“A inserção da mulher em funções de liderança no Brasil já evoluiu, mas ainda temos um longo caminho a percorrer”

Foto: Lorena Fadul

A empresária Elizabete Grunvald foi reeleita, neste mês de março, presidente da Associação Comercial do Pará (ACP), entidade que em 2024 completa 205 anos de fundação e da qual ela é parte importante da história, já que sua primeira eleição, em 2022, foi também a primeira, em dois séculos, que colocou uma mulher à frente da ACP. Elizabete é paraense, graduada em economia e, antes de decidir empreender, atuou por duas décadas em uma instituição financeira, onde exerceu funções de analista de projetos, analista financeira e cargos de liderança. 

A virada de chave na carreira aconteceu em 1996, quando pediu demissão e partiu para o mundo do empreendedorismo, primeiro, com uma empresa de consultoria empresarial; depois, com uma representação de produtos médicos.

Em 1997, associou-se à ACP, “pelas portas do Conselho da Mulher Empresária”, como ela ressalta. Desde então, não saiu mais, ao contrário, construiu uma trajetória que a levou e a manteve na liderança da associação, que atualmente tem em seus quadros cerca de mil empresários e empreendedores de todos os segmentos da economia, com empresas de todos os portes, e faz parte do sistema de associações comerciais do Brasil, com capilaridade de 2.300 associações em todo o território nacional. 

Nesta entrevista à PIM Amazônia, Elizabete Grunvald fala sobre desafios, realizações, liderança feminina e oportunidades para empresários e empreendedores com a realização em Belém (PA), em novembro de 2025, da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30). Boa leitura!

A SENHORA ACABA DE SER ELEITA PARA O SEGUNDO MANDATO À FRENTE DA ACP, UMA ASSOCIAÇÃO CRIADA EM 1819 E QUE, ATÉ A SUA PRIMEIRA ELEIÇÃO, EM 2022, NUNCA HAVIA SIDO LIDERADA POR UMA MULHER. QUAIS OS MAIORES DESAFIOS SUPERADOS ATÉ A SUA HISTÓRICA ELEIÇÃO E QUE AVANÇOS CONTRIBUÍRAM PARA A SUA REELEIÇÃO?

Assumir a presidência da ACP, uma entidade que há 205 anos tem importante atuação na defesa dos interesses da classe empresarial paraense, é uma grande honra e fruto de uma caminhada de quase 30 anos no associativismo, atuando em vários órgãos da Casa, como a presidência do Conselho da Mulher Empresária, presidência do Conselho das Câmaras Setoriais, várias Comissões e a vice-presidência da Entidade.

Ser reeleita depois de dois anos é consequência de um trabalho comprometido e com foco nas necessidades dos nossos associados e na melhoria do ambiente de negócios.

Quando assumimos a presidência, em 2022, a ACP, como outras entidades, ainda vinha em um processo de recuperação dos efeitos trágicos da pandemia (da Covid-19). Desenvolvemos um trabalho de equipe baseado em premissas básicas, como:

  • Reorganização interna e recuperação de nossa sustentabilidade financeira;
  • Prestação de produtos e serviços de acordo com as necessidades e demandas de nossos associados;
  • Atuação junto aos poderes constituídos visando a discussão de políticas públicas para melhoria do ambiente de negócios;  
  • Promoção da importância do associativismo, da cultura de cooperação e do estímulo ao empreendedorismo, que é a nossa missão maior.

Nesta segunda gestão, continuamos com o desafio de ampliar nossa base de associados, fortalecendo nossa representatividade, legitimidade e capacidade de influência e buscando a melhor efetividade na ampliação de produtos e serviços aos nossos associados, visando o estímulo e melhoria da competitividade empresarial, aproveitando o momento extremamente oportuno e fértil que vivemos no Estado, com a realização da COP 30 em Belém, em 2025.

ANTES DE ASSUMIR A PRESIDÊNCIA DA ACP, A SENHORA FOI PRESIDENTE DO CONSELHO DA MULHER EMPRESÁRIA, CRIADO EM 1995. QUAL A IMPORTÂNCIA E CONTRIBUIÇÃO DESSE CONSELHO PARA O FORTALECIMENTO DA REPRESENTATIVIDADE FEMININA NO SETOR? 

