“Nós cuidamos das nossas pessoas para que elas cuidem do nosso negócio”

Mineira de nascimento, Lídia Abdalla chegou em Brasília em 1999, recém formada em farmácia bioquímica na Universidade Federal de Ouro Preto. Chegou a trabalhar em hospital e drogaria, mas sempre buscando algo na área de laboratório. Foi quando entrou como trainee no Laboratório Sabin em agosto de 1999. Após 25 anos, agora ela é presidente-executiva do Grupo Sabin, referência de liderança e protagonismo feminino no Brasil. O grupo empresarial também contribui para a responsabilidade e inclusão social, melhorando a qualidade de vida das pessoas. Saiba mais nesta entrevista exclusiva concedia à Revista PIM Amazônia. Boa Leitura!

VOCÊ É NATURAL DE MINAS GERAIS. O QUE A FEZ VIR PARA O DISTRITO FEDERAL?

Sou nascida no sul de Minas Gerais, vim para Brasília em 1999, então já moro aqui há quase 25 anos. Sou farmacêutica bioquímica de formação e me formei na Universidade Federal de Ouro Preto, que tem a primeira escola de farmácia da América Latina. Na Universidade Federal também tem escola de Minas, que tem cursos tradicionais de engenharia, e lá eu conheci meu namorado, que hoje é meu marido, que é engenheiro civil.

Ele se formou um ano antes de mim e veio para Brasília. Na época teve uma oportunidade de trabalhar em Brasília. Eu me formei um ano depois e o curso de farmácia é um curso muito amplo, com várias formas de atuação drogaria, farmácia hospitalar, manipulação, e laboratório, medicina laboratorial. Desde o meu segundo ano de faculdade que eu já tinha decidido que eu queria trabalhar com laboratório. Era o que mais me encantava e é que eu gostava. Então eu cheguei em Brasília em 1999, meu marido na área de engenharia, não conhecia nada de saúde, nem de oportunidades na área de saúde em Brasília. Eu cheguei a trabalhar em hospital, em drogaria, mas procurando uma oportunidade em laboratório. E foi quando eu encontrei uma vaga, na época era uma oportunidade de trainee, eu era recém formada e entrei no Sabin em agosto de 1999.

VOCÊ ESTÁ PRATICAMENTE HÁ 25 ANOS NO SABIN, E ACOMPANHOU BOA PARTE DA HISTÓRIA DO GRUPO, VOCÊ PODIA FALAR UM POUCO DA SUA TRAJETÓRIA NA EMPRESA?

Eu entrei em agosto de 1999 e o Sabin era o terceiro laboratório de Brasília na época, era pequeno ainda, e tinha em torno de 90 colaboradores. Na época eu entrei como farmacêutica, como bioquímica, atuei na área técnica muitos anos. Então atuei na área de bioquímica, de hormônios, imunologia, fiz meu mestrado na área de Endocrinologia e Ciências da Saúde, na Universidade de Brasília, me especializei na minha área de formação, e em 2001assumi a coordenação dessa área de hormônio, de endocrinologia, imunologia e em 2003 eu assumi a gerência técnica do grupo.

Era o momento quando eu entrei, que a doutora Janete e a doutora Sandra, que são as fundadoras do Grupo, já estavam buscando os primeiros selos de qualidade e as certificações. O primeiro selo nosso foi a ISO 9001.Eu atuava na área técnica, mas já gostava de liderança. Então logo assumi cargos de liderança, de coordenação e gerente técnico em 2003. Em 2009 já era o maior laboratório de Brasília, já tínhamos crescido. Foi quando a gente criou três superintendências e eu assumi na época a superintendência técnica. Neste momento eu já tinha comigo não só as áreas técnicas, mas eu já tinha a área de suprimentos, de compras, que veio para minha gerência em 2003.

