Projeto que visa restaurar 200 hectares de floresta em Manaus

Em fase de implementação, ‘Reflora’ pretende fortalecer a cadeia de restauração na Amazônia, atuando em trechos devastados na Reserva Puranga Conquista.

Em meio a dias infestados pela fumaça densa, pela péssima qualidade do ar e altas temperaturas, o olhar de desesperança parece se amenizar na capital amazonense diante inciativas como a proposta do pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ).  

Batizado de “Reflora – Recuperação Ecológica e Implantação de Sistemas Agroflorestais Multifuncionais” o projeto foi um dos contemplados pelo ‘Edital 02/2023 – Floresta Viva Amazonas’, do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (FunBio).  

Apesar do nome parecer complexo, a meta é unir os conhecimentos tradicionais de comunidades presentes na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Puranga Conquista, em Manaus, a técnicas de restauração ecológica, com o objetivo de restaurar 200 hectares de trechos devastados, visando proteger a biodiversidade e impulsionar a economia local.  

O Reflora já atua em cinco comunidades entre indígenas e ribeirinhas que vivem na Puranga Conquista, localizada na região do Baixo Rio Negro. As ações valorizam a floresta em pé, contribuem com a segurança alimentar dessas comunidades, colaboram com a renda familiar, que, para 50% da população da Unidade de Conservação, é inferior a um salário mínimo. 

O coordenador do ‘Reflora’ e engenheiro florestal pela UNESP, Paulo Roberto, explica que, ao se pensar em um sistema agroflorestal, já se pressupõe que ele é multifuncional. Isso ocorre porque um SAF é projetado para atender a diversas necessidades simultaneamente. No contexto da restauração ecológica, ele também cumpre papel social.  

“Um sistema que trabalhe café e eucalipto já pode ser considerado agroflorestal por trabalhar uma espécie agrícola e um tipo de madeira. A ideia é essa: no mesmo espaço a gente conseguir trabalhar com mais produtos, mais comida, mais funções e ter naturalmente um sistema mais biodiverso, o que, de certa forma, é mais seguro no ponto de vista hídrico e de segurança alimentar das comunidades”, informa o coordenador. 

Paulo compartilha que as espécies a serem implementadas em trechos devastados na Puranga Conquista ainda estão em fase de teste, e que as escolhas definitivas vão depender da adaptabilidade dessas plantas na região (se são nativas, ou não), como também do interesse das comunidades locais para o artesanato, consumo familiar, venda, ou construção de casas e embarcações, por exemplo.  

 “Durante o processo de criação de uma RDS já é previsto a ocupação de pessoas na região e, obviamente, o manejo da floresta. Todo processo de restauração ambiental, é também social. A primeira coisa é o olhar para o território, e antes mesmo da gente definir o que plantar ou o que fazer, é definir quem são as pessoas que estão lá. O objetivo do Reflora não é substituir o conhecimento local, mas complementá-lo com técnicas para recuperar áreas críticas e solucionar os problemas da região”, aponta Paulo. 

Ele destaca espécies como itaúba, maçaranduba, açaí, tucumã, macaxeira, milho, abóbora e feijão como alternativas promissoras a serem testadas em diferentes áreas da RDS.  

‘Regeneração Natural’ é uma das alternativas para baratear o processo de restauração na Puranga Conquista  

Ao permitir que a natureza recupere áreas degradadas por meio de processos naturais, como o crescimento espontâneo de espécies nativas, evita-se a necessidade de grandes investimentos em plantio e manejo intensivo de mudas, é o que compartilha o coordenador do Reflora. Paulo Ferro explica que a técnica de regeneração reduz significativamente os custos com a aquisição de sementes, insumos e mão de obra.  

“Já vi estudos sobre a restauração da Amazônia indicarem que é possível trabalhar com investimentos de até 6 mil reais por hectare, embora esse valor varie conforme a técnica utilizada e a logística local. A regeneração natural é a técnica mais econômica, pois a própria floresta facilita a chegada de sementes, além de contar com a ação de animais que auxiliam na dispersão. Assim, a floresta, em certa medida, consegue se recuperar e regenerar a área de forma espontânea.”, adiciona Paulo.  

Isso não significa que o IPÊ deixará outras técnicas de lado. A ideia é complementar a regeneração natural com plantio de mudas, semeadura e enriquecimento, de forma a potencializar a recuperação das áreas degradadas. 

“Então, se olharmos no mapa, a estrutura da Puranga é de floresta, tudo bem verdinho. Mas quando a gente olha um pouco mais a fundo, atuando em campo, às vezes até por satélite, dá para notar áreas abertas que são passíveis de restauração convencional: por plantio, semente e muda”, informa o engenheiro. 

Paulo ressalta que, devido ao uso intensivo e à exploração, é uma tendência que as espécies de uso das comunidades acabem ficando cada vez mais distantes. Dessa forma, se não houver replantio e manejo, é que elas precisem ser buscadas cada vez mais longe. “O mais importante é o manejo em si. Conforme a gente vai extraindo, a gente vai plantando, para não ficar longe, para não ficar distante, para não ficar escasso”, conclui.  

Investir na ‘Cadeia de Restauração na Amazônia’ pode ser uma das soluções para resgatar áreas do Bioma.  

Embora o objetivo principal do ‘Reflora’ seja restaurar um total de 200 hectares dentro de 4 anos, a expectativa é que os impactos dessa ação tragam resultados para mais de 20 anos, alcançando as gerações de filhos e netos de diferentes comunidades da RDS.  

O coordenador do ‘Reflora’ endossa que esse é só um pequeno passo para uma iniciativa de dimensão ainda maior: investir na cadeia de restauração na Amazônia, junto a outras instituições. 

“A cadeia da restauração na Amazônia é uma coisa nova, exige um trabalho mais complexo. Na verdade, a cadeia da restauração no Brasil e no mundo, como um todo, tem vários gargalos. Se a gente tivesse o dinheiro agora para restaurar tudo que se é preciso das metas climáticas mundiais, não faríamos nem metade. Então, essa é uma coisa que a gente, de maneira integrada, com outras instituições também quer investir”, aponta. 

Confira algumas funções de um SAF: 

Produção de alimentos e produtos florestais: Cultivo de grãos, frutas, vegetais, produção de madeira, lenha, resinas e outros produtos florestais. 

Benefícios Ecológicos: Proteção do solo contra erosão, aumento da biodiversidade, sequestro de carbono, recuperação de áreas degradadas e melhoria da qualidade da água. 

Serviços Ambientais: Regulação do clima local, proteção contra ventos fortes, conservação da água e melhoria da fertilidade do solo. 

Aspectos Sociais e Econômicos: Promoção de segurança alimentar, geração de renda para comunidades locais por meio de artesanato e comércio de produtos, por exemplo. 

Publicidade

Últimas Notícias

Revista PIM Amazônia