Polo Digital de Manaus acelera para ser referência nacional até 2025

Casarão Cassina - Manaus/AM. Foto: Divulgação/Setempi

Por Michele Gouvêa / Imagem: Joana França

Gerador de riquezas que passam pela fauna, flora Amazônica e pelo Polo Industrial de Manaus (PIM), o Amazonas vem se destacando também como gerador de tecnologia e de ecossistemas de informação. A consolidação e o fortalecimento da Associação Polo Digital de Manaus (APDM) é um dos caminhos que se apresentam para expandir, localmente, os ecossistemas de informação. Hoje o setor possui mais de 8.500 empregos diretos, 40 institutos de ciência e tecnologia da informação, mais de 100 startups, além de hubs, coworkings, aceleradoras e novos atores que, ano após ano, vão surgindo e tornam o ecossistema mais maduro e pulsante. O Amazonas, conforme pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Ceará, vem crescendo no Índice de Inovação dos Estados e já está em 8º lugar neste ranking.

Conforme o diretor-executivo da APDM, Murilo Monteiro, a associação foi formalizada em 2 de março de 2020, no auge da pandemia, para ser a governança do Ecossistema de Tecnologia da Informação e Comunicação formado por empresas, institutos públicos e privados, fundações, startups, incubadoras, aceleradoras, hubs, distritos e parques tecnológicos. 

“Nossa intenção é atuar em um sistema de governança para unificar o ecossistema de inovação buscando representatividade, visibilidade, unidade, transformação, crescimento, desenvolvimento, network e conexões, além da consolidação de políticas públicas para este vetor econômico. Nosso objetivo é tornar o polo digital de Manaus referência nacional e uma das principais matrizes econômicas do estado do Amazonas até 2025”, afirmou. 

Para alcançar o objetivo, os integrantes da APDM tem empenhado esforços para contribuir para o aumento do faturamento anual do polo digital, apoiado a implementação de melhorias da infraestrutura de tecnologia de informação na região, apoiado projetos para aumentar a disponibilidade de profissionais de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) capacitados para as necessidades do polo digital. 

Tem também apoiado o desenvolvimento do empreendedorismo, o fortalecimento das startups existentes e a criação de novas startups. Tem sido interlocutor entre o ecossistema de TIC e os sistemas públicos e privados, e também mensurado indicadores para posicionar o polo digital de Manaus nacionalmente e internacionalmente.

“A pandemia acelerou o modelo de trabalho de inovação no mundo todo. Com o avanço das reuniões on-line, hoje o profissional de Manaus pode trabalhar para qualquer lugar do mundo na área da inovação. A retomada após o duro período vivido na pandemia, está sendo mais acelerada ainda, com vários institutos de ciência e tecnologia, investidores, hubs de inovação buscando o nosso ecossistema de inovação, seja para se instalar aqui ou para investir nas startups presentes em Manaus”, resumiu Murilo.

Conforme dados do Polo Digital de Manaus, hoje o setor possui mais de 8.500 empregos diretos, 40 institutos de ciência e tecnologia da informação, mais de 100 startups em diversos níveis (ideação, operação, tração e escala), além de hubs, coworkings, aceleradoras e novos atores que, ano após ano, vão surgindo e tornam o ecossistema mais maduro e pulsante.

De acordo com Murilo, o Amazonas, conforme pesquisa realizada pela Federação das Indústrias do Ceará, vem crescendo no Índice de Inovação dos Estados e hoje é o oitavo estado mais bem colocado neste ranking.

“Outros indicadores nos mostram como um dos principais estados para inovação do Brasil, como o 2º colocado em competitividade global e o primeiro em intensidade tecnológica, em decorrência das indústrias de bens de informática instaladas na Zona Franca de Manaus (ZFM). Por outro lado, somos um dos piores estados em infraestrutura, ocupando a 25ª posição, e um dos piores em propriedade intelectual, ou seja, este índice pretende expressar o grau de ativos inovativos que são criados e protegidos”, revelou.

Para que os indicadores positivos melhorem ainda mais e que os negativos mudem de configuração, a APDM chama atenção para a necessidade de maior qualificação profissional para atuação nesse nicho de mercado e segue se inspirando em outros grandes polos digitais existentes no País, como os de Santa Catarina e Pernambuco. 

