As atualizações das metas de emissão de gases de efeito estufa apresentadas por 64 países participantes do Acordo de Paris podem diminuir em 17% os impactos na mudança do clima, na comparação com as emissões de 2019. A projeção para 2030 indica uma redução de apenas 6% em relação às metas anteriores, segundo o Relatório Síntese das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), divulgado nesta terça-feira (28/10) pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).
O documento reúne informações de apenas um terço das 198 nações que compõem o Acordo de Paris e avalia o progresso das ações climáticas globais. Se todas as novas metas forem cumpridas até 2035, a estimativa é de redução de 13 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO₂e).
ONU aponta avanços, mas pede mais urgência
O relatório destaca que as novas metas são mais abrangentes e incluem, além da mitigação, ações de adaptação, financiamento, transferência de tecnologia e combate a perdas e danos. Ainda assim, o documento alerta para a necessidade de acelerar os esforços globais de redução de gases de efeito estufa.
“As novas NDCs mostram uma progressão em termos de qualidade, credibilidade e cobertura econômica, com 89% das Partes comunicando metas para toda a economia”, diz o texto.
A presidente do Instituto Talanoa, Natalie Unterstell, avalia que, embora mais sofisticadas, as metas permanecem insuficientes:
“Estamos gerindo uma crise sem a urgência de uma crise. Há algo de profundamente equivocado em celebrar uma queda de 17% nas emissões quando a ciência diz que precisamos de 60%”, afirmou.
Setor ambiental pede integração e soluções naturais
Para o líder de mudanças climáticas do WWF-Brasil, Alexandre Prado, o cenário mostra que as ações ainda estão sendo adiadas, mas há pontos positivos na integração de medidas de adaptação das cidades aos planos de redução de gases de efeito estufa.
“Especialmente em ações baseadas na natureza, como a conservação de manguezais e florestas. Essas soluções reduzem custos, aumentam a resiliência das comunidades e trazem benefícios que vão muito além do carbono”, explicou Prado.
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Financiamento climático é desafio central
Entre os países que apresentaram novas metas, 75% mencionaram a necessidade de soluções financeiras inovadoras e maior cooperação internacional. O diretor sênior da Conservação Internacional, Gustavo Souza, ressaltou a importância de instrumentos como os mercados de carbono e o programa Tropical Forest Forever Facility (TFFF) para garantir recursos previsíveis aos países em desenvolvimento.
Segundo ele, “as florestas representam um terço da solução global para as mudanças climáticas, mas recebem apenas 3% do financiamento climático. Esse desequilíbrio precisa ser corrigido”.
Brasil e a COP30
Com a COP30 marcada para 2025 em Belém (PA), o Brasil vem liderando a mobilização internacional para atualizar compromissos climáticos. O país foi o segundo a entregar sua nova NDC, antes mesmo do prazo original.
O relatório da ONU, porém, não inclui compromissos de grandes emissores, como China e Índia, o que preocupa especialistas. “O mundo ainda aguarda dois terços das novas NDCs esperadas e, a menos de duas semanas da COP30, mais países precisam submeter suas metas para manter o Acordo de Paris ao nosso alcance”, concluiu Gustavo Souza.
Por Gabriele Oliveira, estagiária de jornalismo, sob a supervisão de Francisco Gomes
Com informações da Agência Brasil
