A preparação para a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que acontecerá em Belém, em novembro, foi marcada nos últimos dias por um impasse envolvendo a gastronomia paraense. O edital publicado pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI), responsável por selecionar os fornecedores de alimentação do evento, trouxe inicialmente a proibição do uso e da venda de pratos tradicionais como açaí, maniçoba e tucupi nos restaurantes oficiais da Conferência.
Segundo o documento, a exclusão ocorreria por razões sanitárias: o risco de contaminação por Trypanosoma cruzi no açaí in natura, além de possíveis toxinas presentes em preparações à base de mandioca brava, como o tucupi e a maniçoba.
A justificativa, contudo, gerou forte reação entre lideranças locais, chefs de cozinha, associações empresariais e órgãos de turismo, que destacaram a importância cultural e econômica desses alimentos para o Pará e para a Amazônia.
Por meio de sua conta no Instagram, o ministro do Turismo, Celso Sabino, natural de Belém, disse que o edital cometeu um “grave erro” ao impedir a entrada dos produtos paraenses e anunciou diálogo com a organização do evento.
“Nós entramos em contato já diante desse edital publicado, com os organizadores e o secretário Valter, e já conseguimos a palavra de ambos de que essa correção será feita, e na semana que vem esse edital será republicado”, informou.
Na fala, o ministro se referiu a Valter Correia da Silva, secretário extraordinário para a Conferência.
Repercussão
A medida foi vista como uma tentativa de invisibilizar a culinária amazônica em um dos maiores eventos ambientais do mundo. Instituições como o Sebrae, a Federação das Indústrias do Pará (Fiepa) e a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) divulgaram notas públicas de repúdio, reforçando que produtos como o açaí já passam por rígidos controles sanitários e são exportados regularmente para mercados internacionais.
Confira trecho da nota de repúdio da Fiepa:
“É totalmente compreensível a preocupação com a segurança alimentar dos visitantes. Entretanto, vale ressaltar que esses produtos têm origem natural, exatamente da diversidade dos ingredientes fornecidos pela floresta amazônica, um dos temas importantes e prementes da COP30. É importante pontuar que no Pará existem dezenas de fornecedores locais que seguem normas alimentares, nacionais e internacionais, que são exportadores para inúmeros países, incluindo Estados Unidos, Japão e União Europeia”.
Intervenção e recuo
No sábado (16/8), uma errata foi publicada pela OEI revogando as restrições. Assim, açaí, tucupi e maniçoba foram oficialmente reincorporados ao cardápio da COP30, com autorização para serem comercializados tanto na Blue Zone quanto na Green Zone, espaços centrais da Conferência.
A decisão foi acompanhada de um reposicionamento estratégico: a OEI informou que a culinária paraense terá papel de destaque no evento, com prioridade na contratação de cooperativas, associações, agricultura familiar e grupos tradicionais para o fornecimento dos alimentos.
A incorporação de pratos como o açaí, o tucupi e a maniçoba ao cardápio da COP30 não apenas garante a representatividade da culinária amazônica, mas também fortalece a narrativa de que enfrentar a crise climática passa por valorizar práticas tradicionais e cadeias produtivas locais.
