Por anos, Roraima viveu à margem do sistema elétrico nacional, dependendo exclusivamente de geradores térmicos e de importações energéticas da Venezuela. Após o corte do abastecimento pelo Linhão de Guri — localizado no país vizinho — em março de 2019, o estado que já contava com cargas residenciais, comerciais e públicas robustas, enfrentou um colapso que resultou em tarifas altas, apagões constantes e uma pesada conta de combustíveis subsidiados — por vezes ultrapassando R$ 1 bilhão ao ano.
Em resposta a essa crise energética, surgiu o ambicioso projeto do Linhão de Tucuruí: uma linha de transmissão de 500 kv, com cerca de 720 km, ligando a hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, a Boa Vista, passando por Manaus e atravessando parte da Terra Indígena (TI) Waimiri Atroari. A infraestrutura inclui três grandes subestações: Engenheiro Lechuga, Equador e Boa Vista, além de 1.390 torres, 36 reatores e sete transformadores que totalizam 400 MVA de potência reativa.

Até então, Roraima integrava o grupo de estados com sistema isolado de energia, ou seja, não conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN). Por isso, grande parte da eletricidade consumida era gerada localmente por termelétricas a óleo diesel — uma matriz poluente e de alto custo. Para evitar que os consumidores arcassem com tarifas elevadas, o governo federal custeava a diferença por meio da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC), um subsídio pago por todos os brasileiros nas contas de luz. Com a entrada em operação do Linhão de Tucuruí, a tendência é que Roraima deixe gradualmente de depender desse subsídio, passando a se alinhar às regras tarifárias do restante do país, com a adoção do sistema de bandeiras.
O projeto, leiloado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 2011, sofria com sucessivos atrasos, pois os processos ambientais, especialmente no trecho indígena, impassavam por disputas judiciais e ausência de consulta prévia à comunidade local. Em 2021, um acordo judicial entre a União, o consórcio responsável pelas obras: Transnorte Energia (TNE) – Alupar (51%) e Eletronorte (49%) – e a comunidade Waimiri Atroari solucionou o impasse, possibilitando a retomada das obras em outubro de 2022, com prazo de execução estimado em 32 meses.
Com a assinatura da ordem de serviço em agosto de 2023 e investimento estimado em R$ 2,6 bilhões, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o governador de Roraima, Antônio Denarium, visitaram o canteiro em março de 2025, atestando cerca de 70% de execução das obras.
O ministro destacou que, quando concluído em dezembro deste ano, o Linhão permitirá economia de mais de R$ 1 bilhão ao ano, eliminará a geração térmica a diesel/gás e evitará aproximadamente 1,5 milhão de toneladas de CO² emitidas anualmente. Atualmente, segundo informou o senador Dr. Hiran (Progressistas-RR), 1.385 das 1.390 torres estão montadas. Isso representa 97% de conclusão da obra, faltando somente 50 quilômetros do circuito para o término.
A inclusão de Roraima no SIN não será apenas técnica, mas estrutural. A obra promete romper com o histórico de instabilidade no abastecimento, ao substituir as usinas térmicas — Jaguatirica II, Monte Cristo, Floresta, Distrito Industrial e Novo Paraíso — por energia firme e distribuída mediante rede nacional. A expectativa, conforme estudos da Aneel, é que o uso térmico caia em até 70%, com impacto direto na redução dos custos operacionais, na menor emissão de carbono e na melhora da qualidade de vida da população.
A conexão de Roraima ao SIN tende a mudar a lógica de desenvolvimento industrial do estado. Segundo Fábio Martinez, economista especialista em desenvolvimento regional da Amazônia, a nova matriz energética traz a estabilidade necessária para atrair indústrias de maior porte. Ele ressalta que o setor de agroindústrias, em expansão, poderá ser um dos principais beneficiados com a chegada de energia mais confiável.
“O estado de Roraima vem crescendo muito na parte de agroindústrias. O nosso plantio vem crescendo. Por isso, precisamos da instalação de indústrias, sobretudo a alimentícia. Essas indústrias demandam energia de confiança. Com a segurança energética proporcionada pelo Linhão, a gente vai poder atrair principalmente indústrias focadas no agro”, disse.
Martinez também afirma que os reflexos do Linhão devem ultrapassar o setor produtivo e aponta uma relação entre energia segura e melhoria no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), assim como avanços significativos na digitalização e no desenvolvimento do setor tecnológico em Roraima, com impactos muito além da eletricidade.

