Conheça a situação da BR-319 a rodovia que atravessa a floresta amazônica

A estrada federal é a única ligação por terra de Manaus com o restante do país e sua condição só piora ao longo dos últimos 30 anos

Por Renato Fonseca / Turboway

Qual a importância da BR-319? Ela é a única ligação terrestre de Manaus com o restante do país. Apesar disso, boa parte dela é de terra e parece mais um caminho rural do que uma rodovia. Em 2019, quando a equipe de reportagem atravessou a rodovia saindo de Porto Velho (RO) para Manaus (AM), achamos inacreditável que uma estrada no estado em que ela se encontrava poderia estar aberta livremente ao tráfego. Os desabamentos de duas pontes dias atrás tornam claro o descaso do poder público.

Imagem: Divulgação

Nas pontas a BR-319 é muito boa. No trecho entre Porto Velho e Humaitá (AM) – onde ela cruza com a Rodovia Transamazônica – e também na outra ponta, na chegada à Manaus ela é asfaltada e bem sinalizada. Já no meio há o trecho caótico de terra (barro, na verdade!) que se alonga por mais de 400 quilômetros.

Terrível e só acessível por veículos 4×4 em muitos trechos, no chamado ‘trecho do meio’ até é possível encontrar máquinas do governo trabalhando. Mas é um trabalho praticamente de ajustar o que será desfeito em seguida. Isso porque as chuvas no trecho de floresta são impiedosas. A água destrói e transforma tudo em lama novamente.

As pontes da BR-319 são as mesmas da década de 1970, quando a rodovia foi construída. Uma das que caiu no início de outubro já estava toda esburacada. Desde sua construção a BR-319 vem sendo deteriorada ano a ano e do poder público vem promessas sobre sua reconstrução completa.

Trecho do meio da BR-319 percorrido em “período de seca” na região Norte. Foto: Renato Fonseca / Turboway

Percorremos a BR-319 no mês de junho, mês considerado dentro do “período de seca” do clima amazônico. Neste período os ônibus partem normalmente na linha Porto Velho x Manaus. A viagem deveria durar 13 horas, mas pode durar 30, 40 ou até 50 horas, como foi o caso de um ônibus que cruzamos no caminho na época. Muitos atoleiros que se formaram após uma chuva na noite anterior.

Estávamos em três pessoas em uma Chevrolet S10 4×4 que enfrentou bem o sufoco. Em muitos trechos existem outros veículos atolados e há uma regra informal na 319: quem passa, ajuda o outro. E assim a viagem se estende por horas e horas.

A vista é, em muitos trechos, espetacular. Em outros, desolador. Coberta por floresta, é possível ver quem em muitos trechos a vegetação virou um “queijo suíço” por ações de madeireiros. Isso já pode ser visto no trecho inicial para quem sai de Humaitá.

Trecho de chegada à Manaus é interrompido pelo curso do rio Negro e ainda é feito com balsa por falta de uma ponte. Foto: Renato Fonseca / Turboway

Ao longo de mais de 800 quilômetros existem apenas duas bases da PRF. Uma em Humaitá e outra na chegada à Manaus – ambas no trecho de asfalto. Ao trafegar pela rodovia não encontramos qualquer viatura em patrulhamento.

Quem está no meio da rodovia tem que contar com a sorte ou com a ajuda de quem já conhece a rodovia. Outros motoristas informam os perigos pela frente. Há até grupo de Whatsapp que discute tudo o que acontece na rodovia, o problema é que é raro ter sinal de internet na estrada. O melhor, portanto, é se informar antes de sair dos trechos de asfalto.

O desabamento da ponte sobre o rio Curuçá no final de setembro é mais um capítulo na triste história da BR-319. Foram 4 mortos e 14 feridos, mas nada que possa ser chamado de fatalidade. Foi uma tragédia anunciada.

A ponte que caiu tinha uma cratera aberta na cabeceira. Foto: Reprodução / G1

A ponte tinha uma cratera antes de cair, como mostrou o G1 com fotos que rodaram os grupos de WhatsApp da região, e o poder público não estava lá para sinalizar.

Para quem está acostumado a rodar em trechos com boas rodovias, ao final da travessia nos restou a pergunta: porque viemos por este caminho? É terrível, é perigoso e é sofrível. Porém para quem precisa passar por ali as alternativas não são fáceis ou baratas: ou balsa pelo rio em um trajeto de até 7 dias ou por voo comercial.

Edição Tanair Maria

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