O Governo Federal estuda viabilizar, em parceria com a Bolívia, a construção de uma nova hidrelétrica binacional no Rio Madeira, um dos principais afluentes do Amazonas. A iniciativa foi anunciada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, na sexta-feira (22/8), durante apresentação dos resultados de um leilão de pequenas centrais hidrelétricas, e sinaliza a intenção de ampliar a cooperação energética entre os dois países.
“Ampliamos a cooperação técnica com a Bolívia para aproveitar o potencial do Rio Madeira. Quem sabe uma nova binacional está a caminho, repetindo o sucesso de Itaipu”, afirmou Silveira.
A declaração reabre um debate que remonta a 2016, quando Brasil e Bolívia firmaram convênio para estudar a construção de duas usinas na fronteira, em áreas como Guajará-Mirim, em Rondônia, e Guayaramerín, na Bolívia. À época, estimava-se que os empreendimentos poderiam gerar até 3.772 megawatts (MW), superando a capacidade individual das usinas de Santo Antônio e Jirau, já em operação no Madeira.
O Rio Madeira nasce na Cordilheira dos Andes, atravessa a Bolívia e Rondônia e deságua no Amazonas, desempenhando papel estratégico tanto para a geração de energia quanto para a navegação. Em território brasileiro, já abriga as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, responsáveis juntas por mais de 7 mil MW de capacidade instalada. Uma terceira usina binacional representaria, portanto, uma nova etapa de aproveitamento energético da bacia.
A proposta, no entanto, não está livre de controvérsias. Estudos anteriores apontaram que uma barragem binacional poderia alagar reservas extrativistas, áreas de conservação e comunidades ribeirinhas. Em 2017, um relatório técnico elaborado pelo Ministério de Minas e Energia já indicava a necessidade de um plano de desenvolvimento regional sustentável para minimizar riscos e integrar a infraestrutura ao crescimento local. Organizações ambientais e povos tradicionais, por sua vez, alertam que um projeto desse porte pode comprometer ecossistemas sensíveis e intensificar pressões sobre populações indígenas e ribeirinhas.
Cerca de 90% das águas dos rios bolivianos desembocam no Madeira, o que torna o aproveitamento conjunto uma oportunidade para garantir segurança energética e ampliar a integração entre os países. Inspirado no modelo de Itaipu, o projeto poderia servir de motor de desenvolvimento para a região de fronteira, mas dependerá de negociações diplomáticas, estudos técnicos e avaliação de impactos antes de sair do papel.
Fonte: Eixos