Equador elege presidente mais jovem de sua história

Aos 35 anos, empresário Daniel Noboa foi eleito no domingo, 15, em segundo turno. Eleições deste ano foram marcadas pela violência, incluindo o assassinato de um dos candidatos
Daniel Noboa, ao lado da esposa, Lavinia Valbonesi. Foto: Marcos Pin/AFP

Da Redação, com informações da Agência Brasil e BBC News Brasil

O empresário Daniel Noboa, de 35 anos, da coalizão Ação Democrática Nacional, venceu o segundo turno das eleições presidenciais do Equador, realizado no domingo, 15. Ele terá um mandato atípico, pois tomará posse em dezembro deste ano e permanecerá no cargo somente até maio de 2025. Isso porque foi eleito para concluir o mandato de Guillermo Lasso, que dissolveu a Assembleia Nacional e convocou eleições antecipadas em meio a um processo de impeachment sob acusação de corrupção.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva parabenizou, nesta segunda-feira, 16, o presidente eleito do Equador, Daniel Noboa, e manifestou a disposição em aprofundar as relações bilaterais com o país sul-americano. “Meus parabéns para Daniel Noboa pela vitória nas eleições presidenciais do Equador. Meus desejos de saúde e sucesso no seu futuro mandato. Expresso minha disposição de seguir trabalhando pelo bem-estar dos nossos povos, tradicionalmente amigos, de aprofundar as relações bilaterais e de atuar pelo desenvolvimento da América do Sul”, escreveu Lula, em publicação nas redes sociais.

Noboa venceu a disputa do segundo turno com 52,3% dos votos, à frente dos 47,7% da advogada Luisa González, apoiada pelo ex-presidente Rafael Correa, e será o mais jovem presidente da história do país.

Daniel é filho de um dos homens mais ricos do Equador, Álvaro Noboa, dono de um império empresarial que inclui uma empresa exportadora de banana. Ele tem uma experiência curta na política – apenas dois anos como deputado na Assembleia Nacional. Com o resultado, conquista um sonho almejado e nunca alcançado pelo pai, que disputou cinco eleições presidenciais e perdeu todas.

“Hoje fizemos história, as famílias equatorianas elegeram um Novo Equador, elegeram um país com segurança e emprego. Lutemos por um país de realidades, onde as promessas não acabam na campanha e a corrupção seja castigada. Obrigado, Equador”, disse, em suas redes sociais, o presidente eleito.

Daniel Noboa estudou em universidades de prestígio nos Estados Unidos. Ele se formou em administração de empresas na Universidade de Nova York, administração pública na Harvard Kennedy School, além de ter feito um mestrado em Governança e Comunicação Política na Universidade George Washington.

Cenário político no país é desafiador

Ao assumir o cargo, em dezembro, o novo presidente enfrentará um cenário muito complexo. O Equador está passando por uma das maiores crises de segurança de sua história e se tornou um dos países mais violentos da América Latina, com 3.500 homicídios registrados apenas nos primeiros sete meses deste ano, de acordo com dados da polícia. Os índices de insegurança se somam a um difícil quadro socioeconômico, com altos níveis de pobreza e desemprego.

As eleições deste ano foram marcadas por episódios de violência durante a campanha. Nos últimos meses, políticos e candidatos a cargos governamentais foram mortos no país. Dentre eles, o candidato presidencial Fernando Villavicencio, antes do primeiro turno, em 9 de agosto.

O jovem político, que usou colete à prova de balas durante a campanha após o assassinato do candidato Villavicencio, propôs como sua ideia mais inovadora a instalação de prisões flutuantes em barcaças para confinar criminosos perigosos longe da costa e impedir que continuem operando a partir da prisão, como acontece atualmente.

Empregos – Além da luta contra o crime, a criação de empregos é também um dos dois pilares principais do programa de Noboa. “Temos um plano ambicioso para reduzir o desemprego juvenil e promover a criação de empregos. Por exemplo, o IVA diferenciado para materiais de construção, o estímulo ao investimento em construção e a retomada de obras públicas abandonadas no país nos últimos dois anos. Tudo isso, em conjunto, pode gerar empregos de maneira muito rápida”, disse Noboa em uma recente entrevista ao meio de comunicação equatoriano Primicias.

Desempenho em debate ajudou a mudar o rumo das eleições

Poucos dias antes do primeiro turno, em 20 de agosto, ninguém acreditava que Noboa tinha chances reais de passar para a disputa final. Até que chegou o debate decisivo, onde ele confrontou ideias com Luisa González e outros candidatos que eram considerados favoritos.

“Ele teve a oportunidade, em poucos minutos, de mostrar seu conhecimento sobre certos dados cruciais sobre a situação atual do país, e isso o fez parecer muito bem informado e preparado para assumir a presidência”, diz o jornalista Cazar Baquero.

Já o cientista político Roberto Calderón indica que sua participação no debate foi crucial para ele se posicionar “como uma alternativa ao correísmo”, representado por González, a quem derrotou no último domingo.

No entanto, ambos os analistas destacam que não seria correto rotular Noboa como um antícorreísta, mas sim como um político habilidoso que demonstrou posições moderadas e pragmáticas, evitando ataques diretos a seus rivais em debates e discursos.

“A praticidade de seu discurso e sua decisão de se afastar da polarização entre correísmo e antícorreísmo funcionaram muito bem para ele. Isso revela que o eleitorado quer escapar da polarização, da insegurança, da violência cotidiana e buscar soluções extremamente práticas e imediatas”, afirma Cazar Baquero.

No segundo turno, Noboa se posicionou como favorito em todas as pesquisas.

Relação com a Assembleia – Se há algo que todos os analistas concordam é que Daniel Noboa não terá vida fácil para avançar com suas propostas.

Para alcançar seus objetivos, ele precisará de apoio que lhe permita obter maiorias pontuais na Assembleia Nacional, um órgão composto por 137 membros altamente fragmentado, onde seus rivais da Revolução Cidadã detêm o maior número de assentos, embora estejam longe da maioria necessária para vetar iniciativas.

“Ele terá que buscar alianças, e aí entra em cena a distribuição de ministérios ou instituições públicas para aliados políticos, a fim de garantir votos na Assembleia. Haverá aqueles que receberão algum tipo de benefício, que se unirão aos aliados naturais do presidente devido à afinidade política”, opina o cientista político Calderón.

Por outro lado, Cazar Baquero acredita que “é interessante observar como Noboa planeja a relação que terá com uma Assembleia que vem de uma grande desaprovação, que se caracterizou por obstruir o trabalho do governo, e da qual ele próprio fez parte.”

O prognóstico do jornalista é que Noboa “legislará negociando apenas os aspectos essenciais da lei e apresentará projetos de lei de urgência todo mês para pressionar a Assembleia.”

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