“O nosso objetivo é mostrar para o mundo que nós temos grandes oportunidades na Amazônia Legal, não apenas em Belém”

Edição 166

O empresário Rubens Magno Junior nasceu em Boa Vista, Roraima, mas tem uma relação de longa data com o estado do Pará, onde cursou Administração de Empresas e pós-graduação em Marketing. O Pará também foi onde Rubens empreendeu, como franqueado da marca Pizza Hut. Sua trajetória conta ainda com a atuação como presidente da Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil – Pará (ADVB/PA), diretor financeiro da Associação de Lojistas do Boulevard Shopping (ALBS) e professor na Fundação Getúlio Vargas (FGV/Belém), além da experiência profissional em empresas de grande porte, como a Nestlé, onde trabalhou por 15 anos.

Atualmente, está no segundo mandato como diretor-superintendente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Pará), onde, desde 2019, vem direcionando as ações para eixos como pluralidade, inovação e sustentabilidade, por acreditar que, se trabalhados em conjunto, contribuem para alavancar a região Amazônica. Nesta entrevista concedida à PIM Amazônia, Rubens Magno fala sobre a contribuição dos pequenos negócios para a economia e as ações do Sebrae Pará, que em 2024 completa 50 anos, para incentivar o crescimento e a consolidação dos empreendedores locais e regionais a partir das oportunidades que serão geradas com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), um dos mais importantes eventos sobre mudanças climáticas do mundo, em 2025, na capital paraense, Belém. Aproveite a leitura!

QUAL A IMPORTÂNCIA DOS MICRO E PEQUENOS NEGÓCIOS PARA O BRASIL E, EM ESPECIAL, PARA A AMAZÔNIA?

No mundo todo, a base da economia é sempre formada pelos pequenos negócios, as micro e pequenas empresas. No Brasil, não é diferente. No Brasil, 99% das empresas são micro e pequenas empresas e, dessa forma, a gente precisa entender e dar a relevância do Sebrae que, nesses 50 anos, tem investido e trabalhado na micro e pequena empresa. Nós estamos falando que a grande maioria dos negócios do Brasil são empresas ME (microempresa), EPP (empresa de pequeno porte) e MEI (microempreendedor individual). Um terço dessas empresas também gera um Produto Interno Bruto e quase 60% dessas micro e pequenas empresas assinam as carteiras dos trabalhadores no Brasil. A relevância é muito grande, mas muitas vezes a gente, no dia a dia, não consegue enxergar.

Isso não é diferente para o estado do Pará, que tem um recorte muito parecido, para todos os estados da região Norte e todos os estados brasileiros. Você tem variações mínimas, mas, de maneira geral, mais de 90% das empresas no Brasil, por estado, são micro e pequenas empresas que retomam todo esse cenário.

COMO O SEBRAE/PA TEM ATUADO NO FOMENTO ÀS OPORTUNIDADES QUE VÃO SURGIR COM A REALIZAÇÃO DA COP 30, EM BELÉM, PARA OS PEQUENOS NEGÓCIOS? 

O Sebrae Pará tem trabalhado de maneira muito focada para aproveitar esse grande momento. Nós já tivemos oportunidade de participar de duas COP: a COP 27, em Sharm El-Sheikh, no Egito, e a COP 28, que aconteceu em Dubai (nos Emirados Árabes Unidos), em 2023. Neste ano de 2024, levaremos, mais uma vez, uma equipe – agora para o Azerbaijão-, para participarmos da nossa terceira COP e, principalmente, olharmos de maneira estruturada para quais estratégias podemos ter êxito e algo positivo para entregarmos no Pará, em 2025. Eu não tenho dúvida nenhuma em afirmar que a COP no Brasil, a COP na Amazônia, e a COP em Belém – que é a COP do Brasil, vai ser um sucesso. 