O Conselho da Mulher Empresária da ACP foi criado com o objetivo de desenvolver uma atuação mais segmentada e focada nas necessidades das mulheres empresárias e hoje é uma referência em capacitação, network e no estímulo ao empreendedorismo feminino.

O CME conta hoje com cerca de 200 associadas, que se conectam em uma rede de capacitação, network e troca constante de informações, que motivam e dão suporte para que mais e mais mulheres acessem o mercado de trabalho e estejam mais preparadas para estar à frente de seus negócios.

ESTAMOS EM 2024 E OS DADOS DA PNAD CONTÍNUA MOSTRAM QUE AS TRABALHADORAS BRASILEIRAS TÊM UM RENDIMENTO MÉDIO 20,8% MENOR QUE O DOS HOMENS. OUTRO ESTUDO, DA CNI, MOSTRA QUE APENAS 39,1% DOS CARGOS DE LIDERANÇA NO PAÍS ERAM OCUPADOS POR MULHERES, EM 2023. NA SUA OPINIÃO, QUAIS OS MAIORES GARGALOS QUE AINDA HOJE SE APRESENTAM E TORNAM TÃO DIFÍCIL MUDAR ESSA REALIDADE HISTÓRICA NO MERCADO DE TRABALHO BRASILEIRO?

A inserção da mulher em funções de liderança no Brasil já evoluiu, mas ainda temos um longo caminho a percorrer para se nivelar as questões de gênero e conseguirmos equidade de posições.

É uma questão complexa e multifacetada que envolve aspectos não só econômicos, mas sobretudo históricos, sociais e culturais. Entretanto, tenho percebido, cada vez mais, as empresas vislumbrando a importância da diversidade nas posições de liderança, assim como vantagens competitivas e financeiras advindas da posição de mulheres na linha de frente, o que tem mostrado avanços nos indicadores.

EM NOVEMBRO DE 2025, BELÉM SEDIARÁ O MAIS IMPORTANTE EVENTO DO MUNDO SOBRE MUDANÇAS CLIMÁTICAS – A COP 30, PROMOVIDA PELA ONU. QUE OPORTUNIDADES SE COLOCAM PARA O SETOR E COMO A ACP VEM ATUANDO PARA APOIAR E INCENTIVAR SEUS ASSOCIADOS A APROVEITAREM ESSE MOMENTO? 

A escolha de Belém para sediar a COP 30, em 2025, coloca a cidade e o Estado em evidência em nível mundial e, com isso, prenuncia grandes transformações e abre uma grande janela de oportunidades para o setor produtivo.

Tenho dito repetidas vezes que o Pará vive um momento fértil e especial e a ACP tem cumprido sua missão e atuado em conjunto com as demais entidades empresariais e com os poderes estadual e municipal, para apoiar as iniciativas de fortalecimento do setor produtivo, como capacitação, visando a melhoria da prestação dos serviços, articulando melhores oportunidades de crédito para ampliação e modernização dos negócios, apoiando e dando suporte a quem deseja empreender e investir, especialmente na cadeia do turismo. Enfim, usando todas as nossas expertises e capacidade de influência, para que possamos aproveitar esse portal e, verdadeiramente, transformar e desenvolver nossa Cidade.

Vale ressaltar que, quando nos referimos ao setor produtivo, estamos falando de todas os segmentos econômicos, de empresas de todos os tamanhos, inclusive os MEIs (Microempreendedores Individuais).

O momento é de acreditar, se preparar e aproveitar as oportunidades que já estão acontecendo na cidade (Belém). A ACP, como entidade multissetorial, está de portas abertas para apoiar todos que desejam crescer e se estruturar melhor para esse momento. Associe-se e venha ser ACP!

QUE CONSELHO A SENHORA DARIA ÀS MULHERES QUE LUTAM NÃO SÓ PARA INGRESSAR, MAS PARA PERMANECER E CRESCER NO MERCADO DE TRABALHO, SEJA PÚBLICO OU PRIVADO, EM MEIO A TANTAS E TÃO PROFUNDAS DIFICULDADES E DESIGUALDADES NO BRASIL DE 2024?

Eu acredito firmemente que, apesar das dificuldades historicamente enfrentadas pelas mulheres, o melhor caminho para se inserir e crescer no mercado de trabalho, é sempre o do preparo técnico, competência, comprometimento, persistência e amor pelo que faz.

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