“Com mais indústrias, aumenta a geração de emprego e renda. E isso se conecta ao acesso a serviços públicos, saúde de qualidade e urbanização, todos dependentes de energia”, afirmou. “Hoje a internet em Roraima é precária. Sem uma conexão confiável, não conseguimos desenvolver educação on-line, telemedicina ou setor de tecnologia. Com o Linhão de Tucuruí, também virá uma linha de fibra óptica que deve melhorar muito a conectividade do estado, que hoje depende de um único ramal instável vindo do Amazonas pela BR-174”, afirmou.
Segundo relatou o professor Jecksivan Sabará Bento, que leciona em escolas públicas da capital e também tem atuação em comunidades indígenas, as frequentes quedas e oscilações no fornecimento são um grande desafio em Boa Vista, pois comprometem o cotidiano doméstico, escolar e comunitário. “Muitas vezes passamos duas ou três horas sem energia. Na comunidade indígena Darôra, já ficamos até três dias no escuro”, relata. Nessa localidade, segundo ele, a infraestrutura elétrica é extremamente precária, com apenas dois fios conduzindo energia para centenas de pessoas e um único transformador no centro da comunidade.
As consequências são diretas: queima de eletrodomésticos, suspensão de aulas e impossibilidade de executar tarefas básicas. “Quando falta luz à noite, é impossível dar aula. Temos que liberar os alunos”, diz o professor. Durante o dia, as limitações também são evidentes. A impressão de materiais pedagógicos, o uso de equipamentos eletrônicos e até o conforto térmico das salas de aula são afetados. “Boa Vista é muito quente, e quem não tem ar-condicionado depende de ventilador. Só que isso faz a conta dobrar no fim do mês, e muitas famílias não conseguem pagar”.
Para Jecksivan, a interligação de Roraima ao Sistema Interligado Nacional, por meio do Linhão de Tucuruí, representa uma virada esperada há décadas. A chegada de energia mais estável e limpa não só tende a reduzir os custos, como também pode impulsionar o desenvolvimento educacional e econômico, especialmente em áreas vulneráveis. “Com uma energia de melhor qualidade, o ensino à distância vai crescer nas zonas rurais e nas comunidades indígenas. Ter internet e luz confiável é o básico para garantir educação de qualidade”.

O professor também aponta efeitos positivos em setores produtivos e no empreendedorismo local. Ele cita, por exemplo, pequenos negócios que lidam com refrigeração, como sorveterias, fábricas de gelo e comércios de alimentos congelados, que hoje operam com medo constante de perdas. “Se a energia for confiável, essas empresas vão produzir mais, armazenar melhor e, com o tempo, os preços tendem a cair. Isso pode movimentar toda a economia do estado”.
Paralelamente, a Prefeitura de Boa Vista informou que está mapeando possibilidades de reconversão das estruturas térmicas para geração híbrida ou renovável, embora ainda não tenha divulgado um plano oficialmente estruturado. Já o Governo de Roraima tem discutido projetos complementares, como instalação de energia solar em áreas isoladas, incentivos à diversificação da matriz elétrica e expansão de infraestrutura digital, incluindo interligações via fibra óptica na BR-174 .
Outra frente importante do projeto é o diálogo socioambiental. A construção na TI Waimiri Atroari inclui um Plano Básico Ambiental que prevê compensações e mitigação de impactos — R$ 90 milhões pagos pela União e mais R$ 43 milhões pela TNE —, contemplando proteção ambiental, criação de novas rotas indígenas e implantação de internet nas aldeias, conforme acordado judicialmente em 2021.
Em julho deste ano, a Aneel ajustou a Receita Anual Permitida da concessão para R$ 395,6 milhões ao ano, com prorrogação de prazo por 27 anos e encerramento de disputas arbitrais judiciais. Além disso, ao longo de 2024 e 2025, o Programa Pró-Amazônia Legal reembolsou R$ 2,1 milhões (janeiro de 2025) e R$ 2,2 milhões (dezembro de 2024) à TNE como parte da compensação de impactos em território indígena.