“A COP-30 É UM EVENTO DO BRASIL. É UM EVENTO QUE OCORRERÁ EM BELÉM, NA AMAZÔNIA, MAS QUE TERÁ UM REFLEXO MUITO GRANDE NO POSICIONAMENTO DO BRASIL COMO UMA GRANDE LIDERANÇA PARA AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS”

Nós teremos mais de 100 mil pessoas que estarão presentes na COP 30. Além de estarem discutindo as questões climáticas, que é o eixo principal, elas também vão consumir diariamente: mobilidade urbana, economia criativa, hospitalidade – através dos hotéis -, e alimentos e bebidas. Esses quatro eixos foram escolhidos pelo Sebrae do Pará para a realização de grandes investimentos. Hoje, nós já temos pessoas formadas em inglês instrumental, por exemplo, para receber pessoas dentro dos seus carros de aplicativos, ou nos seus táxis. Ou, simplesmente, se (os turistas) forem atravessar para uma das 39 ilhas de Belém, barqueiros que já estão estudando inglês para, minimamente, conversarem com turistas que aqui vão estar.

O SEBRAE ADAPTOU TANTO O SEU ESPAÇO NA SEDE, QUANTO O SEU SITE, CRIANDO O “SEBRAE COP 30”.  O QUE A UNIDADE OFERECE A QUEM A PROCURA, SEJA NO ESPAÇO FÍSICO OU NO ON-LINE?

O Sebrae se preocupou de maneira muito direta com a COP 30, como um todo, tanto que criamos uma agência física para isso. Mas, para também abranger empreendedores que não estão na capital, nós fizemos uma agência digital e um portal específico para todos esses clientes. Hoje, de maneira presencial e virtual, nós temos como preparar todos esses nossos empreendedores para recebermos essas mais de 100 mil pessoas que aqui estarão em novembro de 2025. Nosso objetivo é, principalmente, fazer com que essas pessoas tenham experiências extraordinárias aqui na Amazônia, para que possam, ao voltar para os seus países, para as suas cidades, falar que o Brasil é um local preparado, que a Amazônia, além das suas riquezas naturais, tem também uma infraestrutura completamente adaptada para receber turistas de qualquer lugar do mundo. 

NO PORTAL, ESTÁ DISPONÍVEL UM E-BOOK COM FOCO NA COP 30. PODE COMENTAR UM POUCO SOBRE ELE?

Dentro desse processo digital, nós criamos várias frentes do trabalho, uma delas foi o nosso e-book. Dentro desse material, você tem diversas leituras para oportunidades de negócios que estão acontecendo agora, que acontecerão no período da COP e que após a COP passar também serão utilizados. Nós teremos também no ambiente virtual, a criação de webséries, por exemplo, de ações que o Sebrae vem fazendo para a construção e consolidação desses diversos negócios. O que nós queremos é mostrar para o empreendedor que nós temos diversas possibilidades, físicas ou virtuais, de fazer com que o seu negócio, cada vez mais, evolua e tenha padrões internacionais de atendimento.

COMO O SEBRAE PODE AMPLIAR AS OPORTUNIDADES PARA OS EMPREENDEDORES DO INTERIOR PARAENSE E DOS DEMAIS ESTADOS DA AMAZÔNIA? 

Para a ampliação do nosso trabalho, a gente, além de ter a Agência COP 30, em Belém, onde nós temos, por exemplo, um container que simula um quarto de hotel, além de diversas salas, onde acontecem fisicamente todas essas capacitações, temos também um ambiente virtual. E a nossa maneira também de incluir, não só o interior do Estado do Pará, mas também os outros municípios da Amazônia Legal, é através das nossas “Salas do Empreendedor”, que são salas, através de convênios feitos com as prefeituras, onde a gente transforma uma pessoa local em um agente de desenvolvimento local e essa pessoa começa a trabalhar, especificamente, negócios naqueles municípios que tenham aderência com a COP 30.

O nosso objetivo não é deixar ninguém de fora, pelo contrário, é mostrar para o mundo que nós temos grandes oportunidades na Amazônia Legal, não apenas em Belém.

EXISTE ALGUM MOVIMENTO DE INTEGRAÇÃO DA UNIDADE DO SEBRAE PARÁ A OUTRAS UNIDADES DO SEBRAE, NA AMAZÔNIA, PARA PROMOVER OPORTUNIDADES?

