Por Américo Martins / CNN em Londres
O novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vai restabelecer relações diplomáticas totais com a Venezuela a partir deste domingo (1º).
Mauro Vieira, que será empossado ministro das Relações Exteriores neste domingo, disse que vai enviar logo nos primeiros dias de governo diplomatas ao país vizinho para reabrir a embaixada brasileira em Caracas.
O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, poderia até presenciar a posse de Lula, depois que o presidente Jair Bolsonaro (PL) revogou uma portaria de 2019 que impedia sua entrada no Brasil, mas acabou cancelando sua participação.
As relações entre os dois países estavam suspensas desde 2019, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro resolveu reconhecer o então líder opositor Juan Guaidó como “presidente interino” da Venezuela.
O restabelecimento das relações com a Venezuela é visto como um acerto pela grande maioria dos especialistas em relações internacionais, alguns deles ouvidos pela reportagem nos últimos dias.
Feliciano Guimarães, diretor acadêmico do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) e professor de relações internacionais da USP, diz que cortar relações com a Venezuela foi “um erro crasso” do governo Bolsonaro.
“O Brasil tinha muitos investimentos lá, tinha uma pauta exportadora positiva. Se você investe e mantém relações com um país, você tem meios de influenciar. Quando você isola, você não influencia e não muda nada”.
Um diplomata próximo a Mauro Vieira disse algo na mesma linha. Segundo ele, se não há diálogo, não há como influenciar nenhum país.
“Por isso, é fundamental ter relações próximas da Venezuela”. Ele afirma, no entanto, que ainda não está claro se o Brasil vai de fato querer influenciar as decisões políticas do governo venezuelano.
“Apoio crítico”
O ex-embaixador brasileiro em Londres e em Washington Rubens Barbosa acredita que o Brasil vai ter, sim, uma posição proativa nas relações com o vizinho.
“Eu acredito que o Brasil vai ter uma posição muito ativa para a volta da democracia na Venezuela.
Caso o novo governo decida apenas continuar manifestando apoio irrestrito a qualquer política venezuelana, isso pode criar problemas internos (com relação à oposição de direita no Brasil)”.
Já o ex-embaixador do Brasil na China Marcos Caramuru diz que o reconhecimento do governo Maduro é apenas o ponto de partida nessa relação.
Segundo ele, isso tem que ser feito porque Maduro é o presidente de fato.
Ele diz que ainda é muito cedo para discutir como serão as relações bilaterais, mas acredita que há a possibilidade de o governo brasileiro apenas manifestar apoio sem muitas críticas a Caracas.
O diplomata, ligado a Vieira, no entanto, é enfático: o Brasil vai apoiar a Venezuela, mas será um apoio crítico.