A divulgação dos resultados do Censo Demográfico 2022: Etnias e Línguas Indígenas, realizada nesta sexta-feira (24/10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que a região Norte permanece como o principal território de diversidade étnica e linguística indígena no país. O levantamento mostra que o Amazonas, com 259 etnias identificadas, é o segundo estado com maior diversidade do Brasil, atrás apenas de São Paulo (271).
Entre as etnias mais populosas, três estão fortemente presentes na Amazônia: Tikúna (74.061 pessoas), Kokama (64.327) e Makuxí (53.446). Os Tikúna, habitantes tradicionais das margens do Solimões, lideram o ranking nacional, seguidos pelos Kokama, cuja presença se estende entre o rio Amazonas e o rio Solimões, inclusive em áreas urbanas e fora de Terras Indígenas (TIs) reconhecidas. Já os Makuxí têm grande concentração em Roraima, nas fronteiras com a Guiana e a Venezuela.
O Censo 2022 identificou 391 etnias em todo o país, um aumento expressivo em relação às 305 registradas em 2010, e contabilizou 1,69 milhão de pessoas indígenas, número quase 90% superior ao recenseamento anterior. Desse total, 74,51% declararam sua etnia e 295 línguas indígenas foram identificadas, com 474 mil falantes de dois anos ou mais de idade.
No Norte, a língua Tikúna é também a mais falada do Brasil, com 51.978 falantes, seguida pela Guarani Kaiowá (38.658) e Guajajara (29.212). O levantamento revelou que, embora o número absoluto de falantes de línguas indígenas tenha aumentado, houve redução percentual no país: de 37,35% em 2010 para 28,51% em 2022. Dentro de TIs porém, o uso de línguas próprias se fortaleceu, passando de 57,35% para 63,22%.
A gerente de Povos e Comunidades Tradicionais do IBGE, Marta Antunes, destacou que o estudo reafirma o Brasil como um dos países de maior diversidade étnica e linguística das Américas.
“O Brasil tem essa diversidade étnica e linguística expressiva. Esse quantitativo de etnias e de línguas faladas é muito significativo. Ao mesmo tempo, tivemos esse grande aumento da população indígena entre 2010 e 2022, de quase 90%. Então, havia muita curiosidade: quem são esses indígenas?”, afirmou.

O levantamento também apontou que a reafirmação identitária e os processos de autoafirmação étnica contribuíram para o aumento no número de grupos reconhecidos. Segundo Antunes, muitos indígenas que antes não declaravam seu pertencimento passaram a fazê-lo, impulsionados por políticas de visibilidade e pela valorização cultural.
Em termos territoriais, 335 etnias foram registradas dentro de Terras Indígenas, e 373 fora delas, números superiores aos observados em 2010. Fora desses territórios, o crescimento da população indígena foi mais acentuado em áreas urbanas, que passaram de 324 mil pessoas em 2010 para 844 mil em 2022.
Municípios com mais indígenas
As cidades com maior número de etnias indígenas identificadas pelo Censo 2022 são São Paulo (194 etnias), Manaus (186), Rio de Janeiro (176) e Salvador (142). No Distrito Federal, foram registradas 167 etnias. Entre os municípios fora das capitais, destacam-se Campinas (SP), com 96 etnias, Santarém (PA), com 87, e Iranduba (AM), com 77. Segundo Fernando Damasco, gerente de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE, o crescimento da diversidade étnica em cidades médias está relacionado à presença de universidades, políticas de inclusão e mobilizações indígenas.

Desigualdades
Os dados mostram que os Tikúna, Guarani-Kaiowá, Kokama, Makuxí e Guajajara estão entre os povos com maior número de domicílios sem acesso adequado a água encanada, coleta de lixo e rede de esgoto. Entre os Tikúna, por exemplo, 74% não têm acesso à água canalizada e mais de 92% vivem sem sistema de esgotamento sanitário adequado.
Entre as 1,19 milhão de pessoas indígenas de 15 anos ou mais, a taxa de analfabetismo caiu de 32,13% em 2010 para 21,45% em 2022, mas ainda é maior entre aqueles que falam apenas línguas indígenas. A alfabetização é mais elevada entre os que falam português, alcançando 87,21%.
Outro dado que preocupa é o registro de nascimento de crianças indígenas: 5,42% das crianças de até cinco anos não possuem registro, proporção dez vezes maior que a média nacional. No Norte, o caso mais crítico é o dos Yanomami, com 3.288 crianças (65,5%) sem registro de nascimento, seguido dos Sanumá (97,3%) e Makuxí (7,89%).
A gerência de Territórios Tradicionais e Áreas Protegidas do IBGE, representada por Fernando Damasco, ressaltou que o levantamento também mapeou as mudanças no uso das línguas e os impactos da urbanização.
“O avanço do português nas Terras Indígenas é um destaque. A ausência de políticas educacionais específicas que garantam o ensino em línguas indígenas contribui para esse cenário”, afirmou.
Mesmo assim, Damasco destaca o potencial de resistência cultural: “Apesar da ampliação do uso do português, houve crescimento no número de falantes de línguas indígenas, fruto de ações de revitalização e de fomento à educação bilíngue”, disse.
Com informações da Agência IBGE de Notícias



