O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, defendeu que o Brasil não pode negligenciar a exploração de recursos naturais, como a Margem Equatorial, para garantir o desenvolvimento social e o crescimento econômico da população da Amazônia. A declaração foi direcionada a empresários, representantes do governo e de instituições internacionais, em Belém, no Pará, nesta quarta-feira (12), no “SB COP Diálogo Empresarial para uma Economia de Baixo Carbono”.
O encontro discutiu estratégias para o setor produtivo avançar na agenda verde e contribuir com os compromissos brasileiros de redução de emissões.
Para Alban, a Margem Equatorial é um dos “grandes benefícios que a natureza está nos dando”. Segundo ele, o povo da Amazônia não pode “perder essa oportunidade” de progresso. Alban apontou que, como o país vive um período de transição energética, há tempo para a devida adaptação.
“É nosso dever mostrar que é possível aproveitar o que a natureza nos deu de forma harmônica e sustentável”, afirmou Alban.
O presidente da CNI destacou que o setor produtivo brasileiro tem incorporado a sustentabilidade como valor estratégico e como elemento central da competitividade industrial.
“A responsabilidade social evoluiu. Hoje, responsabilidade social é sustentabilidade. Quem não quer ter seus produtos e marcas associados ao compromisso sustentável? Isso gera valor e é uma exigência do mercado. O setor produtivo entende isso e está comprometido com a transformação”, completou.
Levantamento do Observatório Nacional da Indústria da CNI sobre os impactos econômicos e sociais da atividade na Margem Equatorial indica que o desenvolvimento da região pode criar 495 mil novos empregos formais, acrescentar R$ 175 bilhões ao Produto Interno Bruto (PIB) e produzir R$ 11,23 bilhões em arrecadações indiretas.
O estudo considerou a existência de uma cadeia produtiva de máquinas, equipamentos e serviços de suporte nos estados do Amapá, Pará, Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte, a partir da hipótese de operação de um bloco por estado, com produção estimada em 300 mil barris por dia, preço do barril a US$ 60 e câmbio de R$ 5,50.
A atividade também tem potencial de gerar entre R$ 3,6 bilhões e R$ 5,4 bilhões anuais em royalties, além de R$ 270 milhões destinados à Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I).
Além de Ricardo Alban, a abertura do evento contou a participação de Ricardo Mussa, chair da Sustainable Business COP (SB COP); Dan Ioschpe, high-level climate champion da COP30; Helder Barbalho, governador do Pará; Alex Carvalho, presidente da Federação das Indústrias do Pará (FIEPA); Paul Polman, embaixador da SB COP; Tennant Reed, diretor de Mudanças do Clima e Energia da Australian Industry Group; e o deputado Rodrigo Rollemberg (PSB-DF).
O encontro também contou com a realização do SB COP Awards, que premiou 48 cases de sucesso globais do setor produtivo pelas ações de clima.
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Setor produtivo é decisivo na agenda ambiental
O governador do Pará, Helder Barbalho, destacou que o engajamento da indústria é fundamental para o avanço das políticas de sustentabilidade e para o sucesso da transição verde. Ele elogiou a atuação da CNI e afirmou que a agenda ambiental deixou de ser responsabilidade exclusiva de governos ou organizações não governamentais.
“No passado, acreditava que a sustentabilidade era responsabilidade apenas de governos ou ONGs. Essa etapa foi superada. A agenda ambiental é transversal e o setor produtivo é decisivo nesse contexto. Não há espaço para contradição entre produzir e preservar”, afirmou o governador.
Barbalho também ressaltou que a criação da SB COP, coalizão global lançada pela CNI para articular ações de sustentabilidade do setor privado e apoiar as negociações climáticas da ONU, representa um marco nesse novo modelo de atuação: “É isso que propõe a CNI ao mobilizar e criar a SB COP. A SB COP deve se tornar uma prática permanente do setor produtivo. Estamos construindo um novo paradigma”.
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Indústria paraense quer protagonismo na transição
O presidente da FIEPA, Alex Carvalho, afirmou que a industrialização sustentável é o caminho para reduzir desigualdades e criar renda na Amazônia. Ele destacou a necessidade de agregar valor aos bioinsumos da região, internalizar conhecimento e converter desafios estruturais em oportunidades.
“Precisamos criar novos modelos de desenvolvimento econômico, agregando valor aos nossos bioinsumos e internalizando riqueza e conhecimento. A indústria da Amazônia quer ser protagonista dessa transformação”, disse.
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Cooperação internacional e papel da Austrália
O diretor de Mudanças do Clima e Energia da Australian Industry Group, Tennant Reed, lembrou que o sucesso da agenda climática global depende da atuação conjunta entre governos e empresas. A Austrália é cotada como possível sede da COP31 em 2026.
“Não há sucesso climático sem o engajamento do setor produtivo. E não há sucesso empresarial sem enfrentar a crise climática. O que vimos na SB COP é uma coalizão global exemplar. Se a Austrália for sede da próxima COP, certamente buscaremos ampliar essa cooperação iniciada pelo Brasil”, afirmou Reed.
Brasil em posição de liderança
O deputado federal Rodrigo Rollemberg destacou o protagonismo do setor industrial na transição ecológica e afirmou que o Brasil reúne condições únicas para ser liderança global na economia verde:
“O Brasil tem a maior biodiversidade do planeta, uma matriz energética limpa e uma base industrial diversificada. Temos tudo para ser liderança na transformação ecológica global. A SB COP é um exemplo de como o setor produtivo pode e deve ocupar esse papel”.
SB COP reconhece 48 cases de sucesso globais
No encontro, a SB COP premiou 48 iniciativas de destaque do setor produtivo em mais de 14 países — selecionadas entre mais de 670 propostas. No Brasil, foram destacados 19 cases nacionais entre os vencedores, que abordam temas como restauração da Amazônia, produção sustentável, cidades neutras em carbono e reciclagem em larga escala.
O chair da SB COP, Ricardo Mussa, disse que a iniciativa demonstra como o setor privado pode agir com propósito, unindo prosperidade econômica e combate à mudança climática. “Esses 48 projetos mostram como o setor privado pode atuar com propósito, combinando prosperidade e ação climática. Este é só o começo de um movimento que o Brasil ajudou a criar e que tem potencial de mudar o mundo.”