“Antes se falava que ser desenvolvedor seria a profissão do futuro. Hoje é a profissão do presente e no mundo todo está faltando profissionais nesta área. Em Manaus não é diferente, somente hoje temos mais de mil vagas em aberto. É comum profissionais que trabalham em Manaus serem assediados para trabalhar em outros estados e até mesmo outros países. Atualmente, é comum encontrar profissionais que estão trabalhando para Portugal, Estados Unidos, Inglaterra e continuam morando aqui em Manaus, recebendo em dólar ou euro”, afirmou.

“Estamos buscando construir nosso modelo de desenvolvimento do Polo Digital de Manaus e nos inspiramos no modelo do Porto Digital e ações realizadas em Santa Catarina. Estes são importantes polos que se desenvolvem muitas vezes apenas com verba privada, sem os incentivos de Pesquisa, Desenvolvimento & Inovação que dispomos aqui. Esperamos tornar esta matriz uma das mais importantes para o estado até 2025”, completou o diretor-executivo do Polo Digital de Manaus, Murilo Monteiro.

Porto Digital

O Porto Digital é um dos principais parques tecnológicos e ambientes de inovação do Brasil e é um dos representantes da nova economia do estado de Pernambuco. Instalado na área central do Recife, sua atuação teve início em 2000 e se dá nos eixos de produção de software e serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC), economia criativa, além do foco no futuro das cidades por meio de prototipação com base em fabricação digital e internet das coisas (IoT).

O Porto Digital é fruto e referência nacional de uma ação coordenada entre governo, academia e empresas, conhecido como modelo \”Triple Helix\”. Essa iniciativa propiciou o ambiente necessário para fazer com que o Porto Digital se transformasse em um dos principais ambientes de inovação do Brasil e fosse eleito, por três vezes, o melhor parque tecnológico do Brasil nos anos de 2007, 2011 e 2015 pela Associação Nacional de Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).

O Porto Digital é composto por empresas de vários portes, de startups a multinacionais, e é considerado um dos maiores parques tecnológicos da América Latina. “Mesmo com os eventos adversos provocados pela crise sanitária, chegamos a 355 empresas embarcadas no Porto Digital e temos um crescimento de quase 100% do faturamento entre 2018 e 2021”, frisou o presidente do parque tecnológico, Pierre Lucena. 

Ao todo, o parque faturou R$ 3,67 bilhões em 2021, crescimento de 28,6% em relação ao ano anterior. Dentre as empresas embarcadas no Porto Digital, as que registraram maior crescimento em 2021 foram a FindUp, Insole e Mesa. Já entre as que mais faturaram estão Accenture, Acqio, Avanade, Avantia, CESAR, FITec, Globo Nordeste, Insole, Neurotech e Tempest. 

Do ponto de vista de capital humano, o parque conta com 14.790 colaboradores e a estimativa é que até 2025 o Porto Digital tenha cerca de 20 mil colaboradores distribuídos entre 500 e 600 empresas e atingindo faturamento de R$ 3,5 bilhões, faturamento esse já ultrapassado. 

Startups amazônicas

Único representante brasileiro apontado pela revista americana GreenBiz, em 2020, como uma das 30 jovens lideranças que estão implementando mudanças sustentáveis no mundo, o amazonense Macaulay Souza Abreu, fundou em 2018 a Onisafra, plataforma que conecta produtores da agricultura familiar a consumidores, com uma feira digital.

Macaulay reforça a importância de que haja mais investimentos e confiança no potencial da região em criar e viabilizar soluções tecnológicas. Engenheiro agrônomo e mestre em Agronomia Tropical pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Macaulay idealizou o negócio em 2015, mas a plataforma só começou a operar em definitivo, em 2019, um ano antes de pandemia de Covid-19 promover recálculo da rota.

“Durante esse período tivemos que reformular a nossa operação. Antes trabalhávamos só com produtores e estávamos fazendo o processo de migração para atuar também com hortifrutis urbanos e outros tipos de parceiros, como por exemplo, produtores de geleia que utilizam matéria-prima local, de chocolate com o cacau nativo etc. Quando veio a pandemia a gente teve que reorganizar a nossa operação porque muitos dos produtores não estavam a vontade de vir até a cidade. Por outro lado, os clientes tinham uma demanda maior pelo tipo de serviço que nós oferecemos e houve um aumento na demanda, ao mesmo tempo que tínhamos esse desafio operacional, de recepção e distribuição dos alimentos. A gente conseguiu reorganizar todo esse processo, fazer novas parcerias e viabilizar as entregas dos produtos para os clientes. A partir disso a gente começou um novo processo de trabalhar tanto com agricultores como com outros tipos de empresas que vendem alimentos oriundos da produção local ou beneficiados utilizando a matéria-prima de produtos locais”, explicou.

