Seca já compromete produção agrícola familiar em parte da Amazônia

Dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais indicam aumento no número de municípios com mais de 80% das áreas agroprodutivas afetadas pela seca na região
Comunidade na zona rural de Parintins (AM). Foto: Jean Beltrão/ Rede Amazônica

Da Redação, com informações do MCTI

As informações do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), divulgadas na quarta-feira, 4, indicam que a seca que atinge a Amazônia aumentou o número de municípios com mais de 80% das áreas agrícolas, incluindo pastagens, impactadas pela estiagem em setembro.

A falta de chuva, o aumento da temperatura e a redução na umidade do solo já afetam áreas destinadas para a agricultura e a pecuária em 79 municípios da região amazônica, na comparação com o mês de agosto, quando 70 cidades registravam os efeitos da seca extrema.

Dos 144 municípios do Pará, por exemplo, 55 sentiram os impactos da estiagem no mês de setembro. Deste total, 22 municípios estão com mais de 80% das áreas agroprodutivas afetadas, e outros 20 tiveram entre 60% e 80% das áreas destinadas à produção agrícola e à pecuária comprometidas pelas consequências da seca extrema. A situação também é grave em Roraima, onde, segundo os dados do Cemaden, a estiagem prejudicou mais de 80% das áreas agrícolas de 13 dos 15 municípios do estado.

De acordo com a pesquisadora Ana Paula Cunha, do Cemaden, os números refletem a situação atual, mas os efeitos da seca extrema que atinge a região amazônica serão sentidos em janeiro, especialmente na agricultura familiar. Isso porque o plantio das safras de milho e feijão começaria agora, com o início da estação chuvosa. “Fizemos o mapeamento onde já há déficit de chuvas, mas as previsões indicam volumes abaixo do esperado nos próximos meses, o que deve comprometer as principais safras, que são milho e feijão”, explicou a pesquisadora.

O início da estação de chuvosa, entre novembro e dezembro, deveria elevar os níveis dos rios. Contudo, com previsões abaixo da média, alguns rios podem não atingir os níveis normais em 2023, alertou o Cemaden, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em comunicado.

No dia 27 de setembro, a estação de medição do rio Negro em Caricuriari registrou 3,37 metros – bem abaixo da mínima histórica para o mês, que é de 7,11 metros. Já o nível do rio Solimões baixou para 2,9 metros em Coari enquanto a mínima histórica já registrada para o mês de setembro é de 2,44 metros.

“Grande parte dos rios da região Norte, entre os estados do Amazonas e Acre, encontra-se com níveis muito abaixo da média climatológica”, alertou o Cemaden.

Os dados do Cemaden indicam que seca na Amazônia deve durar pelo menos até dezembro, quando o fenômeno El Niño atingirá a máxima intensidade. Desde o mês de maio, a região registra chuvas abaixo da média como consequência do inverno mais quente provocado pelo El Niño.

Segundo o Cemaden, o déficit de chuvas registrado entre julho e setembro no interior do Amazonas e no norte do Pará foi o mais severo desde 1980. Além deles, outros seis estados das regiões Norte e Nordeste enfrentam neste ano a pior seca em mais de 40 anos: Acre, Amapá, Maranhão, Piauí, Bahia e Sergipe. Os dados foram levantados inicialmente a pedido do site G1.

“Em grande parte do Amazonas, Acre e Roraima, observa-se uma anomalia de chuvas de -100 a -150 milímetros. Devido ao déficit acumulado de precipitação, a umidade do solo alcançou níveis críticos ao longo do mês de setembro”, informou o Cemaden.

Revista PIM Amazônia