Em termos humanos, o projeto gera, desde 2023, cerca de cinco mil empregos diretos e indiretos, de acordo com estimativas do Governo Federal, em consonância com a TNE. As subestações, torres e reatores estão sendo erguidos ao longo de um corredor por realidades socioculturais e ambientais diversas: de populações urbanas de Boa Vista à população da TI Waimiri Atroari, exigindo sensibilidade e presença institucional.
Energia mais confiável deve impulsionar comércio, apesar da ausência de redução imediata na tarifa

Embora a conexão de Roraima ao Sistema Interligado Nacional (SIN) não represente, a princípio, uma redução direta na conta de luz dos consumidores, a confiabilidade no fornecimento de energia deve ser um fator decisivo para fortalecer o ambiente de negócios. A avaliação é do presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Roraima (Fecomércio-RR), Ademir dos Santos, que aponta a estabilidade elétrica como elemento estratégico para o desenvolvimento do setor terciário, responsável por quase metade da economia estadual.

“Não acredito que os moradores e empresários terão redução na conta de energia. Hoje, em Roraima, somos beneficiados pela Conta de Consumo de Combustíveis, que subsidia o sistema isolado. Com a interligação, devemos passar a pagar as bandeiras tarifárias cobradas no restante do país”, afirmou. Ainda assim, ele reforça que o ganho vai além do custo: “O que vamos conquistar é uma energia mais confiável. E isso é fundamental para o comércio e serviços, porque reduz os prejuízos causados pelas quedas constantes de energia. Teremos um ambiente de negócios mais seguro e propício ao crescimento”, pontuou.
Segundo o dirigente, a previsibilidade no fornecimento tende a atrair novas empresas e fortalecer aquelas já instaladas, especialmente com a manutenção dos incentivos fiscais da Área de Livre Comércio (ALC). “O comércio está crescendo, e com uma energia mais confiável, empresários de fora vão perceber que vale a pena investir aqui. E isso não é só em Boa Vista, todos os municípios devem sentir esse avanço”, acrescentou.
Santos pontua que a chegada do Linhão não traz apenas benefícios econômicos, mas também sociais, sobretudo para as pequenas e médias empresas. Com mais segurança energética, empreendimentos menores poderão operar com maior estabilidade, evitando perdas em equipamentos e mercadorias. “É uma questão de confiança. O investidor precisa saber que não vai perder um freezer cheio de mercadoria por falta de energia, nem deixar de atender um cliente porque a luz caiu. Essa segurança é transformadora”, frisou.
Atualmente, o comércio, os serviços e o turismo respondem por 47,2% do Produto Interno Bruto (PIB) de Boa Vista, um dos principais indicadores econômicos do estado. São mais de 30 mil empresas ativas no setor terciário e cerca de 62 mil trabalhadores, o que representa 83% das pessoas empregadas na capital. Segundo Santos, esse é um retrato da importância da energia estável para manter o ritmo de crescimento econômico.
Além da energia, o presidente destaca outra necessidade urgente: a ampliação da infraestrutura de internet. Hoje em dia, os moradores de Roraima dependem exclusivamente de uma única fibra ótica. “Frequentemente a fibra rompe e deixa o estado todo sem internet. Isso prejudica tanto o setor público quanto o privado. Assim como a energia é fundamental, eu diria que a internet também é essencial para garantir competitividade”, afirmou.
Marcus Almeida, empreendedor do ramo alimentício, e morador de Boa Vista, concorda com o dirigente. Para ele, as frequentes oscilações de energia geram uma série de prejuízos ao comércio, uma delas é justamente ocasionada pela consequente falta de internet.
“Tanto o microempreendedor quanto o próprio empresário sofrem bastante cotidianamente, porque a primeira coisa que acontece [após a queda de energia] é a queda da internet, e hoje em dia o que mais movimenta o mercado são as formas de pagamento: pix e cartão, tanto crédito quanto débito. Pouca gente, hoje, usa dinheiro. A falta de energia afeta muito essa parte. A gente deixa de vender por não ter internet, isso sem contar os riscos que enfrentamos com eletrodomésticos, equipamentos e alimentos”.
Para Santos, o cenário é promissor, mas exige atenção contínua por parte do poder público e da sociedade civil organizada. “Se conseguirmos avançar em energia, conectividade e logística, Roraima vai se tornar, de fato, um polo atrativo para investimentos. Temos uma posição estratégica, benefícios fiscais e capital humano. O que faltava era a infraestrutura mínima para funcionar de forma segura. Agora, temos a oportunidade de mudar esse paradigma”, concluiu.