Hoje a Onisafra possui em torno de sete feiras online disponíveis com produtos para comercialização através da plataforma. Conforme Macaulay, com a pandemia ele percebeu que para manter os clientes seria necessário fazer investimentos no segmento de assinatura de cestas e, por isso, em fevereiro a Onisafra lançou uma nova versão da plataforma com destaque para as assinaturas. 

“Evoluímos no sistema de assinaturas, isso facilitou o nosso processo e agora vamos focar nesse sentido, reforçar o modelo de assinatura de cestas na nossa plataforma, que é uma estratégia que queremos fazer para gerar recorrência dos clientes. Temos a possibilidade de compra avulsa na nossa plataforma, mas também queremos dar destaque para essa possibilidade de assinatura de cestas, até em razão das características dos nossos produtores locais. Como temos uma variação muito grande de produtos é mais interessante a gente atuar dessa forma por conta da sazonalidade da região, com assinatura, porque aí ele (agricultor) consegue ter uma previsão melhor do que vai fornecer e dá para termos um planejamento melhor tanto com os produtores quanto com os clientes”, explicou.

Para colocar o projeto de expansão em prática foi necessário, além de reorganização, investimentos em tecnologia. “Tecnologia é um dos fatores que fazem uma empresa ter o seu valor eixo, mas não o único. Nós evoluímos tecnologicamente de forma significativa. Hoje temos processos tecnológicos muito mais robustos, processos automatizados, quem facilitam a nossa operação. Nossa estratégia é reorganização logística, gerando mais hubs de distribuição aqui na cidade e aumentar os nossos projetos em parceria com empresas, que vem gerando resultados bem positivos”, afirmou Macaulay. 

NavegAM

Foi também o investimento em tecnologia e o aperfeiçoamento da rota que permitiram à NavegAM voltar a navegar por águas mais tranquilas. A plataforma de e-commerce que oferece a comercialização de passagens do transporte fluvial, conforme o diretor Bruno De Boer, sofreu um forte baque com a quarentena imposta pela pandemia de Covid-19 e, para sobreviver, passou a focar mais no transporte de cargas do que no de passageiros. 

“A pandemia pegou todos de surpresa e por pouco não quebramos. Mesmo assim resolvemos apostar todas as fichas no projeto. Mudamos nossos esforços de uma plataforma B2C (Business to Customer) pivotando para um modelo B2B (Business to Business). Isso teve um papel fundamental durante a pandemia haja visto que as entregas se tornaram quase que a única opção da população. Nesse período cometemos algumas falhas, mas buscamos o aperfeiçoamos das soluções e ferramentas. Hoje felizmente conseguimos trazer aos nossos clientes diferentes níveis de serviço, possibilitando maior rapidez e disponibilidade de produtos. Temos Dashboards de controle que permitem que os gestores dos nossos clientes tenham controle de tudo em uma única tela. Simples, intuitivo e descomplicado”, afirmou De Boer.

O processo hoje comemorado pelo diretor De Boer precisou ser avançado além do esperado em razão das demandas oriundas da pandemia de Covid. “A NavegAM vinha em um processo forte de digitalização dos sistemas existentes dentro das embarcações, que ligam a cidade de Manaus a mais de 45 municípios do interior, e tivemos que acelerar mais a parte do controle de frete e encomendas e, em conjunto com a já implementada solução de acompanhamento no transporte de cargas urbanas, uma logTech nos ajudou a caracterizar a integração entre os modais urbano e fluvial. Com tudo isso, precisamos descentralizar nas vendas do e-commerce e passamos a oferecer nosso serviço em lojas físicas. Com isto ganhamos knowhow, pois cada cliente de cada segmento possui diferentes tipos de exigências, mas ao final todas as melhorias acabam servindo como diferenciais”, comemora.

Passados os momentos mais críticos da pandemia e com maior domínio sobre seus processos de vendas, a NavegAM se prepara para expandir sua operação para outras regiões do Brasil, principalmente para localidades da região Norte e Amazônia Ocidental.

