Jovem cientista da Amazônia cria repelente a partir de fruto regional 

Professor Zilmar Timóteo e o pesquisador Gustavo Botega - Foto: Ascom/UEMASUL.

Aos 17 anos, Gustavo Botega, comprovou a eficácia do tucum mirim contra diferentes tipos de insetos. Além de prêmios, o reconhecimento o levou a Israel, onde segue desenvolvendo pesquisas na área de genética de plantas.

Por: Yasmim Tabosa

O estudante e jovem pesquisador Gustavo Botega desenvolveu, por meio do programa de pré-iniciação científica “Cientista Aprendiz”, uma pesquisa sobre o potencial inseticida do fruto tucum mirim, uma planta típica da Amazônia e do Cerrado. O objetivo do estudo foi desenvolver um repelente eficaz e de menor custo financeiro.

Gustavo cursava o Ensino Médio na Escola Santa Teresinha, na cidade de Imperatriz, no Maranhão, quando conheceu a iniciativa. O programa é vinculado à Universidade Estadual da Região Tocantina do Maranhão (UEMASUL) e busca aprimorar as habilidades científicas dos participantes, propiciando experiências do universo acadêmico ainda no período escolar. 

O estudante afirma ter encontrado na ciência a oportunidade de transformar a própria curiosidade em algo útil à sociedade. 

“Ao desenvolver pesquisa você percebe que nem sempre vai conseguir obter os resultados esperados. Nem sempre a metodologia que você utilizou foi a mais adequada e, talvez, seja necessário parar e recalcular rotas. Isso me fez evoluir e ter uma capacidade maior de adaptação”, explica o pesquisador. 

Além dos conhecimentos científicos, o desenvolvimento da pesquisa proporcionou a Gustavo uma série de prêmios, bem como garantiu uma bolsa de estudos para Israel, onde ele segue desenvolvendo pesquisas na área de genética de plantas. O jovem foi o 2º brasileiro da história a receber, simultaneamente, o Prêmio Weizmann e a credencial para Regeneron ISEF, a maior feira de ciências do mundo.

Sobre a pesquisa 

O projeto de pesquisa, orientado pelo pró-reitor de Extensão e Assistência Estudantil da UEMASUL e coordenador do projeto, professor Zilmar Timóteo, leva como título “Potencial larvicida, inseticida e repelente dos princípios ativos do Tucum Mirim (astrocaryum acaule) no controle de artrópodes transmissores de arboviroses”. 

POTENCIAL LARVICIDA, INSETICIDA E REPELENTE DOS PRINCIPIOS ATIVOS DO TUCUM MIRIM – FEBRACE 2023

A ideia geral da iniciativa é utilizar os princípios ativos de um fruto regional, com abundância na Amazônia brasileira, para a criação de repelentes de baixo custo. 

Princípio ativo se trata de uma substância química ou grupo de substâncias que podem estar presentes em uma planta, animal ou outro organismo, sendo responsável por suas propriedades farmacológicas ou terapêuticas. Essas substâncias são capazes de interagir com o organismo vivo, desempenhando um papel específico no tratamento de doenças ou alívio de sintomas.

Cada fruto pode conter diferentes princípios ativos em concentrações variadas, o que determina suas propriedades medicinais únicas. No caso do tucum, encontrado na região norte do Estado do Tocantins, como nos municípios de São Bento do Tocantins, Cachoeirinha e Ananás, a população usa o extrato da polpa e o óleo da amêndoa do Tucum Mirim como unguento na prevenção de picadas de insetos, tanto em seres humanos, quanto em animais. 

Durante a pesquisa, foi realizada a coleta dos frutos, seguida de análises físicas do material, para então se extrair o álcool e o óleo do tucum-mirim. A partir daí, aconteceu a purificação das amostras e extração dos princípios ativos para os ensaios de eficácia da substância e construção de armadilhas para os mosquitos. 

O material extraído foi dividido em 4 amostras testadas em presuntos de porco (para simular o tecido que reveste o corpo). Durante o processo de avaliação comparativa com um determinado fármaco industrial, o repelente natural teve uma eficácia 40% maior.

Além disso, nos testes genéticos e moleculares, foi possível observar a alteração genética nos insetos, provocando a morte de larvas e indivíduos estéreis. 

É possível encontrar mais detalhes da pesquisa no banner de apresentação do trabalho: https://virtual.febrace.org.br/2023/BIO/1732/poster/ 

Potencial para o mercado 

Segundo o relatório ‘MERCADO REPELENTE DE INSETOS – CRESCIMENTO, TENDÊNCIAS E PREVISÕES (2023-2028)’ existe uma tendência na procura de produtos de saúde com repelentes agravada por eventos globais como a Pandemia de Covid-19, além da crescente ameaça de doenças, como dengue, malária, Chikungunya, vírus Zika e febre amarela.

Em 2020, o mercado repelente de insetos foi avaliado em US $4.150,91 milhões e a expectativa é registrar um uma taxa de crescimento anual de 6,85% durante o período de previsão de 2021-2026.

Ainda assim, segundo a pesquisa, o mercado de repelente encontra-se estagnado e competitivo, com a presença de diversos players globais e regionais, tendo como destaque a empresa SC Johnson & Son, que é líder de mercado, seguida pelas marcas Spectrum e Reckitt Benckiser Group PLC, em 2020.

De acordo com a Nielsen Radar, em 2016, no Brasil, foram R$607 milhões em vendas de repelentes, 84% maior que no ano anterior.

Segundo Gustavo ainda não existe uma previsão de comercialização do produto porque a pesquisa se encontra em fase de testes, mas a ideia é pôr em prática esse processo em breve. 

“Pretendo investir na patenteação para proteger a propriedade intelectual da pesquisa. Nós trabalhamos sim, com a possibilidade de produzir em escala farmacológica e entrar na área do empreendedorismo, mas para isso precisamos testar e ver questões de parcerias”, explica o estudante.

Entrevistas

Rolar para cima