pimamazonia/www/wp-content/themes/astra/inc/extras.php on line 548
Rolar para cima