Demanda interna insuficiente preocupa o setor industrial

Pesquisa da CNI mostra reclamações em empresas de todos os portes. Ainda assim, a percepção sobre acesso ao crédito melhorou no terceiro trimestre de 2023
Imagem: CNI/ Site

Da Redação, com informações da CNI

Demanda interna insuficiente, elevada carga tributária e altas taxas de juros continuam sendo os principais problemas enfrentados pela indústria no terceiro trimestre deste ano. Pelo menos é o que aponta a pesquisa Sondagem Industrial, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada nesta quinta-feira, 19. A questão da demanda interna foi a mais relatada pelos empresários (33,9% de assinalações), seguida da questão tributária (32,6%) e das taxas de juros (25,3%).

De acordo com a CNI, é normal que esses fatores sejam elencados como os de maior impacto na atividade industrial, porém, nesse trimestre, houve um recuo de até 6 pontos percentuais quando comparado com o segundo trimestre de 2023. Enquanto esses três problemas apresentaram redução, os percentuais dos outros problemas elencados sofreram aumento, como competição desleal e falta ou alto custo de trabalhador qualificado.

“Na pesquisa, é solicitado que o empresário marque até três itens que constituíram problemas reais para a empresa e, com isso, esses outros dois figuraram ali na quarta e quinta posição”, explica o gerente de Análise Econômica, Marcelo Azevedo.

O indicador de evolução do nível de estoques de produtos da indústria geral também aumentou e atingiu 50,8 pontos, aumento de 0,3 pontos de agosto para setembro.

Já o indicador de estoque efetivo em relação ao usual atingiu 52,2 pontos em setembro, após avançar 0,8 ponto em relação ao resultado de agosto. A movimentação entre os períodos indica que o nível de estoques se distanciou do planejado para o período.

“Esse cenário de demanda fraca e estoques crescendo além do planejado faz com que os empresários segurem a produção e adiem a contratação de pessoas na indústria”, complementa Azevedo.

O índice de evolução do número de empregados na indústria registrou 49,3 pontos em setembro de 2023. Segundo a CNI, apesar de se encontrar abaixo da linha divisória, o indicador se encontra muito próximo da média histórica dos meses de setembro da série, de 49,2 pontos, o que indica que o recuo observado no mês ficou dentro do esperado para o período.

Porém, a movimentação de setembro não foi homogênea entre as indústrias de diferentes portes: entre empresas de grande porte, o índice já se encontrava acima da linha dos 50 pontos e aumentou na passagem de agosto para setembro. A movimentação de queda no indicador total foi provocada pela retração do emprego em empresas de pequeno e médio porte.

Acesso ao crédito – O indicador de acesso ao crédito avançou 0,4 ponto no terceiro trimestre do ano, em relação ao trimestre anterior, atingindo 41,2 pontos. Isso indica que a percepção de dificuldade de acesso ao crédito está menos intensa e disseminada no trimestre.

No entanto, a movimentação de avanço não foi observada entre empresas de pequeno e grande porte, cujos índices recuaram, respectivamente, 0,2 e 0,3 ponto. Ou seja, o avanço no indicador total se deu em função do crescimento de 2,2 pontos do indicador para empresas de médio porte.

Por outro lado, houve piora na satisfação com a situação financeira das empresas e com a satisfação com o lucro operacional.

Sobre a Pesquisa – A pesquisa Sondagem Industrial, realizada pela CNI, entrevista cerca de 1700 empresas de pequeno, médio e grande porte por mês. Para este levantamento, os empresários foram questionados entre 2 e 13 de outubro de 2023. O documento aborda o desempenho da indústria, as condições financeiras, os principais problemas e as expectativas das indústrias.

Produtividade no trabalho registra ligeiro crescimento no segundo trimestre

Outro levantamento da CNI divulgado em outubro, a pesquisa Produtividade na Indústria, registrou um crescimento de 0,4% no segundo trimestre de 2023 em relação ao trimestre anterior, na série livre de efeitos sazonais.

Nesse caso, o indicador voltou a subir após queda de 0,9% no trimestre anterior. A produtividade do trabalho da indústria de transformação brasileira é medida como o volume produzido dividido pelas horas trabalhadas na produção.

A alta da última edição da pesquisa é resultado da queda das horas trabalhadas acompanhada da estagnação da produção. Apesar de registrar ganhos de produtividade no segundo e quarto trimestres de 2022 e no segundo trimestre de 2023, o indicador de produtividade do trabalho da indústria tem oscilado entre quedas e altas há cinco trimestres, após cair por seis trimestres seguidos.

“A indústria tem tido dificuldades de se recuperar. Esse resultado está relacionado tanto a fatores conjunturais, como o encarecimento do crédito e os efeitos restritivos da política monetária; como a fatores estruturais, a exemplo do nosso sistema tributário complexo e da nossa infraestrutura ineficiente”, explica a gerente de Política Industrial da CNI, Samantha Cunha.

Desaquecimento – A indústria de transformação tem enfrentado desafios para aumentar a produção devido à baixa demanda. A produção do setor no Brasil está há quatro trimestres consecutivos em queda, e o desaquecimento é observado também no restante do mundo.

Dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO) mostram que a produção industrial global está estagnada em 2023.

“Do lado externo também temos um cenário geopolítico e macroeconômico marcado por elevadas incertezas, mas ao mesmo tempo temos oportunidades para recuperar o crescimento da produtividade relacionadas às novas tecnologia da Indústria 4.0”, afirma a economista da CNI.

Expectativas- Em relação à produtividade mundial do trabalho, de acordo com estimativa do Conference Board, as expectativas são de baixo crescimento em 2023, após a estagnação registrada em 2022.

A instituição prevê um crescimento acelerado da produtividade em países em desenvolvimento, causado principalmente por países asiáticos. No entanto, para o Brasil, a expectativa é de baixo crescimento.

Imagem: CNI/Site

Confiança do empresariado industrial cai 1,4 ponto em outubro

Já o Índice de Confiança do Empresariado Industrial (ICEI), também medido regularmente pela CNI, registrou a segunda queda consecutiva no indicador neste mês.

Para o levantamento do mês de outubro, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) consultou 1.323 empresas, sendo 547 de pequeno porte, 483 de médio porte e 293 de grande porte, entre os dias 2 e 6 de outubro de 2023.

Desta vez, o ICEI caiu 1,4, ponto, passando de 51,9 pontos (em setembro) para 50,5 pontos, neste mês. Apesar da queda, a indústria segue confiante, pois o indicador está acima dos 50 pontos. Se forem considerados os dois últimos resultados, a Confiança da Indústria caiu 2,7 pontos.

O Índice de Condições Atuais, que mostra a avaliação sobre o momento econômico e sobre a própria empresa, recuou 1,7 ponto para 45,6 pontos. Segundo a CNI, “ao cair para mais abaixo da linha divisória dos 50 pontos, o indicador de outubro reflete uma avaliação de piora mais intensa e disseminada das condições atuais da economia brasileira e das empresas, na comparação com os últimos seis meses”.

O Índice de Expectativas também apresentou queda – 1,2 ponto – em outubro, ficando em 53,0 pontos. Mas, neste caso, a CNI avalia que, ao permanecer acima da linha divisória dos 50 pontos, “o número segue indicando otimismo da indústria para os próximos seis meses. Porém, a queda indica que o otimismo ficou mais fraco e menos disseminado em outubro.”

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