A entrevista aborda ainda a importância da capacitação profissional, o papel da Zona Franca na transição digital e as conexões entre sustentabilidade, produtividade e tecnologia — pilares de um novo modelo industrial que começa a ganhar forma no coração da floresta.
COMO O SENHOR AVALIA O GRAU DE MATURIDADE DIGITAL DAS INDÚSTRIAS DA REGIÃO NORTE HOJE? A AMAZÔNIA ESTÁ INSERIDA NA AGENDA DA INDÚSTRIA 4.0 OU AINDA ESTÁ DISTANTE DESSE PROCESSO?
A indústria 4.0 é a integração de tecnologias no processo produtivo com alto impacto na sua cadeia de valor, portanto já podemos visualizar inúmeras iniciativas no âmbito do PIM sobretudo nos segmentos eletroeletrônico e bens de informática. Cerca de 40% das empresas já apresentam características/iniciativas voltadas para a indústria 4.0.
Considerando os níveis do PIMM4.0 – modelo nacional de medição da maturidade e prontidão da indústria 4.0 que é 1 – Digital, 2 – Tecnológico, 3 – Transição e 4 – Avançado. Atualmente o Polo Industrial de Manaus apresenta na média entre 1,76 e 1,84, ou seja, entre digital e tecnológico.
QUAIS TECNOLOGIAS LIGADAS À INDÚSTRIA 4.0 (COMO IOT, INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, AUTOMAÇÃO AVANÇADA) JÁ ESTÃO SENDO APLICADAS DE FORMA CONCRETA POR EMPRESAS AMAZÔNICAS?
“EM TERMOS DE INFRAESTRUTURA AINDA TEMOS LIMITAÇÕES EM CONECTIVIDADE.”
Automação avançada: braços robóticos colaborativos em linhas específicas. Inteligência Artificial: início do processo de capacidade de previsão, segurança e identificação de gargalos. 5G Industrial: redes industriais de alta velocidade e baixa latência.
NA SUA EXPERIÊNCIA ACADÊMICA E PRÁTICA, QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS GARGALOS QUE TRAVAM A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DA INDÚSTRIA NA AMAZÔNIA?
Estamos no momento de transição, o que necessita de melhoria da prontidão tecnológica das pessoas. E o que isso significa? Capacitação integrada nas questões de gestão, processos e tecnologia. Em termos de infraestrutura ainda temos limitações em conectividade, muito embora já temos soluções em 5G industriais permitindo menor latência. A atual política de PD&I corrobora com esses avanços.
O MODELO DA ZONA FRANCA DE MANAUS TEM BASE PARA ABSORVER E FOMENTAR A INDÚSTRIA 4.0?
Os atuais arranjos do Polo Industrial de Manaus são totalmente compatíveis com a indústria 4.0. Vale o registro que as iniciativas devem contemplar todos os arranjos produtivos, a exemplo das multinacionais que possuem fornecedores locais. Esse movimento é fundamental para que os efeitos da quarta revolução industrial sejam positivos em toda a nossa cadeia de valor.
EXISTE UM MOVIMENTO REAL DE INTEGRAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADES, CENTROS DE PESQUISA E O SETOR INDUSTRIAL PARA ACELERAR A DIGITALIZAÇÃO NA REGIÃO?
Sim. Principalmente com projetos de PD&I. Posso citar o exemplo da Ufam que tem projetos com empresas nessa modalidade e posso citar o exemplo de projeto com turma específica de mestrado em engenharia de produção que vai propiciar apoio científico para os projetos internos de transformação digital da empresa.
NA SUA OPINIÃO, O QUE O PODER PÚBLICO — ESPECIALMENTE GOVERNOS FEDERAL E ESTADUAL — DEVERIA FAZER DE IMEDIATO PARA PROMOVER A TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DA INDÚSTRIA AMAZÔNICA?
“JÁ PODEMOS VISUALIZAR INÚMERAS INICIATIVAS NO ÂMBITO DO PIM, SOBRETUDO NOS SEGMENTOS ELETROELETRÔNICO E BENS DE INFORMÁTICA”
Existem importantes movimentos governamentais (federa e estadual), no âmbito Federal com o programa a “A nova indústria”, no Estadual a Fapeam com editais voltados para esse fim.
O SENHOR ENXERGA ALGUMA VOCAÇÃO SETORIAL ESPECÍFICA NA REGIÃO QUE PODERIA SER ALAVANCADA POR TECNOLOGIAS 4.0 — COMO ELETROELETRÔNICOS, BIOINDÚSTRIA, LOGÍSTICA OU ENERGIA?
De forma direta, eletroeletrônicos, bens de informática, duas rodas e termoplástico. De forma indireta, bioindústria.
QUAL É A IMPORTÂNCIA DA INDÚSTRIA 4.0 NÃO APENAS PARA PRODUTIVIDADE, MAS TAMBÉM PARA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E EFICIÊNCIA NO USO DE RECURSOS NA AMAZÔNIA?
Na essência, a indústria 4.0 traz mais eficiência operacional e nesta esteira podemos indicar ganhos efetivos nos critérios do ESG. Vale ressaltar que precisamos ajustar o aspecto “social” do ESG, digo isso por conta da curva de aprendizado voltada para a formação da mão-de-obra.
COMO O SENHOR VÊ A FORMAÇÃO PROFISSIONAL NA REGIÃO FRENTE ÀS EXIGÊNCIAS DA NOVA INDÚSTRIA DIGITAL? ESTAMOS FORMANDO OS TALENTOS CERTOS NAS UNIVERSIDADES, INSTITUTOS E ESCOLAS TÉCNICAS?
Acredito que as instituições já estejam formando massa crítica suficiente para a melhoria da prontidão tecnológica, cada uma com suas potencialidades e foco. A curva de melhoria está ascendente o que deve impactar o mercado de trabalho.
SE O SENHOR TIVESSE QUE TRAÇAR UMA META REALISTA, O QUE SERIA POSSÍVEL ALCANÇAR NA TRANSFORMAÇÃO DIGITAL DA INDÚSTRIA AMAZÔNICA NOS PRÓXIMOS 5 ANOS?
“A INDÚSTRIA 4.0 TRAZ MAIS EFICIÊNCIA OPERACIONAL E NESTA ESTEIRA PODEMOS INDICAR GANHOS EFETIVOS NOS CRITÉRIOS DO ESG”
Podemos dividir em momentos. De 1 a 3 anos: processos fabris com atualização tecnológica adequada. De 3 a 5 anos: mudança efetiva das plantas industriais – mais customizáveis com uma nova dinâmica de produção. De 5 a 10 anos: novos segmentos implantados no Polo industrial.