Fumaça das queimadas encobre Manaus há quase uma semana

População já sente os efeitos da poluição e Ibama enviará mais 149 brigadistas para reforçar o combate aos focos de incêndio no Amazonas
Fumaça encobriu a ponte do Rio Negro, em Manaus. Foto: William Duarte/ Rede Amazônica

Por Thalita Eduarda, com informações das Agências Brasil, Amazonas e site G1

Encoberta por fumaça de queimadas desde segunda-feira, 9, Manaus segue como uma das cidades com pior qualidade do ar no mundo. Prédios, como o Teatro Amazonas, e outros imóveis sumiram, mais de uma vez, em meio à nuvem cinzenta.

No monitoramento da World Air Pollution, com dados oficiais de 130 países, o ar da cidade foi considerado “perigoso”, com graves danos à saúde da população. Já segundo a plataforma Selva, desenvolvida pela Universidade Estadual do Amazonas, que monitora os níveis de poluição do ar na capital, a qualidade do ar está péssima em diversos pontos da cidade.

Pelos dados da Selva, a poluição ultrapassou os limites da escala que mede os níveis de partículas por metro cúbico. Para se ter uma ideia, em uma escala que vai de 0 a 160 microgramas por metro cúbico (µg/m3), Manaus chegou a atingir, na quarta-feira, 11, 499 µg/m3, entre 8h e 9h. Atingindo seu pico de poluição às 11h, com 485 µg/m3.

Nesta sexta-feira, 13, a escala chegou, entre 12h e 13h, 177,53 µg/m3. O recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é que a qualidade do ar, não ultrapasse, no máximo, 20 microgramas por metro cúbico (µg/m³).

Manaus encoberta pela fumaça das queimadas. Foto: REUTERS/ Bruno Kelly

A fumaça, que encobre Manaus desde agosto deste ano, já começou a mostrar efeito na saúde dos manauaras. Apesar de boa parte dos moradores ter voltado a fazer o uso constante de máscaras, muitos têm relatado sintomas como falta de ar, tontura e sensação de queimação nos olhos. As aulas da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) chegaram a ser suspensas nesta semana.

“Eu tenho sinusite, rinite e pouca resistência respiratória e tenho me sentido muito cansada por conta da fumaça. Ontem [quinta-feira, 12] fui ao supermercado e passei mal no meio do caminho, porque a minha pressão baixou. Eu não estava conseguindo respirar. Esses dias aqui em Manaus têm sido extremamente ruins e perigosos.” relata a estudante de Administração, da Universidade Federal do Amazonas, de 21 anos, Lidiany Viana.

Lidiany Viana fala ainda, que apesar de seguir as precauções passadas pela Prefeitura de Manaus, como se hidratar e usar máscaras ao sair nas ruas, o impacto da fumaça vem afetando bastante a qualidade de vida dela e das pessoas que moram com ela. “A gente tá sendo muito prejudicado, o que está aliviando é fazer inalação e lavagem nasal. Sair de casa é muito ruim. A gente sai já pensando ‘Será se a gente vai passar mal?’”, acrescentou a jovem.

Situação no município de Autazes também é preocupante

Na avaliação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), o desmatamento acumulado no estado, a influência do fenômeno El Niño e as mudanças climáticas agravaram a seca no Amazonas neste ano.

No total, segundo o MMA, os incêndios no Amazonas já somam 1.664 focos de fogo ativos, até esta quinta-feira, 12, identificados por satélite. Os municípios amazonenses em situação mais crítica são os de Autazes, com 141 focos de fogo, seguido por Careiro com 110.

Segundo MMA, se comparados a outubro de 2022, os focos de calor cresceram 147% este mês, no estado do Amazonas, o que reverteu a tendência observada até setembro de redução dos incêndios no estado.

Da esqueda para a direita, o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, e os ministros do Meio Ambiente, Marina Silva, e Desenvolvimento Regional, Valdez Gois, durante coletiva na sexta-feira, 13. Foto: José Cruz/ Agência Brasil

Governo federal disponibilizará helicópteros para ações de combate no Estado

Para ajudar a controlar a situação, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) vai mandar reforço de 149 brigadistas para o Amazonas. Com isso, 289 brigadistas do Ibama devem atuar contra os focos de fogo.

“É um cenário bastante preocupante e que, portanto, vai exigir do poder público e da sociedade, de um modo geral, uma ação de consciência ao que está acontecendo no mundo. Não estamos vivendo mais as regularidades climáticas com as quais convivíamos. Esse diagnóstico foi feito há mais de 30 anos de que esse momento chegaria e, infelizmente, ele chegou”, destacou a ministra do MMA, Marina Silva, em entrevista coletiva à imprensa nesta sexta-feira.

Ela apelou para que a sociedade não realize mais queimadas na região. O governo ainda prometeu disponibilizar dois helicópteros para combate aos incêndios no estado. Essas aeronaves atuarão junto com outras, cedidas pelo Mato Grosso, Distrito Federal e Marinha, que já vêm sendo utilizadas nas ações de combate a focos de incêndio na Região Metropolitana de Manaus.

Crise humanitária – O ministro da Integração e Desenvolvimento Nacional, Waldez Góes, acrescentou que o governo vai enviar a quantidade de recursos que forem necessários para combater a crise humanitária no Amazonas. “Nós colocaremos recursos diretamente nos municípios só para ajuda humanitária. Quanto aos recursos, é o que for necessário de acordo com os planos que estão sendo apresentados. Essa é a orientação do presidente Lula. Se for necessário ter uma nova medida provisória para atender a Amazônia, como já foram feitas outras vezes, certamente o presidente Lula fará”, afirmou o ministro, durante a coletiva.

Até o momento, 55 municípios já declararam situação de emergência e outros 5 estão em alerta e devem entrar em emergência nos próximos dias. O Governo federal também se comprometeu a disponibilizar R$ 30 milhões para os municípios prioritários do Amazonas, e mais R$ 35 milhões do Fundo Amazônia para prevenção e combate a incêndios na região.

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