Muito além dos cosméticos, a biodiversidade local poderia proporcionar soluções para os setores de alimentação, fármacos, combustível e agricultura, apenas para citar alguns. No entanto, a falta da devida atenção do poder público, a busca das empresas por resultados imediatos e a pouca verba disponível para financiar pesquisas científicas são entraves que impedem a Amazônia de explorar seu verdadeiro potencial biotecnológico.
Historicamente, a contribuição da biodiversidade amazônica foi mais marcante com a exploração da borracha, atividade que chegou a figurar como terceiro produto da pauta das exportações brasileiras no período 1887-1917, perdendo apenas para o café e o algodão, e que foram levadas para novos locais, como ocorreu com a cinchona e cacau. Atualmente, algo semelhante acontece com a polpa de açaí, que tem colocado o Estado do Pará entre os maiores produtores da fruta no País.
Outras plantas da biodiversidade que têm sido importantes são o jambu, bacuri, tucumã e jaborandi, algumas chamando a atenção de grandes empresas como a Natura, Merck e Chamma, como aponta o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) da Amazônia Oriental, Alfredo Homma.
Para Homma, a utilização do potencial esbarra na legislação bastante restritiva no uso dos recursos da biodiversidade, o que não estimula o empresário do setor privado a investir em produtos da biodiversidade. “(O investimento em biodiversidade) apresenta grandes riscos de oferta, produção pulverizada, política distributivista visando repartir os benefícios entre ribeirinhos, quilombolas, indígenas, populações ditas tradicionais, entre outros, de recursos da biodiversidade que existem espalhados em diversos pontos da Amazônia brasileira e da Pan-Amanzônia”, salientou.
Apesar da dificuldade em agregar dados concretos sobre investimentos no setor de biotecnologia, Homma é categórico ao afirmar que ainda se investe muito pouco no segmento. “Em toda a Amazônia Legal temos menos de 10% de cientistas do País e os recursos acompanham este mesmo percentual, para uma região que concentra 14% da população brasileira e 60% do território nacional. No agregado se investe muito pouco, fala-se muito sobre a biodiversidade como algo mágico, mas que se traduzem em discursos abstratos e precisamos transformar em propostas concretas com metas definidas”, criticou o pesquisador da Embrapa da Amazônia Oriental, composta pelos Estados do Pará, Tocantins, Amapá, Maranhão e Mato Grosso.
Cleiton Rezende, doutor com experiência na área genética e professor da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) lamenta que a exploração do vasto potencial da biodiversidade amazônica seja muito baixa e “ínfima” no que diz respeito as pesquisas locais. Para o especialista, pesquisas em microrganismos e plantas, através do isolamento das substâncias, para a obtenção de produtos inteiramente novos, seja na cosmética ou na indústria farmacêutica são apenas alguns exemplos desse potencial desperdiçado. Além disso, ele cita ainda a engenharia genética, que vem ocupando um grande destaque na área, substituindo técnicas tradicionais de tratamento de doenças.
O grande xis da questão é que biotecnologia demanda tempo e dinheiro e o cenário atual não é um dos melhores para as agências de fomento, tanto estaduais quanto nacionais, que diminuíram a quantidade de editais para que os pesquisadores possam conseguir suporte financeiro e desenvolver suas pesquisas. Para Rezende, as ideias precisam sair do papel e necessitam ser executadas, mas para que isso ocorra é imprescindível que empresas de aproximem das universidades e seus pesquisadores. Por outro lado, poucas são as indústrias que buscam parcerias com a academia, pois a maioria das companhias busca resultados rápidos, característica normal de um mercado cada vez mais competitivo.
“Infelizmente, o poder público não está investindo em biotecnologia como deveria. Agências de fomento local, como a Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas), por exemplo, não vem lançando editais que contemplem pesquisas na área. A região possui um potencial biotecnológico extremamente grande, principalmente em explorar novas espécies (vegetais, fungos, bactérias) presentes na região amazônica”, reforçou Rezende.
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