Indústria de Roraima poderá ganhar novo fôlego

Com uma infraestrutura energética mais robusta e interligada ao sistema nacional, o estado de Roraima tem a oportunidade de dar um salto em sua base produtiva industrial. Para a presidente da Federação das Indústrias do Estado de Roraima (FIER), Izabel Cristina Itikawa, o Linhão de Tucuruí não representa apenas um avanço técnico no setor elétrico, mas um divisor de águas na atração de investimentos e na geração de empregos industriais.
“A interligação do sistema energético representa uma oportunidade histórica. Não se trata apenas de uma melhoria na qualidade e estabilidade do fornecimento de energia, mas de um propulsor crucial para o desenvolvimento econômico local, especialmente no setor industrial”, destacou. Ela ressalta que o estado poderá atrair empreendimentos de grande porte, com destaque para as fábricas de bens de consumo, produtos manufaturados e indústrias com alta demanda energética, como mineração e siderurgia.
A nova infraestrutura também abre caminho para uma revolução na matriz produtiva. Com uma geração energética mais eficiente, o estado poderá inclusive exportar excedentes, fortalecendo sua posição dentro da cadeia nacional de produção. Segundo Itikawa, a disponibilidade de energia em maior volume e com custos competitivos cria um ambiente favorável para a instalação de indústrias de base. Isso significa mais empregos diretos e indiretos, mais renda e mais oportunidades para a população local. Além de atrair novos negócios, a chegada de energia estável pode acelerar a verticalização da produção agrícola. Roraima já possui um agronegócio consolidado, com destaque para a produção de soja, milho, arroz e pecuária. No entanto, grande parte da produção ainda é escoada sem beneficiamento.
“Com mais energia disponível e estável, teremos as condições para implantar unidades de beneficiamento local, agregando valor às nossas matérias-primas e tornando Roraima mais competitivo no mercado nacional e internacional”, completou. A presidente ressaltou, ainda, que o fortalecimento da cadeia agroindustrial tende a gerar efeitos em cascata, pois os investimentos poderão gerar uma cadeia produtiva, estimulando o emprego, a geração de renda e o fortalecimento da economia local. Ou seja, uma oportunidade de transformar produtos primários em derivados industriais que tenham maior valor de mercado e que fiquem no estado.
Nesse contexto, a coordenadora destaca a importância da qualificação da mão de obra: “O crescimento industrial precisa vir acompanhado de políticas de formação profissional. Uma nova matriz produtiva requer técnicos, operadores, engenheiros e gestores capacitados. Por isso, além da energia, precisamos investir também em educação e formação para sustentar esse novo ciclo”, disse.
Com sua localização estratégica no extremo norte do país e conexão facilitada com a América do Sul e o Caribe, Roraima também poderá se consolidar como um corredor logístico para exportações da Amazônia. A nova realidade energética de Roraima abre um vasto campo de oportunidades para a expansão das exportações e o beneficiamento local de matérias-primas. “Podemos processar nossos produtos aqui mesmo e alcançar mercados internacionais com mais competitividade. Isso muda o patamar do estado”, avaliou Itikawa.

“O estado tem perfil voltado ao agronegócio, com produção expressiva de soja, milho, arroz e uma pecuária em expansão. Com mais energia disponível e estável,teremos as condições para implantar unidades de beneficiamento local”- Izabel Itikawa, presidente da FIER.
Adequações para o SIN
A chegada do Linhão também representa uma virada de página para o sistema elétrico de Roraima, mas os efeitos imediatos não estarão necessariamente na ponta da rede de distribuição, como explica o engenheiro eletricista Fábio Eugênio Andrade, da Roraima Energia. “A operação das redes de distribuição e subestações da Roraima Energia não sofrerá grandes mudanças com a chegada do Linhão. O que esperamos é que ele traga ao estado maior confiabilidade das fontes de suprimento e, com isso, melhoria ao consumidor final”, destacou. A distribuidora reforça que sua atuação depende diretamente da solidez dos agentes geradores e transmissores de energia, e que sua missão é garantir que a infraestrutura de distribuição esteja apta a operar com eficiência diante das transformações em curso.
