Em meio a preocupações crescentes do setor produtivo, a Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) realizou, no último dia 5, uma reunião estratégica com representantes da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) e executivos de empresas fabricantes de condicionadores de ar do Polo Industrial de Manaus (PIM). O encontro teve como foco central o ponto crítico no fornecimento de compressores nacionais, componente essencial para a linha de splits, e os riscos que esse gargalo pode representar ao cumprimento das regras do Processo Produtivo Básico (PPB).
A reunião, realizada na sede da autarquia em Manaus, contou com a participação do superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, do presidente e do diretor da Eletros, Jorge Nascimento e Thiago Rodrigues, respectivamente; do superintendente-adjunto de projetos da Suframa, Leopoldo Montenegro, além dos representantes de empresas fabricantes instaladas no PIM. O setor de ar-condicionado é hoje um dos pilares industriais da Zona Franca e tem posição estratégica também no cenário internacional: o Brasil é o segundo maior produtor mundial de condicionadores de ar, atrás apenas da China.
Segundo Thiago Rodrigues, a urgência do encontro foi motivada pela dificuldade enfrentada pelo setor em adquirir compressores de fabricação nacional.
“Nós temos uma política industrial para ar-condicionado split e, dentro dessa política, existe uma obrigação de aquisição mínima de compressores nacionais. Só que nós só temos uma empresa fabricante no Brasil, e essa empresa não está conseguindo atender os volumes solicitados pelos fabricantes”, explicou.
O PPB, que define as etapas mínimas de industrialização para que um produto possa usufruir dos incentivos fiscais da Zona Franca, exige o uso de componentes nacionais em determinada proporção. Para os fabricantes de ar-condicionado, o descumprimento dessa exigência pode significar a perda dos benefícios fiscais, algo que colocaria em xeque a viabilidade econômica da produção na região.
A situação tende a se agravar, uma vez que a política atual prevê o aumento progressivo dessa exigência nos próximos anos. “Se no momento atual a obrigação já não está sendo atendida, justamente porque o único fabricante não tem condições de produzir compressores em volume proporcional à demanda dos fabricantes de split, imagine quando essa obrigação continuar a ser aumentada. Isso vai fazer com que o problema se agrave ainda mais,” alertou o representante da Eletros.
O encontro contou com representantes de todas as 15 empresas fabricantes de ar-condicionado no país, incluindo diretores e presidentes, o que, nas palavras de Rodrigues, reforça a gravidade do desabastecimento de compressores fabricados no Brasil. “Nesse sentido, a Eletros, os fabricantes e a Suframa estavam discutindo possibilidades para alteração da política, debatendo propostas para que esse problema relacionado à capacidade do fabricante de compressor seja equacionado”, concluiu o diretor.
O superintendente Bosco Saraiva destacou a importância de manter o diálogo com o setor produtivo: “A Zona Franca de Manaus é um instrumento estratégico de desenvolvimento, e nosso papel é criar pontes entre o setor produtivo e o poder público para que os desafios sejam enfrentados com diálogo técnico, responsabilidade e visão de futuro”, afirmou.
Um setor estratégico para o Brasil
A indústria de condicionadores de ar instalada no Polo Industrial de Manaus tem papel central tanto na geração de empregos quanto no faturamento da ZFM. De acordo com o Boletim Econômico-Tributário da Suframa referente ao 1º semestre de 2023, a linha de bens de informática e eletroeletrônicos representou mais de 20% do faturamento total da Zona Franca, com os condicionadores splits tendo grande peso nesse desempenho.
Além disso, o Brasil aparece hoje como o segundo maior fabricante mundial de condicionadores de ar, com produção de 5,9 milhões de unidades em 2024, um aumento de 38% em relação ao ano anterior, segundo levantamento da Eletros. Esse protagonismo internacional reforça a relevância das decisões tomadas em fóruns como o da Suframa, com impactos diretos na balança comercial, no emprego e na inovação tecnológica do país.
Para além da produção, o setor também tem papel importante no avanço de tecnologias mais sustentáveis. Nos últimos anos, fabricantes vêm investindo em modelos com maior eficiência energética e uso de gases refrigerantes menos nocivos ao meio ambiente, uma tendência global que pode ser prejudicada caso o fornecimento de componentes essenciais como compressores fique comprometido.
Fonte: da redação