“O que nós acreditamos que move os nossos negócios são as pessoas”

Lídia Abdalla

Em 2009, com a superintendência, veio também para a minha área, a área de tecnologia, quando ninguém imaginava que a tecnologia se tornaria o que se tornou hoje, mas que foi também mais um desafio na minha carreira de buscar também esse conhecimento. Em 2010 nós desenhamos o plano de crescimento do Sabin. Assumi a presidência do grupo em janeiro de 2014, e é onde estou [até hoje], assumi com um grupo de quatro diretores. Hoje já sou eu e mais sete diretores. Muitas vezes as pessoas perguntam assim: “Ah, é ruim, você estar fazendo carreira 23 anos na mesma empresa?” Eu digo que a experiência que eu acumulei ao longo desses 23 anos no Sabin com tudo o que nós fizemos e toda a transformação que a empresa realizou nesses anos, eu tenho uma experiência acumulada e talvez se eu tivesse passado por outras quatro, cinco empresas, eu não teria o conhecimento que eu adquiri ao longo desses anos.

O SABIN INVESTE 20% DO SEU ORÇAMENTO ANUAL EM POLÍTICAS DE RECURSOS HUMANOS. POR QUE ESSA PREOCUPAÇÃO TÃO GRANDE COM AS PESSOAS QUE FAZEM PARTE DA EMPRESA?

O que nós acreditamos é que o que move os nossos negócios são as pessoas. Hoje, o Sabin tem 350 unidades de atendimento ao cliente em 78 cidades brasileiras. São diferentes negócios e esses 7 mil colaboradores em cada uma dessas cidades, na sua atuação à frente da nossa unidade, que estão ali atendendo o nosso cliente, recebendo, levando a marca do Sabin para tantas regiões onde muitas vezes não somos conhecidos, as pessoas para fazerem isso, elas têm que ter aquele senso de dono, elas têm que sentir orgulho da empresa que trabalha, elas têm que ter autonomia, liberdade e poder de decisão.

E as pessoas fazem isso, tem esse engajamento, quando elas se sentem reconhecidas, valorizadas. Elas entendem que aqui elas têm oportunidade de crescimento, a gente valoriza muito o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, qualidade de vida. Investimos muito em capacitação, educação continuada. Claro que temos um programa robusto de benefícios, patamares de remuneração condizentes com o mercado, mas não só o programa de benefícios que nós damos para os nossos colaboradores, mas também todos esses programas onde a gente investe muito na qualidade de vida, trazer a família para dentro desses programas também participando. Isso gera o engajamento, o comprometimento das pessoas e de fato, uma conexão com a empresa que é muito forte, além de carreira mesmo, de saberem que aqui elas podem buscar conhecimento, novos aprendizados e que quando tiver oportunidade, seja de uma liderança, de um projeto novo, elas serão reconhecidas. O Sabin teve isso, 99% dos cargos de liderança vêm de dentro da empresa. A gente busca fora no mercado competências que muitas vezes nós não temos aqui e não conseguimos desenvolver.

O SABIN POSSUI UM ALTO ÍNDICE DE MULHERES OCUPANDO CARGOS DE CHEFIA. EM SUA VISÃO, QUAIS SÃO OS BENEFÍCIOS DESSA PRESENÇA FEMININA NA LIDERANÇA­?

O Sabin é uma empresa de alma feminina, fundada por duas mulheres, tem uma presidente mulher, tantas diretorias e tantas lideranças femininas. E somos um diferencial. Somos uma empresa diferente de outras no mercado. Nós sabemos disso. No setor de saúde é muito comum que as empresas têm uma número [grande] de mulheres trabalhando, seja pela formação dos cursos na saúde, tem a questão muito voltada para a sensibilidade, para o acolhimento, que são características mesmo competências natas das mulheres. Mas o que nós observamos, inclusive em empresas de saúde, é que todas as empresas têm 60, 70, 80% de mulheres trabalhando, mas quando você vai para a liderança, esse indicador não acompanha, sobretudo a alta liderança. Aí, nós percebemos de fato o mesmo cenário de outras empresas, onde a gente não tem essa representatividade feminina, e no Sabin de fato é diferente.

O GRUPO SABIN É HOJE UM DOS PRINCIPAIS PLAYERS NO SETOR DE MEDICINA DIAGNÓSTICA DO PAÍS. ATUA EM TODAS AS REGIÕES DO PAÍS, COM FATURAMENTO DE R$ 1,5 BILHÃO EM 2021 E MAIS DE 7 MIL COLABORADORES. QUAL É O SEGREDO DE TODO ESSE SUCESSO?

