“Nós temos que fortalecer o modelo”

Wilson Luis Buzato Périco é paulistano, chegou a Manaus no ano de 1993 e é hoje um dos líderes empresariais do Polo Industrial de Manaus (PIM). Foi homenageado em 2008 com o Título de Cidadão do Amazonas (Lei Nº 3.314 de 21/Nov/2008), confessa ter aprendido a respeitar e amar a cidade e o Estado onde reside com a mulher Maria Célia Villas Boas e seus quatro filhos e netos. Formado em Tecnologia Eletrônica pela Universidade Mackenzie, Economia pela FIFASUL e especialização no UC Berkeley Center for Executive Education, destaca-se pelo conhecimento desenvoltura com que defende os interesses do PIM.

É 2º vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos Eletrônicos e Similares de Manaus (Sinaees) e ex-presidente do Centro da Indústria de Estado do Amazonas (Cieam). As ideias de Wilson Périco denotam a sua preocupação com o social, quando defende a formação de uma consciência de nossa responsabilidade em manter o que a natureza nos dá de geração, dar em troca à sociedade onde estes investimentos foram realizados, condições de evoluir cultural e socialmente, de forma digna, com empregos saudáveis, algo de que o indivíduo tenha orgulho de se realizar.

Em entrevista exclusiva concedida a Revista PIM Amazônia, Périco faz um breve relato do período em que esteve no comando do Cieam e a decisão de entrar para a política em ano de eleições gerais polarizadas, ele diz ter certeza daquilo que não quer para o País. Boa leitura!

Foram quase dez anos como presidente do CIEAM, qual o balanço que o senhor faz desse período?

Em dez anos, nós resgatamos o protagonismo do Centro da Indústria, que hoje é referência quando se fala de Zona Franca no Brasil. Toda a imprensa quando quer alguma informação sobre a Zona Franca procuram o Centro da Indústria. Nós fizemos um trabalho, logo nos primeiros anos, que foi o único até hoje com comprovação consciência econométrica dos acertos da Zona Franca, que foi aquele trabalho contratado junto a Fundação Getulio Vargas. E, um segundo trabalho mostrando quais seriam as possíveis soluções e encaminhamentos para o futuro da atividade socioeconômica do nosso Estado, também junto com a FGV. E aí me traz os momentos recentes, foram tantas as coisas que fizemos, tantos embates em Brasília, em São Paulo, participar de debates dentro do TCU da própria Folha de São Paulo.

Qual o principal destaque durante a sua gestão no CIEAM que contribuíram para as indústrias do Polo Industrial de Manaus?

O que me traz mais recente foi a atuação do Centro da Indústria nesse momento que nós passamos da pandemia. O Centro da Indústria conseguiu congregar todas as indústrias, inclusive as não associadas, para ajudar a enfrentar esse momento. Foi um trabalho grande usando a expertise dessas empresas para produzir os EPIs para as equipes e saúde; tentar desenvolver aqui o respirador; alimentação para os hospitais de campanha; o oxigênio logo depois e o auxílio que continua sendo prestado para as famílias que sofreram durante a pandemia, os órfãos da pandemia. Foram centenas de toneladas de alimentos que foram arrecadados e roupas que nós conseguimos. Inclusive, ajudar o Acre naquele momento de cheia, também ajudamos a Bahia naquele momento das chuvas e isso tudo num trabalho que foi resgatado no sentimento de solidariedade durante esse momento de pandemia e o Centro da Indústria não se furtou a isso.

O que o senhor gostaria de ter feito como presidente do CIEAM e que não foi possível realizar?

A nossa relação com os poderes municipal, estadual e federal não só aqui na Suframa, mas com os ministérios que tem ligação com a nossa região, os presidentes da República que passaram durante a minha gestão, Lula depois Dilma, o Temer e agora o Bolsonaro, nós sempre tivemos uma abertura de diálogo e aqui no Governo do Estado idem. Isso tudo, para somar esforços para enfrentarmos os desafios que o modelo tem, os constantes ataques e essa insegurança jurídica que ainda paira. Eu entendo que essa é uma frustração que todos nós carregamos em não conseguir, de uma maneira contundente, dar a segurança jurídica para os investimentos daqui, assegurando tranquilidade dos empregos que esses investimentos geram para a nossa região e para o país. Não são discussões técnicas, todas essas decisões são políticas e quando se está no meio político perde-se a força da tecnicidade.

“Esse foi o Estado que mais contribuiu com a balança comercial na época do extrativismo”

Nessa nova jornada, entrando para a política e já como pré-candidato nas eleições de outubro, qual será o principal objetivo da sua plataforma? Vai continuar na defesa do Modelo Zona Franca de Manaus?

Eu discuto o Modelo Zona Franca em qualquer lugar desse país, com qualquer pessoa. Conhecendo as virtudes, os acertos e como Estado, também reconhecer que não podemos repetir os erros do passado. Lá atrás, esse foi o Estado que mais contribuiu com a balança comercial na época do extrativismo, porém ninguém se preocupou em atrair para cá as indústrias que produziam os produtos, utilizando-se daqueles insumos, na época da borracha e também não se preocupou em trazer a modernização tecnológica para aquela atividade. Até hoje, continuamos fazendo da mesma forma que fazíamos lá atrás. Depois da segunda guerra mundial nosso Estado entrou numa depressão socioeconômica forte que foi superada com o advento do Modelo Zona Franca calcado, principalmente, no Comércio e na Indústria.

