Por Sarah Marsh, da Reuters em Berlim
O chanceler alemão, Olaf Scholz, chega à Argentina neste sábado (28) para iniciar sua primeira viagem à América do Sul, enquanto seu governo busca reduzir a dependência econômica da Alemanha em relação à China e fortalecer as relações com democracias em todo o mundo.
Na viagem de três dias, Scholz, um social-democrata, visitará as três principais economias da região – Argentina, Chile e Brasil -, todas atualmente lideradas por líderes de esquerda na nova “maré rosa” da região.
No topo da agenda de negociações estará a guerra na Ucrânia e as lições tiradas dela – inclusive para Berlim, uma maior consciência da necessidade de reduzir a dependência econômica de estados autoritários.
A dependência da Alemanha em relação ao gás da Rússia desencadeou uma crise energética depois que as relações se deterioraram com a invasão do Kremlin.
A Europa em geral está correndo para reduzir sua dependência, em particular da China, para minerais críticos, essenciais para a transição para uma economia neutra em carbono – minerais nos quais a América do Sul é rica.
“Esses três países são parceiros interessantes para a diversificação de nossas relações econômicas em geral, mas também de nosso abastecimento de commodities”, disse uma autoridade do governo alemão na sexta-feira.
Sobre a concorrência da China, que investiu pesadamente na região na última década, o funcionário disse que a Alemanha simplesmente precisa ser mais ativa e também mais preparada para abraçar setores dos quais até então se esquivava.
“Por exemplo, a mineração de lítio – é uma tarefa desafiadora, especialmente em relação ao meio ambiente e aos padrões sociais. E no passado provavelmente evitamos isso […] mas não podemos nos permitir esse luxo se quisermos nos sustentar. ”
A Argentina e o Chile estão no topo do chamado “triângulo de lítio” da América do Sul, que contém o maior tesouro mundial de metal para baterias ultraleves.
O chanceler estará acompanhado de uma comitiva de cerca de uma dezena de empresários de diversos setores, além da vice-ministra da Economia, Franziska Brantner.
No Brasil, última etapa da viagem, Scholz terá a companhia da ministra do Desenvolvimento, Svenja Schulze, dado o novo ímpeto de projetos conjuntos desde a eleição de Lula, que prometeu uma reformulação na política climática brasileira.
O desmatamento na Amazônia atingiu seus níveis mais altos em 15 anos sob o presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro.
O novo foco de Lula pode ajudar a abrir caminho para um acordo de livre comércio entre a União Europeia e o bloco comercial sul-americano Mercosul – um tema que também está na pauta das conversas de Scholz com líderes regionais.
Embaixadores da UE disseram anteriormente ao Brasil que o acordo de livre comércio com o Mercosul, acordado em princípio em 2019, não será ratificado a menos que sejam tomadas medidas concretas para impedir a destruição crescente da floresta amazônica.
A visita de Scholz também é uma forte demonstração de apoio a Lula depois que apoiadores de Bolsonaro saquearam prédios do governo em 8 de janeiro, apenas uma semana após sua posse.
O chanceler vai falar sobre isso, além de visitar os memoriais das vítimas das ditaduras militares da Argentina e do Chile.