Autor: Jorge Junior, presidente executivo da Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes de Eletrodomésticos)
Não é exagero dizer que o meio ambiente brasileiro é um ativo geopolítico. Em um cenário global onde a transição energética, a segurança climática e o desenvolvimento sustentável ocupam o centro das discussões, a Amazônia se consolida, ou deveria se consolidar, como um ativo estratégico do Estado brasileiro. Não apenas do ponto de vista ambiental, mas também econômico, tecnológico, social e reputacional.
É justamente aqui, na floresta mais biodiversa do planeta, que o Brasil tem a oportunidade de demonstrar que é possível conciliar responsabilidade ambiental com competitividade industrial. O modelo Zona Franca de Manaus é uma das provas mais concretas dessa equação. Por trás de cada produto industrializado com selo da Amazônia existe um modelo que preserva a floresta, gera emprego qualificado no interior do Brasil, fortalece a presença do Estado em áreas remotas e reduz pressões econômicas sobre o bioma.
A indústria regional opera sob critérios ambientais rigorosos e sob um pacto federativo que precisa ser compreendido, valorizado e, sobretudo, defendido.
Mas não basta defender. É hora de reposicionar. O futuro da Amazônia passa pela industrialização sustentável, pela bioeconomia e pela valorização das cadeias produtivas de base florestal. Esses caminhos não podem seguir apenas no discurso. Precisam se transformar em políticas públicas consistentes, linhas de crédito, programas de capacitação, investimentos privados e geração de emprego real.
Preservar a floresta não significa condenar sua população à pobreza. É justamente o contrário. Falar em floresta em pé sem garantir dignidade de vida para quem nela vive é uma contradição que o Brasil não pode mais sustentar. É hora de dar protagonismo à população amazônida. De garantir que as riquezas naturais da floresta se convertam em bem-estar, oportunidades e respeito.
Valorizar o amazônida é essencial para que tenhamos, de fato, um olhar correto sobre a Amazônia. Não se pode construir um projeto de futuro para a região sem colocar no centro da equação quem vive, trabalha, preserva e produz nesse território. São essas pessoas, indígenas, ribeirinhos, agricultores, trabalhadores urbanos e industriais, que sustentam a floresta todos os dias com suas práticas, sua cultura e sua resistência. Desenvolvimento sustentável sem dignidade e inclusão é apenas retórica verde.
A riqueza gerada pela indústria instalada na Amazônia, especialmente por meio da Zona Franca de Manaus, precisa ser utilizada com inteligência estratégica para potencializar uma nova matriz econômica na região. Uma matriz mais diversificada, tecnológica, conectada com a bioeconomia, com a ciência, com os serviços ambientais e com o turismo sustentável. É a partir dessa base que poderemos oferecer qualidade de vida real para a população local com renda, emprego, educação, saúde, infraestrutura e bem-estar. Preservar a floresta é importante. Preservar a dignidade do povo que a protege é indispensável.
Falta ao país um olhar mais realista, humano e estratégico sobre a Amazônia. O desenvolvimento sustentável não é um luxo ou um apelo internacional, é uma necessidade nacional. O Brasil precisa tratar a Amazônia não como um território a ser observado de longe, mas como um centro de decisão, de inteligência e de inovação.
O futuro do Brasil passa pela Amazônia. E só será sustentável se for, ao mesmo tempo, verde e justo e proporcionar dignidade aos amazônidas.
