No primeiro dia da Pré-COP, evento preparatório para a COP30, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou como prioridade a ampliação do financiamento climático para países em desenvolvimento. A proposta central é o Mapa do Caminho de Baku a Belém, que busca mobilizar US$ 1,3 trilhão por ano até 2035. Realizada em Brasília, a Pré-COP segue até esta terça-feira (14/10) e reúne negociadores de 67 países, entre diplomatas, ministros e representantes de governos, preparando o terreno para a COP30, que ocorrerá em Belém daqui a um mês.
Durante décadas, extraímos da natureza os recursos que moveram o desenvolvimento econômico. Agora, é hora de inverter essa lógica: redirecionar recursos humanos, financeiros e tecnológicos para preservar, restaurar e usar, de forma sustentável, os recursos naturais que ainda temos, afirmou a ministra do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, Marina Silva.
Marina Silva destacou a necessidade estimada de US$ 280 bilhões por ano apenas para proteger as florestas, quatro vezes mais do que o que está disponível atualmente. Outros US$ 16 bilhões ao ano são necessários, segundo ela, para a conservação dos oceanos.
Durante a mesa redonda ministerial da Pré-COP, houve forte convergência entre os países participantes sobre a urgência de soluções multilaterais, especialmente no tema da adaptação climática. O presidente designado da COP30, embaixador André Corrêa do Lago, relatou que o alinhamento em torno do fortalecimento do multilateralismo foi evidente, com destaque para a adaptação como consenso entre países ricos, médios e pequenas ilhas.
“Deu para sentir um alinhamento grande com o desejo do fortalecimento do multilateralismo, isso não há a menor dúvida. O tema da adaptação foi muito enfatizado. Super enfatizado. Adaptação de país rico a pequenas ilhas, país médio, adaptação [foi] consenso geral”, afirmou em entrevista a jornalistas.
Apesar da importância do tema, apenas 62 dos 195 países apresentaram formalmente suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), cobrindo apenas 31% das emissões globais. Delegações de grandes emissores como União Europeia e Índia ainda não renovaram seus compromissos, o que preocupa diante da meta de limitar o aquecimento global a 1,5ºC até o fim do século, conforme estabelecido no Acordo de Paris.
“É essencial que as conversas na Pré-COP incentivem maior ambição, compromissos climáticos adequados e, acima de tudo, o financiamento necessário para possibilitar avanços reais”, apontou Gustavo Souza, diretor sênior de Políticas Públicas e Incentivos da Conservação Internacional (CI-Brasil).
Outro ponto relevante é a demanda por espaços formais para viabilizar a chamada Transição Justa, que garanta um futuro digno às comunidades que precisarão transformar seus modos de vida. A proposta, chamada de Mecanismo de Ação de Belém (BAM), é impulsionada pela Climate Action Network (CAN), uma rede global com mais de 1,9 mil organizações em mais de 130 países. Anabella Rosemberg, especialista em justiça social da CAN, afirmou que diálogos não são suficientes e que é preciso constituir uma entidade estável para implementar uma transição justa real.
A ideia é que esse mecanismo multilateral acelere e apoie os esforços nacionais de transição, facilitando o financiamento e o apoio técnico. Isso representaria um avanço em relação ao Programa de Trabalho para uma Transição Justa (JTWP), criado na COP28 em Dubai. Além da institucionalização do BAM, as organizações também defendem a uniformização conceitual sobre o que significa Transição Justa, abrangendo não apenas a questão energética, mas todos os impactos sociais e econômicos da transformação climática.
Com informações da Agência Brasil
