Iniciativa de escolas de São Paulo em busca da inclusão é destaque no Dia das Mães

Instituições de ensino tem optado por deixar de celebrar datas mais tradicionais como o Dia das Mães e o Dia dos Pais para passar a comemorar o Dia da Família, ou o Dia de Quem Cuida de Mim

Qual a imagem que vem à mente quando lemos a palavra “família“? Existem famílias de todos os tipos, e a configuração mais tradicional – paimãe e filhos – está longe de ser a única.

Como forma de incluir e acolher todas as configurações familiares possíveis, algumas escolas têm optado por deixar de celebrar datas mais tradicionais como o Dia das Mães e o Dia dos Pais para passar a comemorar o “Dia da Família”, ou o “Dia de Quem Cuida de Mim”.

“Vocês podem estranhar o fato de que, em nossa escola, não há comemoração de algumas datas que se costumava comemorar em escolas antigamente”, diz um post na página do Facebook da Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Pérola Ellis Byington, de São Paulo, no dia 12 de agosto do ano passado, dois dias antes do Dia dos Pais.

“Entendemos que, muitas vezes, isso pode ser frustrante para algumas pessoas. Mas saibam que, em nossa escola, as crianças, todos os dias, têm oportunidade de brincar, fantasiar, serem felizes, serem cuidadas e participar de situações de afetos e relacionamentos saudáveis e inclusivos com adultos e outras crianças”, continua o post.

“Isso também não quer dizer que não comemoramos mais nada. Em outubro, por exemplo, teremos o ‘Dia de Quem Cuida de Mim’, quando celebraremos as pessoas que cuidam das crianças, todas elas. E nesse dia, as famílias serão convidadas para estarem conosco. Assim como outras festas, dias especiais e datas marcantes”.

A diretora da EMEI Pérola Ellis Byington, Fabíola Matte Bergamin, explicou que a decisão de instituir o ‘Dia de Quem Cuida de Mim’ foi uma construção coletiva com os funcionários da rede pública de ensino, enquanto eles buscavam mudar o currículo escolar infantil para que datas comemorativas deixassem de ser centrais.

“Para além disso, a gente tinha essa questão do princípio democrático das escolas públicas. O respeito às diversas configurações familiares, às diversas religiões”, explicou Bergamin. “A gente vê diversas configurações familiares, crianças que vivem com os avós, por exemplo, e a gente tem que buscar agregar esses diversos tipos de família, e não excluir”.

Na Escola Estadual Professor Alvino Bittencourt, que também fica em São Paulo, o “Dia de Quem Cuida de Mim” foi comemorado na sexta-feira (12). A diretora Simone Lopes Guidorizzi disse à CNN que a escola ficou lotada, e que a decisão de mudar o jeito de celebrar a família costuma ser recebida com muitos elogios pelos responsáveis.

“Nós observamos mudanças na configuração das famílias. As crianças são educadas e criadas por avós, dois pais, duas mães”, explicou Guidorizzi. Ela disse que antes era possível perceber a tristeza de algumas crianças em datas específicas nas quais elas não se encaixavam.

Existem diversos tipos de família. Foto: Getty Images

O “Dia de Quem Cuida de Mim” surgiu na E. E. Professor Alvino Bittencourt como solução para o desconforto, o medo da discriminação e a vergonha que algumas crianças sentiam em relação a sua estrutura familiar.

As duas diretoras pontuaram que, dessa forma, o evento fica mais abrangente e incentiva todos os familiares a participarem da vida escolar da criança. Ao invés de ser só para a mãe ou o pai, podem participar os avós, os tios, os irmãos.

Seguindo a linha dessas instituições de ensino, a Secretaria de Educação de São Paulo manifestou apoio a iniciativa de comemorar o “Dia da Família” ou o “Dia de Quem Cuida de Mim”, visando agregar outros tipos de formações familiares.

“Todas as unidades escolares têm autonomia para elaborar atividades e ações em comemoração ao Dia das Mães. Considerando a pluralidade e as diversas construções familiares, a Secretaria da Educação de SP recomenda que as escolas trabalhem o “Dia da Família” ou o “Dia de Quem Cuida de Mim”, promovendo assim uma integração com toda a comunidade escolar.”

Existem diversos tipos de família. Foto: Getty Images

O psicólogo Maycon Rodrigo Torres, membro do Laboratório de Psicanálise e Laço Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), avaliou, no entanto, que a medida de algumas escolas em substituir o Dia das Mães e o dia dos Pais pelo Dia da Família pode alguns aspectos negativos, e que é ideal que a diferenciação dessas comemorações continue acontecendo.

“A gente tem que levar em consideração que a função materna e paterna, e dos outros familiares, é uma função que ela não é óbvia, ela não é naturalmente dada. Então cada pessoa tem uma compreensão, uma expectativa em relação a isso”, afirmou.

“Particularmente, eu acho que é importante sim manter a diferenciação entre os dias, porque isso faz com que cada um dos envolvidos possa se sentir valorizado. É importante que tenha sim as datas específicas, pra que as pessoas possam se sentir representadas e reconhecidas”.

Já a psicóloga infantil Luana Ferraz Zanatta acredita que é importante que as comemorações se tornem mais inclusivas, para agregar todos os tipos de formações familiares.

“É importante as escolas celebrarem essas datas de forma mais inclusiva, por que existem diferentes formações familiares. Aquelas crianças que não tem nenhum dos pais, as que são criadas por tios ou avós, as que tem duas mães ou dois pais, crianças que tem apenas um dos responsáveis. Quando a gente coloca o Dia da Família, a gente acaba incluindo todas essas configurações”.

Luana reforçou também que a escola precisa, nessa época do ano, estar atenta com os alunos que não possuem contato com seus pais, seja por falecimento ou outros motivos.

“A escola tem um papel fundamental de cuidar do emocional do aluno no ambiente escolar, pra aí sim a gente conseguir falar da palavra inclusão com toda a potência que ela merece”.

Fonte: CNN

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