É um conjunto de decisões, pilares e de trabalho que temos na empresa. Não existe uma fórmula pronta. É o resultado de um trabalho muito grande, intenso, de toda a organização, de todo o nosso time, mas com muita dedicação. Primeiro com muito foco no cliente, sempre olhando para o que é diferencial para o cliente. A melhor forma de atender, o respeito, o cuidado com as pessoas, é o que todo mundo busca no serviço de saúde. E muito investimento em qualidade, nas certificações, em inovação e em tecnologia. Hoje o nosso negócio é ancorado em tecnologia, transformação digital. Então é seguir investindo continuamente em tecnologia.

A nossa expansão geográfica, levando a marca e o serviço para outras regiões do país. Começamos o nosso crescimento pela região Norte e Centro-Oeste, que naquele momento nem eram as regiões que todos buscam para expandir. Falavam muito, vocês não vão para São Paulo e para o Rio [de Janeiro]? E a gente falava, não, nós somos do Centro-Oeste, nós somos de Brasília. Nós queremos começar a nossa expansão por essas regiões que estão mais próximas de nós. Hoje nós estamos presentes em Manaus, Amazonas, Belém do Pará, Tocantins, Palmas e já em mais cinco cidades do estado de Tocantins, Roraima, Boa Vista também. E de fato o que nós encontramos foi isso. Foram regiões onde as pessoas, a população, valorizam serviços diferenciados. Nossos diferenciais de qualidade e tivemos uma receptividade muito grande em todas essas regiões.

QUAIS AS PRINCIPAIS DIFICULDADES DE SE TRABALHAR COM SAÚDE NO BRASIL E NA REGIÃO AMAZÔNICA?

No Brasil ou na região amazônica as dificuldades são semelhantes. Temos primeiro, um Brasil muito diverso culturalmente e muito heterogêneo e, sobretudo, de infraestrutura dos sistemas de saúde, com modelos de diferentes fontes de financiamento e convênios. A grande maioria da nossa receita vem de convênios, ela vem das fontes pagadoras locais. Normalmente, nós chegamos nas diferentes regiões onde muitas vezes a marca não é conhecida. Então nós temos que fazer todo um trabalho de contar para a população, para o cliente, como nós somos. Por isso, nós investimos  muito em capacitação de mão de obra, em formação dos nossos profissionais.

Mas de novo, tem muita essência do grupo, que é a questão da ousadia, da coragem e do propósito de fato, de estar levando o nosso serviço de qualidade, de cuidado com as pessoas, de inspiração no cuidar das pessoas para as diferentes regiões. Nós vamos vencendo os obstáculos e aí  encontramos inúmeras oportunidades em várias dessas regiões. Em Manaus, somos hoje a marca líder, o maior laboratório da cidade, depois o nosso núcleo técnico é o segundo maior, depois de Brasília. O maior núcleo técnico nosso no Brasil é o de Manaus.

O QUE VOCÊ DIRIA PARA UM EMPRESÁRIO QUE NÃO CONHECE O POTENCIAL ECONÔMICO DA AMAZÔNIA?

O que eu diria é que sem dúvida alguma, terão barreiras de entrada, obstáculos, dificuldades, como em todo negócio, como em todo segmento. E diferentes, claro, pelas regiões da Amazônia, mas que são regiões com muitas oportunidades, como eu já citei, grandes populações que valorizam qualidade, querem serviços diferenciados, marcas que levem serviços de qualidade e que sigam também investindo nas suas cidades, nas suas regiões. Nós temos no Sabin, o Instituto Sabin que leva vários dos nossos projetos sociais e que tivemos muita receptividade também em todas as regiões que nós chegamos da Amazônia, mostrando que além de levar os nossos serviços, além de gerar empregos na região, além de fazer a economia girar, nós contribuímos também com a redução da desigualdade social, com a melhor qualidade de vida daquela população. Levamos não só o apoio, muitas vezes assistencial, através do Instituto Sabin, mas também o nosso conhecimento, as nossas experiências, o modelo de empreendedorismo que o Sabin é para essas regiões. O que eu digo é que vale a pena vencer os obstáculos para encontrarmos grandes oportunidades de crescimento do negócio e também de muitos aprendizados.

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