“Tivemos um crescimento enorme durante a pandemia. Num momento em que grande parte do comércio estava fechado e as pessoas precisavam consumir, principalmente remédios e alimentos, passamos a contratar e a fidelizar nossos motoristas de embarcações através de uma tecnologia que permite que façamos 30.000 entregas, por mês, sem nenhum ativo fixo, o que se encaixa no conceito de non assetbased (como Uber ou Airbnb). Hoje temos mais de 200 motoristas cadastrados em nosso aplicativo e mais de 100 embarcações. Nosso modelo é totalmente flexível e segue se adaptando conforme a demanda do cliente”, explanou De Boer.

Para garantir ainda melhores resultados, a NavegAM conta com profissionais das áreas administrativa, financeira, operacional, diretoria e de desenvolvimento que somam 25 colaboradores e a expectativa é que esse time mais que dobre no decorrer de 2022. 

“Hoje a NavegAM é formada por uma equipe jovem, com visão de startup, mas com potencial de multinacional. Um dos diferenciais da nossa startup é que oferecemos a oportunidade aos nossos colaboradores de construção de um grande negócio, que está em pleno desenvolvimento. Hoje recebemos investimentos de alguns dos principais players da região e estamos aprendendo bastante com eles, pois não se trata apenas do dinheiro aportado, mas todo o conhecimento, o que chamamos de smartmoney, ou seja, mais do que investimento, existem outros fatores que também impactam nesse momento. É o investimento que vem acompanhado do capital intelectual, de toda a experiência do investidor, da possibilidade de ter insights ou consultas sobre o negócio e de oportunidades de networking que venham agregadas ao investimento, até mesmo assessoria de modo geral”, comemorou.

Na visão do CEO Geferson Oliveira, otimizar o transporte fluvial na região Amazônia, facilitando o acesso a informações sobre frete e transporte de passageiros, é o foco da NavegAM. Fundada em 2019, a startup desenvolve uma plataforma de gestão de dados e informações logísticas variadas, como quantidade de pessoas, preços, vendas por agência, controles de lotação etc. A solução é focada no transporte fluvial na Amazônia, mas também apresenta funcionalidades para transporte rodoviário da região.

“A NavegAM não é apenas um sistema de venda de passagens e frete fluvial. Seremos um big data, um sistema em que as pessoas poderão acessar todo tipo de informação, seja o setor de turismo, o setor de logística, o professor que precisa saber como está o rio, um turista que quer programar uma viagem para a Amazônia, enfim. Tudo que a gente coletar ao longo dos anos será disponibilizado para o público em um grande centro de informação”, afirma Geferson Oliveira, CEO da Navegam.

Ecossistemas de inovação e tecnologias de informação para desenvolver a Amazônia e impulsionar a economia regional

Instituto Sidia

Manaus também abriga alguns dos principais institutos de desenvolvimento de inovação tecnológica do Brasil, como o Sidia Instituto de Ciência e Tecnologia, além de ter embarcado em seu polo digital dezenas de outros atores de inovação.

Protagonista na região Norte, o Instituto Sidia é o principal desenvolvedor de aplicativos utilizados pela multinacional Samsung em todo o Brasil e em grande parte da América Latina. Impulsionados pela pandemia de Covid-19, os desenvolvedores do Instituto Sidia criaram o App Hey Team que é utilizado, além do Brasil, em pelo menos 15 países, entre eles Chile, Argentina, Bolívia, Paraguai, Equador e Estados Unidos.

o Hey Team é uma solução que foi criada durante a pandemia de Covid-19 com o objetivo de permitir às empresas e aos funcionários manterem o ambiente seguro. De acordo com o gerente técnico do Instituto Sidia, Mauro Teófilo, o App agregou o trabalho de desenvolvedores de software, designers, testadores de software e gerentes e permite o controle de autoavaliações dos funcionários e um ambiente de trabalho mais seguro. “O aplicativo é dedicado para funcionários usarem como solução de triagem projetada para permitir autoavaliações e para manter o local de trabalho mais seguro, indicando se o funcionário tem passaporte liberado ou não para acesso aos espaços da empresa. Além disso, nossa solução possui uma integração total com um painel web para controlar e gerenciar tudo em um só lugar. Esse App está em desenvolvimento, em aprimoramento contínuo desde 2020”, afirmou Teófilo.

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