O Comércio nos anos 90 com uma canetada o governo Collor abriu o mercado brasileiro e acabou com aquele comércio e com os empregos que nós tínhamos no centro da cidade. Nós não podemos ter a utopia de achar que a Zona Franca, com a atividade industrial que aí está, vai continuar dando a sustentação socioeconômica para o nosso Estado que já deu e dá hoje. Então, nós precisamos sim desenvolver novas atividades, novas matrizes econômicas olhando as potencialidades do Estado e isso é algo que me frustra porque nós não conseguimos ainda desenvolver.

Tem muita coisa no papel, muita ideia, todo mundo sabe de um monte de coisas só que não conseguimos avançar. A mineração está travada; a questão do bionegócio está travado; nós falamos da fruticultura, da piscicultura que praticamente inexiste no nosso estado, e são assuntos que nós precisamos urgentemente resolver. Para mim seria uma oportunidade de continuar nessa batalha, agora fazendo a política mais do portão para dentro. Até então, eu sempre atuei do portão para fora da política e seria uma oportunidade de eu estar tentando destravar, ajudar o governo do estado, principalmente, a equalizar essas questões para que nós possamos deixar de ser tão dependentes do modelo.

O estado deixar de ser tão dependente como somos hoje da capital na geração de riqueza e renda e deixarmos de ser dependentes e reféns de Brasília.  É o que eu espero poder fazer, se isso for o melhor para mim, para minha família e para o Estado, se as pessoas assim entenderem, para eu poder continuar atuando dessa forma.

O que esperar da Zona Franca de Manaus até 2073?

Nós temos que fortalecer o modelo, que nada adianta te a prorrogação até 2073, se nós perdermos as vantagens comparativas que temos e se nós não tivermos condições de atrair novos produtos, novo segmentos que hoje não são produzidos aqui, porque a própria inovação tecnológica vai prejudicar, não a questão econômica, mas os empregos. Porque, mais e mais a automação é empregada nos produtos produzidos aqui, isso reduz o nível de emprego e nós temos que olhar o modelo Zona Franca, principalmente com a contra partida social que ele tem que são os empregos e esse é um grande desafio.

Não só fortalecer o Modelo Zona Franca, para continuar atraindo investimentos, para isso que nós fazemos aqui em Manaus, mas se aproveitar dessa prorrogação e o que ela nos dá de sustentação econômica e social para desenvolver as atividades, além dos muros da capital. Nós temos muitas coisas que podemos fazer com as potencialidades já mapeadas no nosso Estado e isso é tarefa nossa, é lição de casa, não dependemos de Brasília para isso. Nós dependemos de vontade política, e força, inteligência para desenvolver tudo isso e tirar o Estado dessa situação de constate alerta e risco por conta dessa insegurança jurídica que temos.

Sobre a recente decisão do Governo Federal que, através do DNIT, publicou uma portaria passando a administração do trecho do meio da BR-319 para Rondônia, qual a sua opinião? Será que dessa vez aquele trecho vai ser devidamente pavimentado, já que há interesse do estado vizinho em escoar sua produção para o Amazonas e vice-versa?

Com relação a decisão do Dnit, o problema não é quem encabeça, mas são as licenças ambientais para pavimentar a BR-319 e, nisso também temos que ter força, habilidade e persistência para obter essas licenças e pavimentar aquele trecho de 400 quilômetros que permitirá essa estrada ser trafegável durante todo o ano. Faz mais de 20 anos que nós discutimos sobre isso e ainda não conseguimos. Vamos ver se a gente consegue.

Qual a sua expectativa para as eleições 2022 e seu posicionamento sobre o voto auditável?

As eleições desse ano eu vejo uma polarização muito grande. Isso é muito ruim para o país, porque não vemos construção, vemos ataques ao ponto das pessoas radicalizarem a opinião contrária à delas. Eu tenho comigo, convicção daquilo que eu não quero. Aquilo que nós já passamos e tudo aquilo que foi exposto para a sociedade das gestões anteriores, eu penso que o Brasil não merece e nós como sociedade não merecemos isso se repita. Eu tenho certeza daquilo que eu não quero. O que mais se aproxima daquilo que eu entendo ser o melhor para o País é a atual gestão, que pese os problemas que tem causado ao Modelo Zona Franca, mas nós temos que olhar nessa questão do País como um todo e trabalharmos com inteligência na excepcionalidade do nosso modelo, dentro deste contexto de País.

É um desafio grande, eu não concordo com medidas que foram tomadas com relação ao nosso Modelo, mas é muito difícil pensar numa gestão federal que particularize o nosso Modelo, sem que nós também façamos o nosso dever, a nossa lição de casa. Nós temos que ter uma estratégia de melhorar nossa interlocução com o Governo Federal. Termos mudança de atitude com altivez do tamanho desse Estado. Nós não somos o patinho feio dessa história, ninguém está pedindo favor, estamos pedindo respeito e apresentar a todos, a Zona Franca que nós conhecemos.

Nós não podemos permitir que pessoas que nunca pisaram aqui, queiram decidir os rumos e o futuro do nosso Estado sem que nós participemos dessa construção. Isso é mudança de atitude nossa também, que nós precisamos ter isso na nossa agenda.

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