Embora o Linhão represente um marco no abastecimento, ele não elimina desafios operacionais que exigem atuação contínua da distribuidora. As perdas técnicas, por exemplo, não serão automaticamente resolvidas com a nova fonte de suprimento. Ainda assim, Andrade destaca que a estabilidade trazida pela interligação poderá auxiliar, de forma indireta, na otimização da operação da rede. A empresa segue com investimentos constantes na modernização da infraestrutura, conforme as diretrizes da Aneel.
No que diz respeito à estabilidade e segurança energética, a conexão com o SIN representa um avanço significativo, sobretudo diante da fragilidade histórica do sistema isolado. Fábio chama atenção, porém, para a particularidade da conexão roraimense: “Roraima será conectada por uma única linha de 500 kV, diferentemente de outros estados que possuem múltiplas conexões com o SIN”. Esse fator técnico exige cautela. Por essa razão, o Operador Nacional do Sistema (ONS) continuará mantendo geradores locais como suporte, mesmo após a conclusão do Linhão, assegurando a redundância necessária ao fornecimento. A transição da matriz energética local, segundo ele, será gradual e planejada com foco na segurança.

A empresa também vê potencial de cooperação entre diferentes fontes no modelo híbrido que se desenha para o estado. Roraima já possui experiência com sistemas híbridos: municípios do norte do estado utilizam combinação de termelétricas a diesel e energia solar, enquanto o sul conta com matriz diversificada incluindo biomassa, biodiesel de palma e uma pequena central hidrelétrica no alto Jatapú. A interligação ao SIN, longe de eliminar essa diversidade, tende a ampliá-la. Apesar disso, Fábio ressalta que a Roraima Energia não interfere nas decisões sobre o mix de geração, tendo o papel de apenas garantir que a rede de distribuição esteja pronta para receber energia de qualquer fonte autorizada.
Para garantir que a integração ao SIN ocorra sem sobressaltos, a Roraima Energia vem realizando uma série de adequações técnicas na rede de distribuição do estado, que contemplam acompanhamentos, estudos e preparativos necessários para garantir a adequação da rede ao SIN. Ele explica que esse processo envolve desde ajustes nos sistemas de proteção e controle até revisões em procedimentos internos da companhia, assegurando que a operação ocorra de forma coordenada com os demais agentes do setor.
Em termos quantitativos, os desafios operacionais da Roraima Energia ficam evidentes diante da histórica dependência de termelétricas movidas a óleo diesel. De acordo com o Plano Decenal de Expansão de Energia 2031, elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), cerca de 95% da energia gerada em Roraima em 2020 teve origem térmica, com destaque para as usinas a diesel.
Antes da entrada em operação da usina Jaguatirica II, o estado consumia anualmente mais de 300 milhões de litros de diesel para abastecimento elétrico, segundo dados da própria EPE e do Ministério de Minas e Energia (MME). A usina Jaguatirica II, inaugurada em 2022, possui capacidade instalada de 141 MW e opera com gás natural, contribuindo para reduzir em até 30% as emissões de CO² e para baratear o custo de geração ao substituir parte das térmicas mais poluentes e caras. Esses indicadores reforçam o impacto esperado da integração ao sistema nacional.
Últimos passos da obra
Após meses de trabalho, a instalação dos cabos de alta tensão está praticamente concluída, e a equipe técnica concentra-se agora nos testes de energização e na integração dos equipamentos às subestações locais, informou a Aneel. Esse processo é fundamental para garantir a estabilidade e a confiabilidade do fornecimento antes da operação plena do sistema.
Paralelamente à conclusão das estruturas físicas, a concessionária responsável pelas obras intensifica o treinamento dos profissionais que vão operar e manter o Linhão. Esse preparo inclui capacitação para o monitoramento remoto das linhas e ações de manutenção preventiva, essenciais para minimizar riscos e evitar interrupções no fornecimento. A expectativa é que a operação assistida comece logo após a inauguração, em dezembro, com supervisão rigorosa para assegurar o funcionamento dentro dos padrões de qualidade exigidos pela Aneel.
Além dos aspectos técnicos, as últimas fases da obra contemplam também ações de mitigação ambiental e social. As equipes realizam os reparos nas áreas impactadas pela construção, garantindo a recuperação da vegetação e o respeito às comunidades locais afetadas. Projetos de comunicação continuam sendo desenvolvidos para manter a população informada sobre o andamento do Linhão e seus benefícios, reforçando o compromisso com a transparência e o diálogo aberto.