Círio de Nazaré leva mais de 2 milhões de romeiros às ruas de Belém

Procissão percorreu os 3,6 km de percurso em pouco mais de quatro horas, sob olhares atentos dos devotos, que elevaram seus pedidos e agradecimentos em forma de preces, cânticos e muita fé na padroeira do povo paraense
Berlinda com a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. Foto: Ana Danin

Por Ana Danin, PIM Amazônia

Uma fé que não se explica. É preciso estar lá, em meio à multidão, vivenciando cada emoção, cada prece, cada gesto de solidariedade. Assim é o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém (PA), que no domingo, 8, teve a sua 231ª edição.

Foram mais de quatro horas de procissão, envolvendo mais de dois milhões de romeiros, desde os que se posicionaram em locais estratégicos, ou em imóveis localizados ao logo dos 3,6 km de percurso; passando pelos que madrugaram para chegar à Catedral Metropolitana de Belém, na parte antiga da cidade, de onde saiu a procissão; até os que foram se inserindo em meio aos caminhantes, ajudando, com seus passos e orações, a levar a berlinda com a imagem da padroeira até a Praça Santuário, em frente à Basílica de Nazaré, onde ela permanecerá pelos próximos 15 dias acessível para visitação dos devotos.

Círio de Nossa Senhora de Nazaré em Belém/Pará – 08/10/2023

Por trás de cada passo, muitas histórias. Como a de Claudio Souza, maranhense que vive no Pará há mais de 30 anos. Ele acompanhou a procissão segurando um objeto de cera em formato de perna, em agradecimento pela recuperação da mãe, de 85 anos, que chegou a ser hospitalizada, um ano atrás, no Maranhão, após uma queda. “A minha mãe caiu e quebrou o fêmur. Ela ficou um tempão sem conseguir levantar. O médico falou que ela nunca mais ia conseguir nem levantar da cama. Mas agora ela já está levantando, até consegue apoiar o pé no chão. E vai começar a andar, com certeza”, afirmou, ressaltando que fez a promessa porque já havia alcançado outras graças por intercessão de Nossa Senhora de Nazaré, que também é carinhosamente chamada de Naza, Nazinha e Nazica, pelos devotos.

Cláudio Souza. Foto: Ana Danin

Agradecimento, sem dúvida, é sempre o maior elo entre pessoas de diferentes origens e histórias de vida que acompanham a procissão, anualmente. Em 2023, o mesmo Círio de Claudio foi, tradicionalmente, o de inúmeros jovens que caminharam levando livros na cabeça, dando graças pela realização do sonho de entrar em uma faculdade. E também o Círio das crianças vestidas de anjo, em agradecimento dos pais por dificuldades vencidas durante a gestação ou parto. Foi ainda o Círio dos milhares de promesseiros da corda atrelada à berlinda, que em 2023 se rompeu mais cedo do que em geral ocorre, fazendo que desde meados da avenida Presidente Vargas, segundo grande trecho do percurso, já fosse possível ver pessoas com pedaços de corda, justamente no primeiro ano que foi confeccionada no Pará.

E foi também o Círio da paraense Laís Roca, que fez o percurso segurando uma representação em miniatura do sítio comprado na ilha do Combú, próxima à capital, após muitos anos de sonho. “Ela (Nossa Sra.) me deu este sítio. Com muito sacrifício, suor, a gente conseguiu construir. Ela me mostrou um lugar perfeito, com famílias abençoadas como vizinhos e tudo foi fluindo. Em um ano, comprei, mandei fazer e já tá tudo pronto”, garantiu.

Laís Roca. Foto: Ana Danin

Empatia: voluntários ajudam a amenizar o desgaste da caminhada dos romeiros

A procissão avança em meio ao tradicional calor da capital paraense, que aumenta por conta da multidão de romeiros. Porém ao longo de todo o percurso, há grupos que cumprem uma tarefa voluntária e fundamental: a distribuição de abanadores ou de copos de água para os caminhantes.

Em alguns casos, as ações são feitas for empresas, mas, grande parte da distribuição é também pagamento por graças alcançadas, ou simplesmente um gesto de empatia, como garante a cirurgiã dentista e professora Paula Pessoa, que, junto com o pai, Paulo, coordenava as ações de um grupo de voluntários que distribuíam copos com água. “Hoje estamos com 45 pessoas, mas começamos com 5, há cerca de 12 anos. No início eram 100 águas, hoje estamos com 15 mil”, ressaltou.

Paula Pessoa. Foto: Ana Danin

Quando questionada sobre o motivo da distribuição, Paula garante que não foi promessa, apenas gratidão. “É só para agradecer. Não tem como explicar o que o Círio representa para nós. É mais do que as palavras podem definir”, conclui

A maior procissão do Círio terminou com uma missa na praça Santuário, encerrada no início da tarde de domingo. Mas a festividade ainda segue por duas semanas, período em que outras procissões, muitas missas e toda uma programação musical será realizada, sempre com a participação de grande número de devotos.

Foto: Ana Danin

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