“A emergência climática é real, e precisamos ter um debate sério e urgente sobre este tema”

Entrevista com o governador do Pará, Helder Barbalho
Governador do Pará, Helder Barbalho

O estado do Pará se prepara para receber a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém (PA), em novembro de 2025. De acordo com estimativas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), é esperado um fluxo de mais de 40 mil visitantes durante os principais dias da Conferência. Deste total, aproximadamente 7 mil compõem as equipes da ONU e delegações de países membros.

Confira a seguir a entrevista exclusiva concedida à PIM Amazônia pelo Governador do Pará, Helder Barbalho, que dentre outros assuntos fala dos investimentos liderados pelo Estado na preparação da cidade de Belém para receber o evento, e principalmente do legado que vai ficar para os habitantes da região.

O SENHOR FOI PREFEITO DE ANANINDEUA COM 25 ANOS, O MAIS JOVEM PREFEITO ELEITO DO PARÁ. QUAIS EXPERIÊNCIAS PODEM SER TRAZIDAS DO EXECUTIVO MUNICIPAL PARA O EXECUTIVO ESTADUAL?

Sou um municipalista! É na cidade onde estão as pessoas. É na cidade que estão os serviços básicos que a população mais precisa no dia a dia. Esse entendimento me permite ter uma visão da realidade dos paraenses. Eu conheço todos os municípios do Pará e os seus desafios.

Por isso em nosso Governo andamos tão próximos das Prefeituras e auxiliando em parcerias diversas, como por exemplo, na reforma e ampliação de hospitais municipais, asfaltando ruas, equipando guardas municipais, construindo creches, fazendo ou reformando áreas esportivas e culturais, entre outros. São ações municipais, mas que o Governo anda junto porque sabe que impacta positivamente de forma direta na vida das pessoas.

EM 2016 COMO MINISTRO DA INTEGRAÇÃO, O SENHOR JÁ ESTAVA ATENTO AO TEMA SUSTENTABILIDADE, COMO POR EXEMPLO NAS INSTALAÇÕES DE PLACAS SOLARES NA REGIÃO NORTE. QUANDO ESSE ASSUNTO FICOU IMPORTANTE PARA O HELDER?

Sustentabilidade é o futuro. Em cada cargo que ocupei sempre defendi essa bandeira que dialoga com o futuro do planeta e, em particular ao nosso Estado, abre uma janela de oportunidades. No Governo do Pará, nossa estratégia para desenvolvimento socioeconômico do Estado passa pela utilização do potencial ofertado pela economia verde. Somos um Estado que possuí 75% do seu território de floresta nativa e apostamos que é viável a construção de uma nova e economia verde para o Pará. Decidimos avançar na preservação do bioma com políticas públicas inovadoras para agregar valor à floresta amazônica de tal modo que possamos fazer com que a floresta viva possa valer mais do que floresta morta e com isto poder garantir qualidade de vida, geração de oportunidades e empregos aos povos da Amazônia.

NOS ÚLTIMOS ANOS O ESTADO DO PARÁ TEM LIDERADO AS DISCUSSÕES NO BRASIL SOBRE O MEIO AMBIENTE E AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS, PROPONDO INCLUSIVE ALGUMAS SOLUÇÕES PARA OS IMPACTOS CAUSADOS NO ECOSISTEMA. O QUE A AMAZÔNIA PODE GANHAR SENDO A GRANDE PROTAGONISTA DESSE NOVO TEMPO?

A emergência climática é real, e precisamos ter um debate sério e urgente sobre este tema – a nossa existência enquanto sociedade, a nossa sobrevivência enquanto espécie, dependem da capacidade de preservar o planeta em que vivemos, em especial a floresta tropical que tem um importante papel para regular a temperatura do planeta.

Logicamente as discussões sobre o clima não podem ignorar os povos da Amazônia, e a questão central é a seguinte: como proteger esta floresta e assegurar que ela traga desenvolvimento para as pessoas que dependem dela?

Hoje, a agenda do Pará não é só combate ao desmatamento. Eu tenho sempre dito que sem comando e controle não é possível chegar aonde queremos e só com comando e controle também não é possível avançar. Nesse sentido, já estamos no segundo ano consecutivo de redução de 21% no desmatamento de acordo com dados oficiais, mas não é só isso. Estamos estimulando a bioeconomia, para que possamos fazer a transição para um modelo econômico de baixas emissões de carbono, e ao mesmo tempo, também estamos investindo em recuperação florestal, no pagamento por serviços ambientais, e avançando na estruturação do Sistema Jurisdicional de REDD+, para a comercialização de créditos de carbono no mercado voluntário.

Além de combater o crime é preciso dar alternativas para a população, porque se o crime for a única saída haverá reincidência. Então é desta forma que estamos atuando: mostrando para o mundo que cuidar da Amazônia é proteger as pessoas que fazem parte da Amazônia. Temos em nosso território 30% de toda a população que vive na Amazônia, e não podemos ignorar as necessidades deste povo.

A alternativa que propomos está no desenvolvimento de atividades sustentáveis, como o turismo comunitário, o cooperativismo, a bioeconomia, para mostrar que a floresta viva vale muito mais do que uma pilha de toras de madeira ou uma área destruída pelas queimadas ilegais. Assim geramos emprego e renda para a população sem que ela precise destruir este bioma tão importante para sobreviver com dignidade.

COM A ESCOLHA DE BELÉM PARA SEDIAR A COP-30, A AMAZÔNIA VAI ENFIM SER PALCO DAS DISCUSSÕES RELATIVAS ÀS MUDANÇAS CLIMÁTICAS. QUAL É A MENSAGEM QUE O BRASIL PRETENDE PASSAR PARA O MUNDO?

Vamos fazer da Amazônia o palco para a discussão que vai balizar as nossas ações para manter viva a espécie humana, e faremos isso de forma histórica. A mensagem que queremos transmitir é de que é possível se desenvolver preservando a natureza e estamos dizendo como fazer isso. O Plano de Bioeconomia do Pará, primeiro do Brasil, e que hoje é referência para a elaboração de uma iniciativa nacional, demonstra o caminho para que esse modelo econômico que prioriza as pessoas, o conhecimento ancestral, os saberes e os fazeres dos povos da floresta seja potencializado e ganhe escala.

Hoje o Pará tem a meta ousada de até 2036 neutralizar as suas emissões de carbono, e colocaremos esses e outros objetivos no centro das discussões, demonstrando nossos avanços.

DE QUE FORMA A INFRAESTRUTURA DE BELÉM E REGIÃO METROPOLITANA VAI SER BENEFICIADA COM A REALIZAÇÃO DE UM EVENTO DESTA MAGNITUDE? QUE MELHORIAS A SOCIEDADE PARAENSE PODE ESPERAR COM O TÉRMINO DO EVENTO?

Desde o anúncio de Belém como sede da COP 30 nós fizemos uma série de estudos para ver quais seriam os pontos centrais da capital paraense e da região metropolitana que necessitariam de intervenções do governo do estado para a realização da COP. Porém mais do que preparar a cidade para este grande evento nós queremos deixar um legado para a população do estado do Pará. Quando construímos um novo Parque da Cidade não é só para ele receber as delegações internacionais, é para ele ser mais uma opção de lazer após a COP, para ele abrir um centro de economia criativa e ser mais uma atração para quem visita o nosso estado. Da mesma forma investimos 1,4 bilhão de reais em saneamento que não foi só para que a COP ocorra sem problemas, foi para resolver um problema histórico do morador do Tucunduba e tantos outros canais e ruas de Belém.

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