A nossa Associação dos Sebraes do Brasil – Abase – tem se movimentado de maneira muito célere para que todos os estados da Amazônia Legal e que os Sebraes se integrem. A gente tem uma junção muito importante junto ao Consórcio de Governadores da Amazônia Legal, que já existe, e que hoje, o governador do nosso estado, Helder Barbalho – a quem eu agradeço muito por todo o suporte e apoio que tem dado aos empreendedores -, pilota esse Consórcio. Dessa forma, o Sebrae do Pará e todos os Sebraes da Amazônia Legal têm se integrado com os governadores de cada estado. E o Sebrae do Pará tem pilotado isso, tanto que, no final de fevereiro e início de março, nós faremos a primeira grande reunião de todos os Sebraes do Brasil aqui no Estado do Pará. Já estamos neste momento de organização, onde faremos o lançamento, para todos os 81 diretores dos Sebraes do Brasil, da nossa estratégia de COP 30 do Estado do Pará, e, principalmente, trabalharemos de que forma os outros Sebraes da Amazônia e do Brasil se integrarão nesse trabalho. Isso é uma prova de que o Sebrae não está preocupado em apenas trabalhar o Estado do Pará. Esse é um movimento importante, que todos nós – empreendedores, governadores, lideranças – precisamos, cada vez mais, ter consciência de que esse evento é um evento do Brasil. É um evento que ocorrerá em Belém, na Amazônia, mas que terá um reflexo muito grande no posicionamento do Brasil como uma grande liderança para as mudanças climáticas.

O QUE FAZ O SEBRAE PARÁ SER UMA DAS UNIDADES QUE SE DESTACAM HOJE, SEJA EM TERMOS DE ORÇAMENTO OU SUPORTE AO EMPRESARIADO?

Quando nós chegamos, em 2019, tínhamos alguns números não tão favoráveis. Mas o nosso time é aguerrido, um time que tem muita vontade. E, hoje, somos um dos melhores do Brasil. O Sebrae do Pará tem o grande orgulho de dizer que hoje é um Sebrae de destaque. Isso é fruto de muito trabalho, de muita vontade, mas também de uma grande pedra preciosa que nós temos na mão e que estamos fazendo uma lapidação de maneira muito certa e muito acelerada. 

O nosso time tem grande valor. E eu falo isso porque hoje somos um Sebrae, que sim, tem um destaque regionalmente, muito grande: somos o Sebrae de maior tamanho da Região Norte e com os maiores números da região, inclusive de atendimento. Mas, também, quando a gente olha para os destaques de maneira nacional, já temos números expressivos. Quando, por exemplo, temos eventos em que as inscrições são feitas em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Brasília, os nossos números são muito parecidos. E eu não estou falando de maneira proporcional, eu estou falando de maneira direta. 

Isso mostra que os números do Sebrae hoje são expressivos e que nós somos premiados, inclusive, temos a honra de ter prêmios nacionais – prêmios de jornalismo nacional, prêmios de prefeitos empreendedores do Estado do Pará recebendo prêmios nacionais, temos prêmios de professores que têm projetos pautados em empreendedorismo também daqui do Estado do Pará. Temos, por exemplo, marcas de atendimento – temos a terceira agência com melhor atendimento do Brasil.

Temos operadores de atendimento, analistas do Sebrae do Estado do Pará, que estão entre os oito melhores do Brasil. Temos, sim, grande destaque e isso é fruto de uma equipe que cada vez mais se preocupa com os seus clientes, que são as pessoas que fazem negócios na Amazônia.

A BIOECONOMIA É UM DOS GRANDES POTENCIAIS DE DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA. QUAL A IMPORTÂNCIA DO POLO IMPLEMENTADO PELO SEBRAE NA REGIÃO DO BAIXO AMAZONAS?

Quando nós chegamos, em 2019, percebemos que alguns Sebraes tinham identidades nos seus negócios. O do Rio de Janeiro falava bastante de economia criativa, o de Minas Gerais falava muito em educação empreendedora, o de Santa Catarina falava bastante sobre inovação, e me incomodava muito perceber que nós daqui da região, não tínhamos uma identidade definida. 

A sustentabilidade já era algo que vinha sendo trabalhado pelo Mato Grosso. Essa é uma pauta importante para a Amazônia e o Mato Grosso, fazendo parte da Amazônia Legal, de maneira muito célere, há alguns anos pegou essa pauta. E eu fiquei pensando de que forma nós poderíamos fazer com que o Sebrae Pará fosse visto no Brasil e no mundo como algo importante através de uma identidade. Naquele momento, em 2019, me veio à cabeça fazermos algo relacionado à gastronomia. Então eu pensei: por que não fazer o Centro Sebrae de Gastronomia do Brasil ou Gastronomia da Amazônia aqui no estado? Veio a pandemia (da covid-19) e aquele sonho era apenas um embrião que não conseguiu, naquele momento, tomar corpo.

