Brasil pode ser mais ambicioso no corte de metano

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Por Nayara Machado / Epbr

Novo relatório do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) aponta que o Brasil pode reduzir suas emissões de metano em 36% até 2030 em relação aos níveis de 2020 e ir além do acordo voluntário assinado por cerca de 120 países em novembro passado, durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26).

Isso significa chegar a 2030 emitindo 13,75 milhões de toneladas de metano – ante as 20,2 milhões de toneladas em 2020 –, o que equivaleria a uma redução de 180 milhões de toneladas de CO2.

De acordo com as organizações ambientais que participaram do estudo, com medidas já existentes na agropecuária, no setor de energia, no saneamento e no controle do desmatamento, o país poderia cumprir com sobra a meta de 30% proposta no Compromisso Global do Metano.

“E com uma vantagem, empregando tecnologias e técnicas novas, principalmente para agricultura, por exemplo, que vão fazer o produtor rural produzir mais, ter um melhor rendimento e ao mesmo tempo reduzir as emissões de gases [do efeito estufa]”, explica Marcio Astrini, secretário-Geral do Observatório do Clima.

A organização calcula que, no longo prazo, o país poderia reduzir as emissões desse potente gás de efeito estufa em até 75%. Um percentual mais próximo do ideal indicado pela Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês).

Para isso, o país precisará de políticas mais profundas e maior investimento.

Em contrapartida, se continuar pelo caminho que vem trilhando até aqui, chegaremos a 2030 emitindo 7% a mais do que em 2020, ou 23,2 milhões de toneladas de metano. 

Zerar o desmatamento ilegal, eliminar gradualmente a deposição em aterros sanitários e aproveitar pelo menos 50% do biogás nos aterros são algumas rotas para cortar as emissões. 

No agro, o manejo dos dejetos animais, a eliminação da queima da palha da cana — já uma realidade no estado de São Paulo, maior produtor nacional —, o melhoramento genético do rebanho bovino e o abate precoce poderiam ajudar com o objetivo.

  • O metano (CH4) é o segundo maior responsável pelo aquecimento global – sua molécula esquenta o planeta 28 vezes mais do que uma molécula de dióxido de carbono (CO2) em um século.
  • Mas em um intervalo de tempo menor, seu impacto é ainda maior: em 20 anos, o potencial de aquecimento é de 80 vezes.

Quem é o Brasil na emissão de metano? Em 2020, a emissão de metano de atividades humanas somou 364 milhões de toneladas.

O Brasil foi o quinto maior emissor no ranking mundial, com 5,5% das emissões globais desse gás, ou 20,2 milhões de toneladas, segundo estimativa do SEEG. 

  • Vale dizer: o país também é o quinto emissor de gases de efeito estufa (incluindo também o CO2), mas sua participação é menor, com 3,3% do total de GEE lançado na atmosfera. 

Desse total, 72% (11,5 milhões de toneladas de metano) vêm da agropecuária, em particular as emissões da fermentação entérica do rebanho bovino (ou o “arroto do boi”).

Em segundo lugar está o setor de resíduos, com 3,17 milhões de toneladas, ou 16% do total. A forma como lidamos com o lixo e o esgoto responde pela maior parte delas.

Em terceiro, a queima de biomassa associada ao desmatamento, principalmente na Amazônia, emite cerca de 9% ou 2,7 milhões de toneladas de metano anualmente. 

Enquanto setores de energia (2,6%) e processos industriais (0,2%) respondem juntos por 3% das emissões brasileiras (616 mil toneladas por ano).

À espera do crédito de metano. Em março, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, assinou uma portaria criando o crédito de metano no Brasil, com a proposta de gerar receita adicional aos projetos de biogás e biometano, parte do programa Metano Zero.

A criação de um crédito específico para o metano é inédita no mundo e, embora o governo calcule que o título pode ser equivalente a até 23 vezes um crédito de carbono, ainda não está claro como será a metodologia ou o próprio funcionamento deste mercado.

Desde seu lançamento, o discurso do governo é de alinhamento com outros mercados de carbono. Está previsto inclusive no decreto que cria o mercado regulado de carbono no Brasil. Mas, até agora, é só isso: uma previsão.

Além de políticas claras, é preciso recursos. E a lacuna de financiamento é global.

Um levantamento da Climate Policy Initiative descobriu que o financiamento para medidas de redução de metano representou menos de 2% do total de fluxos financeiros climáticos, ou pouco mais de US$ 11 bilhões em 2019/2020.

Segundo o grupo, para viabilizar a meta de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o fim do século, os investimentos necessários na redução do metano são estimados em US$ 110 bilhões — dez vezes mais que o atual.

Além disso, os limitados fluxos de investimento não estão sendo direcionados para as geografias ou setores de maior potencial de redução.

Quase dois terços do financiamento de mitigação de metano foi direcionado para o setor de resíduos, enquanto 82% das emissões antropogênicas de metano originaram-se de atividades nos setores de combustíveis fósseis e agricultura.

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