Mas no começo de 2022, a gente começou a perceber que nós tínhamos um grande potencial para a identidade da bioeconomia. Começamos a preparar, internamente, uma possibilidade de criar um polo de bioeconomia para o Brasil a partir da Amazônia. E tomamos a decisão de criá-lo, mas não na capital, naquele momento. Colocamos esse polo em Belterra, para criarmos lá, dentro do campo, na região, um polo específico para trabalharmos o desenvolvimento da bioeconomia através dos povos originários, através da população rural e das pessoas que estão no campo. Esse projeto tem crescido bastante, a gente tem trabalhado de maneira muito célere. Já temos pessoas que estão trazendo resultados efetivos. Já temos hoje exportação de produtos de bioeconomia vindos daquele polo e trabalhados também em outras regiões. O nosso objetivo é apenas ensaiar aquele polo e dali levarmos, através desse conhecimento adquirido em Belterra, polos para outras regiões da Amazônia e também fazer com que outros biomas – o Cerrado, a Caatinga -, tenham seu polo de bioeconomia. Esse é apenas um ensaio que já está dando frutos positivos.

QUAL O RECADO PARA AS PESSOAS QUE JÁ ATUAM COMO MICRO E PEQUENOS EMPREENDEDORES, OU QUE PRETENDEM EMPREENDER DURANTE A COP 30, MAS NÃO SABEM COMO? 

Eu quero fazer um convite para você que vive na Amazônia. Nós temos uma grande oportunidade hoje que é olhar para novembro de 2025 e perceber que nós temos uma grande chance de virada de página para a Amazônia. Mais de 100 mil pessoas virão para cá discutir sobre o clima e, se a gente trabalhar da forma correta, certamente conseguiremos mudar a página da vida dos nossos futuros amazônidas, dos nossos filhos, dos nossos netos. 

Eu digo isso porque precisamos acreditar que esse evento vai dar certo. Eu não tenho dúvida que dará, mas, quanto mais pessoas enxergarem que há uma grande oportunidade e iniciarem hoje a adequação e melhora, principalmente, na maneira adequada de recebermos pessoas de fora, nós teremos a grande possibilidade de fazer o que, há alguns anos, a Bahia fez; o que, há alguns anos, o Ceará fez: mudar a cabeça dos seus empreendedores para receberem pessoas de fora. Hoje temos o turismo, por exemplo, nesses dois estados como grandes vetores. Nós receberemos apenas em 15 dias mais de 100 mil pessoas que, se soubermos tratar da forma certa, atender da forma certa, fazer com que a locomoção dessas pessoas seja minimamente adequada e, principalmente, que elas tenham uma experiência amazônica positiva, nós teremos uma grande possibilidade de eternamente termos, diariamente, milhares de turistas do mundo todo na nossa região. 

É muito importante mencionar que o turismo é transversal. Com o turismo, ganha um borracheiro porque mais carros andarão. Ganhará a pessoa do campo porque mais pessoas irão comer e precisarão de mais comida e plantio. Por sua vez, o maior plantio precisa de mais combustível, precisa de mais médicos, precisa de mais tudo, porque, dessa forma, nós temos como capilarizar e, principalmente, pulverizar os investimentos que vêm de fora para dentro e que ficarão aqui para que a riqueza fique internamente na Amazônia Legal.

Eu finalizo essa minha fala convidando você, que é empreendedor ou que quer ser empreendedor, para se juntar ao Sebrae e, cada vez mais, alavancar o seu negócio e chegar a patamares extraordinários. Nós temos uma história de 50 anos, e, nesses 50 anos, nós aprendemos bastante. Erramos algumas vezes, mas até com esses erros, conseguimos aprender muita coisa. Dessa forma, estamos preparados para preparar você, para fazer com que o seu negócio realmente chegue nos patamares que são necessários para nós mudarmos a história da população daqui da nossa terra, daqui do Estado do Pará, daqui da Região Norte, da Amazônia Legal, e, certamente, do Brasil todo. Vem fazer uma COP diferente. Será a COP da Amazônia. Será a maior COP de todos os tempos. Nós, do Sebrae, estamos preparados para mudar a história de vida do nosso povo. É Sebrae presente.

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